segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Por que a extrema direita adora Nietzsche * ERIK BAKER/JACOBIN

Por que a extrema direita adora Nietzsche
ERIK BAKER/JACOBIN

Friedrich Nietzsche. Fotografia da série “Der kranke Nietzsche“ ("O Nietzsche Doente"), por Hans Olde, entre junho e agosto de 1899. Foto original em Goethe- und Schiller-Archiv Weimar, GSA 101/37. Wikimedia.

Por que a extrema direita adora Nietzsche
POR ERIK BAKER
TRADUÇÃO
GABRIEL CARVALHO

A crítica de Nietzsche à modernidade tem fascinado pensadores à direita e à esquerda - mas em sua essência, ela pertence à direita. A esquerda precisa promover uma modernidade alternativa.

Nossa quinta edição impressa "SOCIALISMO NO NOSSO TEMPO" já está disponível. Adquira a sua revista em nosso plano anual ou compre ela avulsa.

Resenha do livro de Ronald Beiner, Dangerous Minds: Nietzsche, Heidegger, and the Return of the Far Right [“Mentes Perigosas: Nietzsche, Heidegger e o retorno da extrema direita”, em tradução livre]. (University of Pennsylvania Press, 2018).

Friedrich Nietzsche pensava que havia duas formas de responder ao que ele chamava de “eterno retorno de todas as coisas”. Esta era a ideia de que, como afirmou em A Gaia Ciência, “esta vida como você agora a vive e tem vivido, você terá de viver mais uma vez e mais inúmeras vezes”. Se você fosse um fraco e típico humano, poderia “jogar-se ao chão e ranger seus dentes e amaldiçoar o demônio que o disse”. Mas haveriam outros espíritos, maiores e mais fortes, que poderiam elevar-se acima do rebanho, fitar aquele mesmo demônio nos olhos, e responder: “És um deus e nunca antes ouvi nada mais divino”.

Uma certa dose do amor fati Nietzscheano é necessária para a tarefa a que se propôs o teórico político Ronald Beiner em seu novo livro, “Mentes Perigosas: Nietzsche, Heidegger e o retorno da extrema direita”. Seu tema é a relação entre, por um lado, Nietzsche e o filósofo alemão do século 20, Martin Heidegger, e por outro o Nazismo — uma questão de conscrição póstuma no caso de Nietzsche, e de intensa admiração mútua no caso de Heidegger. Beiner quer demonstrar que a política de extrema-direita já estava misturada no bolo de suas filosofias. Como resultado, tentativas pós-modernas de dar forma a um “Nietzscheanismo de esquerda” ou um “Heideggerianismo de esquerda” estariam condenadas a sair pela culatra.

Nós já vivemos, de fato, essa polêmica, antes e a viveremos mais uma vez, talvez inúmeras vezes mais. É um território já explorado por uma gama impressionante de filósofos e historiadores intelectuais: Georg Lukács, Jürgen Habermas, Zeev Sternhell, Richard Wolin e muitos outros. E Beiner recorre a muitos de seus predecessores ao longo de Mentes Perigosas.

Mas ele tem um toque a acrescentar, um novo elemento que lhe dá esperança de que sua crítica será bem-sucedida onde a outros não foram dados ouvidos. Críticos anteriores, observa ele, focaram na questão de como as visões de direita de Nietzsche e Heidegger devem moldar nossa avaliação de seus acólitos de esquerda, hoje. Porém, ao focar tão tenazmente nos “radicais titulares”, estes críticos parecem inferir que o Nietzscheanismo ou Heideggerismo conscientemente de direita seria uma coisa do passado.

Talvez, os polemistas do passado não foram bem-sucedidos pois concederam, sem perceber, um terreno chave aos seus oponentes. Afinal, se é verdade que o leitor típico de Nietzsche ou Heidegger hoje é de esquerda — se as visões de extrema-direita dos próprios pensadores forem compreendidas como uma aberração, rápida e permanentemente corrigidas cedo na história subsequente da recepção à sua obra— então a afirmação de que haveria algo de intrinsecamente reacionário em sua filosofia de fato parece um tanto implausível.

