*MAS
O QUE É FASCISMO?*
Toda
vez que chamo o governo Bolsonaro ou algum de seus apoiadores mais raivosos de
fascista, surge alguém me indagando: "O que é fascismo pra você?" ou
"Defina fascismo".
O
objetivo é conhecido: quando eu citar algumas das características marcantes do
fascismo, o bolsomínion apresentará os aspectos neoliberais do bolsonarismo
para tentar descolá-lo do fascismo. Jogada manjada. Abaixo trarei algumas
definições de fascismo e depois sua relação com o bolsonarismo.
*Fascismo
foi um movimento político-ideológico originalmente italiano dos anos 1920*, mas
que não se restringe aquele país e época. O nazismo alemão, por exemplo, é
tratado em alguns livros de História como nazifascismo justamente por suas
similaridades com o fascismo italiano. Hitler, aliás, era fã de carteirinha de
Mussolini. O nazismo, porém, tem um conteúdo racial que no fascismo não é tão
marcante, embora exista também.
*O
fascismo é conservador*, reacionário e anti-esquerdista ou anti-comunista. É
evidentemente de extrema direita. A base social do fascismo é uma classe média
em épocas de crises econômicas. Não são diretamente das elites, mas sua
serviçal. O fascista é o cão de guarda raivoso do burguês. Não pertencem
propriamente à burguesia, mas protegem-na caninamente. Não se enxergam como
trabalhadores.
*O
fascismo tem um discurso populista de direita*. Seu papel é reprimir a classe
trabalhadora e surbodiná-la aos patrões. O fascista odeia greves e sindicatos
livres. Permite, no máximo, sindicatos patronais ou pelegos, isto é,
controlados pelo Estado, que por sua vez é submisso e está a serviço das
elites.
*O
fascista tem um discurso moralista*. Odeia o intelectual, o artista, as
universidades, o jornalismo livre, os cientistas e o estudante questionador
(diferente do agitador amalucado...). Geralmente são religiosos
fundamentalistas. Assim como crêem num líder único, acreditam que este líder
serve a um deus único, vendo as demais crenças como falsas e a descrença como
uma ofensa mortal. O deus do fascista lembra um delegado de polícia truculento
dos anos 1970.
*Exaltam
o operário que não contesta*. Por serem pró-militaristas, a sociedade ideal do
fascista é aquela onde as escolas, as fábricas, o cinema, enfim, tudo lembre um
quartel, com todo mundo pensando igual, agindo igual, enfileirados, mas com
aquela disciplina rígida e hierárquica, onde o soldado obedece o cabo, que
obedece o sargento, que por sua vez obedece o sub-tenente, tenente, capitão,
coronel, general, presidente... até chegar a Deus.
*Demonstram
um esquisito e intrigante fascínio por armas de fogo e uniformes*, num fetiche
sadomasoquista indisfarçável. Existem muitas mulheres fascistas, ainda que o
predomínio seja um universo masculino. Reuniões de machos que se acotovelam
para vibrar, gritar e bajular o macho alfa o qual têm por líder. Já a mulher
fascista é machista. O negro, contra qualquer movimento negro vindicatório. O
gay fascista, geralmente enrustido, detesta o defensor das causas LGBTQ etc.
Defendem que todos sejam mudos e saibam "colocar-se em seus devidos
lugares" de sujeição e invisibilidade social.
*Fascistas
são nacionalistas chauvinistas*. Seu discurso patriótico exacerbado chega a ser
caricato e até ridículo, mas que tem por objetivo fazer o cidadão comum não
perceber as divisões classistas e as desigualdades sociais. Já que
"estamos no mesmo barco, não podemos brigar uns com os outros".
Machismo, racismo, homofobia, elitismo, nada disso existe ou são formas
"artificiais" e anti-patrióticas de dividir a Pátria (com P
maiusculo).
*O
fascista cultua grandes líderes messiânicos e salvadores da pátria, machões,
autoritários e valentões, que devem conduzir a nação rumo a um futuro
restaurador de um passado por eles romantizado*. É contra a modernidade. Querem
fazer voltar uma época dourada que só existe no negacionismo, na leitura
enviesada e na ignorância deles.
*Fascistas
geralmente criam um bode expiatório* que tornam o inimigo nacional, a quem
jogam toda a culpa pelos males da nação e do mundo. Geralmente é o comunista,
mas também pode ser o judeu, os iluminatis ou qualquer outro personagem de suas
teorias conspiratórias.
*Fascistas
babam ódio*. Adoram odiar algo ou alguém. Seu discurso é sempre violento. O
ideal de homem para eles é o macho viril, de poucas palavras e muita atitude: o
brucutu pé na porta, jamais o diplomata, democrata. O sujeito que fala alto,
berra na cara, não dialoga, negocia nem demonstra fala calma e tranquila. Não
tem apreço pelo contraditório. Uma das maiores características do fascismo é
que ele visa eliminar quem dele discordar minimamente. Debater com um fascista
é como tentar manter um diálogo racional contra alguém que no fundo quer te
matar.
*Fascistas
adoram ditaduras*, de direita obviamente, e detestam democracias,
considerando-nas fracas, permissivas, degeneradas, promíscuas, burocráticas
demais. Detestam os trâmites das leis. A "Justiça" do fascista é
rápida, implacável, impiedosa e draconiana. Confundem Justiça com vingança.
Obviamente não tão dura assim quando trata dos amigos. A indignação moralista
deles é seletiva: "Aos amigos as benesses da lei, aos inimigos os
malefícios da lei. E aos neutros, a lei". Linchamentos, torturas,
assassinatos são praxes muitas vezes mal-disfarçadas ou mesmo reconhecidas e
louvadas por eles. Os Direitos Humanos "só servem para proteger
bandidos". "Bandido bom é bandido morto", desde que seja o
bandido pobre. E os juizes, promotores, advogados, delegados, guardas, etc
fundem-se na visão rasa do fascista na figura do carrasco.
*Fascistas
diferenciam-se entre si*. Não são totalmente e sempre iguais. Como dividem-se
em grupos de haters, às vezes brigam uns com os outros. E por mais fascistas
que sejam os dissidentes, recebem imediatamente a pecha de
"comunistas". Por isso João Dória, Rodrigo Maia, Rede Globo, Folha de
São Paulo, Alexandre Frota, Joice Hasselman, Reinaldo Azevedo, Lobão, Nando
Moura, Rachel Sheherazade, Kim Kataguiri e tantas outras figuras também de
direita passam a ser acusados de "comunistas" apenas por não
concordarem com as trapalhadas do governo dos fascistas.
*Em
Portugal, os fascistas eram salazaristas*. Na Espanha, franquistas. Na
Alemanha, nazistas. No Chile, pinochetistas. E no Brasil resta alguma dúvida de
que o bolsonarismo não se enquadre, ao seu modo e contexto, nestes quesitos?
*Hemerson
Ferreira é mestre em História*
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Nasce preocupado com os caminhos do proletariado em geral, porém, especialmente, com o brasileiro