Brasil rumo
ao colapso e a necropolitica de Bolsonaro
O termo “necropolitica”, ou “política da
morte”, foi popularizado pelo filósofo, historiador e professor universitário
camaronês, Achille Mbembe, e designa sobretudo as formas de genocídio social
por parte do Estado, contra o exército de reserva de trabalhadores considerados
“sobrantes”, na ótica assassina da acumulação capitalista. Ou seja, estamos
falando das parcelas mais empobrecidas da classe trabalhadora na
contemporaneidade neoliberal, expulsas do mercado de trabalho pelos efeitos das
revoluções industriais e tecnológicas e sem condições de serem inseridas
produtivamente na lógica do capital em declínio, portanto, população
“excedente”, de acordo com os critérios do “deus” mercado.
O avanço do vírus covd-19 no Brasil, que
segundo o ministério da saúde já contagiou 30.425 e matou 1.924 pessoas, tem
deixado escancarado até para os mais ingênuos, o real caráter genocida do
capitalismo brasileiro, agravado pelo governo do proto-fascista Jair Bolsonaro.
Na prática, a classe dominante brasileira, de passado escravocrata e
abertamente criminoso, mantém intocado seu espírito tacanho, assassino e servil
aos interesses do capital imperialista estrangeiro.
O governo Bolsonaro é a expressão mais
acabada da burguesia semicolonial brasileira, que sacudida pelo terremoto da
crise mundial do capitalismo e pelo avanço sem controles do vírus letal,
planeja exterminar uma porção enorme dos seus escravos modernos, que podem ser
substituídos nos armazéns do exército de reserva operário. O número de
desempregados no Brasil atinge mais de 12 milhões de pessoas e os subempregados
(desempregados disfarçados) somam mais de 38 milhões de seres humanos (G1,
31-03-2020).
A sabotagem contra o isolamento social
devido ao coronavirus, levado adiante por Bolsonaro, significa que os
capitalistas “brasileiros” preocupados com seus lucros, planejam um verdadeiro
extermínio em massa da população. A troca promovida por Bolsonaro no ministério
da saúde, substituindo seu ex-amigo Luiz Henrique Mandetta, pelo mercador de
doenças Nelson Teich, sinaliza que nos próximos dias a quarentena pode ser
afrouxada, o que se concretizada, resultará num colapso sanitário e social no
país inteiro.
Nelson Teich, empresário do setor de saúde
suplementar, possui grandes afinidades ideológicas com o capitão miliciano. Num
vídeo no site Oncoguia de 2019, Teich deixa patente seu viés malthusiano,
completamente alinhado com o que representa o governo Bolsonaro, quando discute
sobre quem tem “direito a viver ou morrer” num sistema de saúde, de acordo com
a lógica do dinheiro. Para Teich, diante de uma suposta situação envolvendo os
cuidados entre um jovem e uma pessoa idosa, a última deveria ser deixada para
morrer, pois segundo ele não é mais “produtiva” e rentável quanto a jovem. O
comentário do agora ministro da saúde bolsonarista não deixa de acender um
alerta sobre o que planeja Bolsonaro e os capitalistas para o povo brasileiro
nos próximos dias:
“Pra ela [pessoa
idosa] melhorar eu vou gastar praticamente o mesmo dinheiro que eu vou
gastar pra investir num adolescente que tá com um problema. […] Só
que esta pessoa é um adolescente que vai ter a vida inteira pela frente e a
outra é uma pessoa idosa, que pode estar no final da vida”.
Tal fala é simplesmente estarrecedora e
pela lógica macabra do agora ministro, toda a população idosa do Brasil—mais de
30 milhões de pessoas—corre sérios riscos de serem deixados à própria sorte.
Bolsonaro aliás, bem recentemente,
declarou ao vivo no programa de seu amigo direitista José Luiz Datena, que
“cada um deve cuidar de seus idosos” e que o “Estado não tem obrigação nenhuma”
com essa parcela da população brasileira; uma lógica criminosa e genocida, que
diga-se de passagem, é defendida por toda a burguesia mundial.
As classes dominantes brasileiras agem na
prática como bons urubus, sobretudo os criminosos do sistema financeiro,
aproveitando-se dos efeitos que o choque psicológico do coronavirus trouxe à
população, sistematizando todo um conjunto de ataques e pilhagens, como o
aprofundamento da reforma trabalhista, recrudescimento do assalto aos fundos
públicos, benesses aos empresários, etc., enquanto empobrece ainda mais os
trabalhadores e os colocam diante do risco de morte pelo contágio da pandemia
viral.
Uma verdadeira “política da morte”
(necropolitica), estamos presenciando no Brasil de Bolsonaro, marcado pelo
acirramento sem precedentes da crise capitalista, que ameaça levar o país à
barbárie.
Diante da traição vergonhosa por parte dos
sindicalistas vendidos, é preciso articular diretamente nos locais de trabalho,
nas universidades, escolas, nas favelas e bairros periféricos, comitês de
emergência visando garantir o abastecimento de alimentos e outros insumos
necessários à população; e organizar a luta direta contra os ataques dos
capitalistas numa grande campanha de mobilização, que comece nos bairros e
cidades, espalhando pelo país.
Os trabalhadores brasileiros não podem
aceitar serem buchas de canhão para a burguesia. Diante da iminente quebra ou
afrouxamento do isolamento (isolamento que deve ser estendido a todos os
setores não essenciais, além de que, condições de segurança devem ser
garantidas a todos os trabalhadores em operação no país), que sem dúvida
levaria o povo pobre à mortandade extremada, defendemos a organização de uma
greve geral radical no país.
Somente os trabalhadores organizados podem barrar o
verdadeiro colapso e caos social que se anuncia no horizonte e ameaça a própria
sobrevivência das parcelas mais empobrecidas de nossa classe.
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Nasce preocupado com os caminhos do proletariado em geral, porém, especialmente, com o brasileiro