É o descontentamento de Beiner com essa premissa histórica o que explica a última parte do seu subtítulo: o retorno da extrema-direita. Beiner quer mudar sua imagem do típico Nietzscheano, ou Heideggeriano, alistando o ressurgimento fascista mundial atual e seus porta-vozes pseudointelectuais: Richard Spencer, Aleksandr Dugin, e seus aliados (todos leitores apaixonados de Nietzsche e Heidegger).

Sua aposta é de que acadêmicos de esquerda ficarão menos empolgados com a expectativa de reaproveitar Heidegger e Nietzsche se estes nomes passarem a conjurar imagens de multidões com tochas, como as da manifestação Unificar a Direita em Charlottesville, reproduzidas na capa do livro, ao invés de seminários e cafés parisienses.

Não questione, só faça!

Trata-se de uma estratégia  criativa e promissora —  e uma decepção, já que Beiner não lhe dá continuidade após a introdução do livro. A vasta maior parte do livro é dedicada à exegese textual de Nietzsche e Heidegger. Os títulos de seus dois longos capítulos, “Lendo [Nietzsche/Heidegger] numa era de Fascismo ressurgente”, terminam por ser decepcionantemente literais. Os capítulos de fato são leituras; não são sobre leituras, ou leitores. Com exceção de umas poucas frases ou parágrafos aqui e ali, poderiam ter sido escritos em praticamente qualquer época.

O lado bom é que as leituras de Beiner são cristalinas, acessíveis, e convincentes. São compreensíveis para os leitores iniciantes de Nietzsche ou Heidegger, sem sacrificar fidelidade textual ou sofisticação. Ambos capítulos fazem uma sólida defesa daquilo que Beiner toma como a preocupação central motivando cada filósofo. Estas análises sublinham o quanto eles têm em comum e quanto suas semelhanças refletem suas visões partilhadas de extrema-direita.

Nas mãos de Beiner, Nietzsche e Heidegger tornam-se, primeiramente e acima de tudo, críticos culturais reacionários. Seu projeto se origina de um uivo de desprezo pelo mundo moderno, e especialmente os ideais da Revolução Francesa. Liberdade, igualdade e fraternidade seriam uma catástrofe; o que se anunciava como emancipatório, teria se provado espiritualmente fatal. A ênfase do Iluminismo na democracia e na racionalidade humana inata teria parido uma epidemia de mediocridade arrogante, com pessoas ordinárias superestimando enormemente sua capacidade de raciocinar, conhecer as coisas, e usar seu conhecimento para melhorar o mundo. Uma sociedade de massa na qual toda distinção fosse nivelada, seria também uma em que se perdeu o senso do trágico, de um mundo que precisa ser aceito ao invés de transformado. Precisaríamos de uma nova autoridade, uma capaz de revitalizar nossa cultura e de restaurar a ordem, cuja ausência estaria aleijado o espírito moderno. Seria preciso quebrar alguns ovos para se fazer um omelete existencial.

Para Nietzsche, escreve Beiner, a raiz do problema seria a “falta de horizonte” da modernidade. Nietzsche é, muitas vezes, entendido por amigos e inimigos como um profeta da desestabilização de todas as certezas fixas — valores, religiões, fatos, a própria noção de verdade. Beiner mostra que, se Nietzsche era tal profeta, era mais aos moldes do Velho Testamento do que de palestras estilo TED Talk. Ou, talvez, aos moldes do velho esquisitão no começo de um filme de terror.

Nietzsche pensava, de fato, que todas essas convicções orientadoras careciam de “fundamento” — mas ele também pensava que era necessário que abraçássemos algum tipo de “horizonte”, de qualquer maneira. Sem horizontes não poderíamos agir, ou agir de forma suficientemente vigorosa, em uma “afirmação da vida”.

Nossos horizontes já careciam de fundamentos antes da modernidade. Só que numa era de paganismo, patriarcado inquestionável, e teatro trágico, ninguém se estressava muito por isso. O mundo moderno mudou tudo isso, ao levar a preocupação Platônica e Cristã com a metafísica a um ponto febril. Começamos a duvidar até de nós mesmos e a buscar razões para fazer as coisas ao invés de só “virar homens” e fazê-las.

Em um dos primeiros textos que Beiner cita, Nietzsche descreve a consequência, o homem moderno que “não mais consegue desprender-se da delicada teia de judiciosidade e verdade por um simples ato de vontade e desejo”. A esperança redentora de Nietzsche são os famosos Übermenschen (os “super-homens”), os indivíduos que poderiam nos salvar ao resistir ao “niilismo” moderno e exercitar a força necessária para criar seus próprios e novos horizontes — aos quais o resto do rebanho moderno poderia alegremente se submeter.

Beiner insiste que é importante não deixar que as extensas e ambivalentes observações de Heidegger sobre Nietzsche obscureçam até que nível ele buscava contar uma história surpreendentemente similar sobre a modernidade. Sim, Heidegger, no fim das contas, concluí que Nietzsche representa o “ponto culminante” da metafísica e não a sua superação. Sim, eles diferem em várias questões específicas — se o Renascimento foi bom, por exemplo. Nietzsche rejeita explicitamente o nacionalismo alemão que Heidegger defendia.

Mas, como escreve Beiner, no geral “os paralelos entre Nietzsche e Heidegger são, de fato, impressionantes”. Em particular, eles partilhavam o mesmo diagnóstico: uma visão da modernidade onde a experiência tornou-se rasa e banal pela sufocante hegemonia da metafísica Platônica e Cristã, do racionalismo, e do universalismo.

Para Heidegger, como para Nietzsche, a modernidade seria cega ante a nossa mais básica existência como fazedores mais do que como sabedores. E, como Nietzsche, Heidegger pensa que o resultado é excesso de confiança e falta de confiança ao mesmo tempo. Seríamos pouco confiantes nas pressuposições que tomamos como dadas e que nos permitem navegar o mundo no dia-a-dia — nós as sujeitamos à crítica racionalista; assumimos que elas ficam entre nós e uma compreensão precisa do mundo, quando elas seriam, na verdade, a única forma em que o mundo nos é “revelado”.

O resultado seria um excesso de confiança no entendimento do mundo produto de nossa reflexão racional, e uma fé arrogante em nossa habilidade de planejar e controlar toda e qualquer coisa. Heidegger preferiria que respondêssemos às avarias em nossa capacidade prática entrando em uma experiência mais “autêntica” de nossa limitação e “enraizamento”, nos maravilhando com o incompreensível mistério do “Ser”  —  o mistério de que o nosso mundo é.

A grande aspiração de Heidegger para como alcançar a recuperação desse enraizamento espiritual na Alemanha foi, é claro, o movimento nazista. O potencial da liderança Nazista de guiar os alemães de volta ao Ser foi o que Heidegger chamou de “verdade e grandeza interior” do nazismo. Beiner sintetiza a imensa quantidade de evidências que vieram à luz sobre o nível da fidelidade de Heidegger ao partido Nazista, sua admiração pessoal por Hitler, e, a contragosto da insistência de uma geração de apologistas, seu profundo antissemitismo.

A análise de Beiner deixa nítida, de uma maneira que críticos anteriores nem sempre tiveram sucesso em fazer, a lógica do antissemitismo de Heidegger. A carapuça serve. Não é apenas uma questão de reavaliar “aspectos” da filosofia de Heidegger, nem sobre enfrentar a “ética” acerca da apreciação da obra de uma pessoa realmente terrível. Beiner demonstra que toda a filosofia de Heidegger brotou de uma narrativa – uma narrativa sobre cosmopolitismo desenraizado orquestrando desenvolvimentos políticos perturbadores na União Soviética e nos Estados Unidos, e alienando o Volk [povo] alemão da experiência autêntica. Como é que pode ter chegado a ser difícil vê-lo por aquilo que ele realmente foi?

Sem alternativa

Esta não é, no entanto, exatamente a questão que Beiner propõe. Ele está mais interessado no porquê de Nietzsche e Heidegger terem achado suas próprias visões atraentes, para início de conversa. “Devemos ler os grandes teóricos antiliberais”, ele propõe, “para podermos chegar a uma compreensão mais profunda do porquê, precisamente, eles viram as costas para o liberalismo burguês e, portanto, por que muitos de nossos concidadãos são facilmente tentados a fazer o mesmo”. O problema é que, ao assumir que a explicação poderia ser encontrada dentro dos textos em si, Beiner os leva por demais em conta, acenando com uma sociologia da reação que se dá nos termos dos reacionários.

Como resultado, em sua conclusão, Beiner parece fazer uma desconcertante reviravolta em sua insistência anterior de que a lógica da visão de mundo de Nietzsche e Heidegger levam inexoravelmente à catástrofe política. A razão de tanta gente ser atraída pelo seu diagnóstico da modernidade, ele agora anuncia, seria que esse diagnóstico está basicamente correto. Realmente, haveria “um vazio espiritual no coração da modernidade”, e a tarefa do liberal democrata seria defender a modernidade apesar da esmagadora evidência de sua “vacuidade espiritual ou cultural”.

Não é para Beiner a observação de Jürgen Habermas de que a modernidade permanece um “projeto inacabado”, realizável apenas sob certas condições materiais, nem a insitência de Charles Mills, de que os valores Iluministas de igualdade e liberdade podem, sim, ser atualizados, mas apenas ao confrontar as formas pelas quais a supremacia branca estruturou o pensamento Iluminista desde sua origem.

Não, o argumento final de Beiner é o mesmo de Margaret Thatcher: não há alternativa. “Portanto, o gerencialismo centrista liberal é insatisfatório”, admite. “Não é inspirador o suficiente. Não move a alma. É banal; é a política do “último homem” [ para Nietzsche, o homem comum, antítese do seu super-homem]. Tudo bem. E com o quê mais deveríamos nos comprometer para substituí-lo?” Como se o gerencialismo centrista liberal fosse tudo que a modernidade foi ou poderia ser!

Ao chegar às últimas páginas, o erro fatal de Nietzsche e Heidegger não é mais seu desgosto imediato pela razão, igualdade e democracia, mas a sua tola presunção de que os problemas com esses valores (que eles teriam corretamente identificado) poderiam ser sanados. “É a esperança e arrogância deles que é perigosa”, escreve  Beiner — sua traição de última hora de seu próprio compromisso com a tragédia e o amor fati. “Quem nos deu garantia de que o problema da condição humana admite uma solução?” Beiner termina por questionar. Ele abraça o “ou isso, ou aquilo” Nietzscheano e Heideggeriano por completo: ou o delírio dos Übermenschen e do Nacional-Socialismo, ou a ordem política atual, eternamente inalterada.

Beiner nunca chega, explicitamente, a um reconhecer e lidar com o fato de que ele termina por endossar um centrismo Nietzscheano, ou o quanto ele retrocede no objetivo a que se propõe na introdução do livro. Todavia, ele de fato sublinha o pedigree Nietzscheano de Max Weber, seu grande modelo de um liberalismo trágico, e pouco se esforça em esconder o elitismo Nietzscheano de sua própria visão política.

É um caso clássico da doutrina da dupla verdade. O que Nietzsche e Heidegger expõem sobre a modernidade seria seguro e até salutar que liberais comprometidos e iluminados, entendam. O “perigo” do título se apresentaria quando suas verdades perturbadoras se revelam “em um contexto onde tal compromisso não é de todo seguro ou é ativamente inseguro”. O diagnóstico desses autores antiliberais poderia ser discutido, mas apenas com a voz abafada, longe dos ouvidos da “multidão vulgar” — o que Beiner chama, citando um neonazista frustrado,de “white trash” [ou “lixo branco”, termo usado para se referir às pessoas brancas pobres, geralmente de regiões rurais ou em submoradia urbana, dos EUA].

Mas a aspiração inicial de Beiner nunca é abandonada por completo. Ele continua a falar como se estivesse em busca de um projeto intelectual emancipador, cujos contornos seriam mais nitidamente definidos por uma mais completa apreciação da lógica de seus opostos reacionários e incompatíveis, Nietzsche e Heidegger. Acontece que, ao fim do livro, seu entendimento de emancipação começa a parecer estranhamente com devoção ao status quo. No momento em que ele elenca Karl Marx em sua lista de “teóricos antiliberais” a quem não se deve tentar “apropriar […] para projetos intelectuais liberais ou de esquerda”, você pode se considerar perdoado por se perguntar exatamente de que Beiner pensa que a esquerda consiste.

Liberalismo Iliberal

Oque é frustrante a respeito desse atoleiro é que Beiner se deparou, de fato, com algo significativo. Beiner está absolutamente certo quando diz ser possível oferecer uma defesa coerente de um capitalismo liberal Nietzscheano, tendo Weber como testemunha. Beiner aponta para um liberalismo centrista que poderia se distinguir da extrema-direita apenas por uma decisão sobre valores, ao invés de uma diferença de visão de mundo subjacente. Isso não incomoda muito Beiner. Ele parece confiante de que os caras do bem podem se apegar, indefinidamente, ao compromisso basicamente irracional que os separa dos caras maus – ou, pelo menos, que essa é a melhor esperança que podemos ter.

Mas se fizéssemos o que Beiner nos pede na introdução — olhar mais de perto a história do Nietzscheanismo ou Heideggerianismo realmente existente —  é possível que seja mais difícil de se manter tal crença. Acharíamos perturbadoramente difícil, na prática, separar o trigo liberal do joio de extrema-direita.

Veja Max Weber, por exemplo. Ele torna-se o herói improvável de Mentes Perigosas, sendo capaz de enxergar a “jaula de ferro” da modernidade tão claramente quanto Nietzsche e Heidegger e de “afirmá-la”, mesmo assim. “Por não repousar na cogitação de fantasias sobre a transcendência da modernidade”, elogia Beiner, “a nobreza de Weber é, em última análise, mais nobre que a nobreza Nietzscheana”. E, ainda assim, um ardente nacionalismo alemão perpassava a obra deste “liberal muito pessimista” como uma linha vermelha em um tecido preto. Lida na contramão, a obra de Weber mostra menos uma determinação estoica em face da inevitabilidade da modernidade, e mais um terror frente à sua precariedade, ao menos em sua encarnação Imperial Alemã.

Para Weber, a jaula de ferro sempre esteve sob a ameaça de algum perigo não-alemão. Em sua aula inaugural de 1895 na universidade de Friburgo (da qual Heidegger, mais tarde, se tornaria reitor sob o regime nazista), essa ameaça eram os fazendeiros poloneses, que migravam para o leste da Prússia e estariam ameaçando a subsistência dos trabalhadores alemães nativos com sua vontade, determinada pela sua raça, de trabalhar sob condições mais degradantes. A solução proposta por Weber em 1893 era nada menos que a “absoluta exclusão dos trabalhadores Russos e Poloneses do leste da Alemanha”. Perto do fim de sua vida, a ameaça eram as forças racialmente degradadas combatendo a Alemanha na I Guerra Mundial. Ele alertou um público em 1917 “que a Alemanha está lutando por sua própria vida contra um exército composto de negros, Ghurkas, e toda espécie de bárbaros que saíram de seus esconderijos por todo mundo e estão, agora, amontoados nas fronteiras da Alemanha, prontos para dar cabo de nossa nação”.

Nesse meio tempo, Weber desenvolveu uma elaborada narrativa teórica da “afinidade eletiva” entre a modernidade capitalista e os traços culturais únicos dos europeus. O capitalismo não teria se desenvolvido na Europa por acaso, mas nascido da distinta capacidade religiosa e cultural dos Europeus para a disciplina e para a racionalidade instrumental, em oposição ao que Weber chamava de “ganância sem limites dos asiáticos”. A crença de Weber no “destino” histórico mundial do Estado alemão não era, como Beiner afirma, uma aberração, mas uma extensão lógica do que era central em seu pensamento.

Weber não é, nem de longe, o único “liberal” Nietzscheano a ter trocado carinhos com a direita autoritária ou nacionalista. Estudiosos têm apontado uma trajetória similar na história da escola austríaca de economia, a pedra angular intelectual do movimento neoliberal do século 20. O teórico político Corey Robin provocou uma tempestade de controvérsias em 2013, principalmente com escritores libertários [de direita], por um ensaio sublinhando paralelos entre Nietzsche e os Austríacos. Mas alguma similaridade entre eles é tão clara como a luz do dia, não apenas (ou em especial) a respeito de Nietzsche pessoalmente, mas à subsequente tradição Nietzscheana.

Weber, por exemplo, foi um interlocutor do líder desta escola no início do século 20, Ludwig von Mises, e uma inspiração para os membros mais jovens como Alfred Schütz e Joseph Schumpeter. O mais importante economista austríaco do século 20, F. A. Hayek, lançou denúncias contra o “racionalismo” tão fortes quanto qualquer uma feita por Nietzsche ou Heidegger. (O teórico político Michael Oakeshott, a quem Hayek é comumente e apropriadamente comparado, tem sido chamado de “Heidegger inglês”).

Mais recentemente, tivemos Don Lavoie, um mentor de vários influentes seguidores da escola austríaca nos EUA e, quando da sua morte, titular da cadeira de Charles Koch como Professor de Economia na Universidade George Mason. Lavoie passou sua carreira defendendo uma afinidade entre a metodologia da escola austríaca e a filosofia “hermenêutica” de Heidegger e seu seguidor Hans-Georg Gadamer.

O mais forte ponto de contato entre muitos liberais austríacos e Nietzscheanos como Heidegger é a convicção compartilhada de que o autoritarismo político poderia ser tolerável ou até necessário frente ao avanço da esquerda. Os Cadernos Negros de Heidegger, publicados recentemente, mostram até que ponto seu apoio ao nazismo estava ligado ao medo de um “Bolchevismo” que estaria se alastrando às sombras e que ele via (é claro) como sendo alimentado pelo judaísmo mundial. Considerações similares, tirando o antissemitismo, levaram Ludwig von Mises a declarar em 1927 que o fascismo “por ora, resgatou a civilização Europeia” ao reprimir levantes comunistas na Itália. “O mérito que o fascismo tem conquistado para si, portanto, permanecerá eternamente vivo na História”, pronunciou.

O historiador Quinn Slobodian demonstrou como essa lógica continou a dar suporte ao apoio neoliberal a regimes autoritários como o apartheid Sul-Africano e o de Augusto Pinochet no Chile. Seja motivado pelo horror do economista Wilhelm Röpke à possibilidade de um governo da maioria negra de “canibais” sul-africanos, ou pelo desalento com o apoio popular do qual gozava o presidente marxista do Chile, democraticamente eleito, Salvador Allende, a tradição austríaca tem se provado mais que disposta a fazer as pazes com a ideia de um “ditador liberal”, como Hayek uma vez chamou Pinochet.

Portanto, é menos surpreendente do que possa a princípio parecer, que Ludwig von Mises tenha se juntado a Nietzsche e Heidegger no panteão da “nova” extrema-direita de hoje. Richard Spencer tem recomendado aos seus acólitos a leitura de von Mises e de seu aluno estadunidense Murray Rothbard. Mencius Moldbug, um dos tipos preferidos de pseudo-intelectual entre líderes fascistas concorda: “Mises é um titã; Rothbard é um gigante”, escreveu. O presidente do instituto Ludwig von Mises (LVMI) nos EUA, em Auburn, Alabama, é Lew Rockwell, que o público estadunidense deve recordar por ser escritor fantasma de uma série de escritos racistas nos boletins informativos do ex-deputado pelo Partido Republicano e candidato à presidência pelo Partido Libertário, Ron Paul. O mais notório afiliado do LVMI é Hans-Hermann Hoppe, cuja ladainha de 2001, Democracia: o Deus Que Falhou, tornou-se uma espécie de bíblia do movimento da “nova” extrema-direita (“alternativa”).

Em outras palavras, não se trata apenas de liberais capitalistas escorregando de volta para o fascismo; os fascistas têm dificuldade para se manter afastados do “liberalismo” capitalista, também.

A jaula da ironia

Beiner supõe que o dilema central da política moderna seria entre ser “a favor” ou “contra” a modernidade liberal. Mas em Mentes Perigosas ele chama nossa atenção para uma história que sugere que a escolha não é, nem de longe, tão simples. Acontece que defensores e oponentes da modernidade podem encontrar uma variedade de posições intelectuais e programáticas em comum. A linha que separa o centrismo liberal da direita fascista parece perturbadoramente instável na prática.

Isto porque a própria modernidade é instável. Weber estava errado. A modernidade não é uma jaula de ferro, que se torna inexoravelmente mais homogênea e previsível. Ela é complexa; ela é contraditória; ela contém multitudes. “O moderno não dá satisfação”, Marx escreveu: há um movimento implacável no seu coração. A modernidade profere promessas de democracia, liberdade e igualdade, enquanto entrincheira um sistema político-econômico que é estruturalmente incapaz de realizá-las. Ela oferece uma visão tentadora de um mundo coletivamente guiado rumo à satisfação das necessidades humanas, enquanto opera no curto prazo na intensificação da exploração em uma escala sem precedentes.

Como Marx foi o primeiro a explicar, o capitalismo moderno cria as condições de sua própria superação, ainda que tomar vantagem dessas condições tenha-se provado mais desafiador do que Marx esperava. A inércia do status quo não mantém o sistema em um estado estacionário, ela o move em direção à transformação revolucionária. Por isso os defensores do status quo têm tantas vezes achado necessário regredir ao recurso do poder despótico “pré-moderno” para reprimir o clamor por democracia, liberdade, ou igualdade de um tipo que lhes seja impalatável.

Não é nenhuma coincidência que Nietzsche e Heidegger tenham começado a ganhar um grupo ávido de leitores radicais do meio para o fim do século 20, quando o projeto tradicional da esquerda começava a parecer um sonho distante destinado a acabar ou na deturpação stalinista ou em derrota para o thatcherismo.

É compreensível que o uivo antimodernista possa parecer atrativo se você veio a acreditar que a única alternativa é a submissão relutante ao capitalismo dos anos 70 e 80. (Embora, se esse instinto te leva a retroceder a um entusiasmo qualificado pelo neoliberalismo de Gary Becker entre outros, como fez a Michel Foucault, pode-se razoavelmente esperar que você reavalie suas premissas). Na cabeça de Beiner, trata-se ainda da mesma escolha que nos é posta hoje. Ele acha que avaliar o “retorno da extrema direita” nos ajudará a fazer o giro necessário para tomar a pouco inspiradora decisão em favor do status quo.

Mas há uma alternativa. Podemos, ao invés disso, olhar para a extrema-direita atual como prova de que o status quo não é auto-idêntico, que ele contém as sementes de sua própria destruição, para o bem ou para o mal. Ao invés de tratar a revitalização da ultra-direita pós-Nietzscheana como outro giro da roda do eterno retorno, podemos tratá-la como prova de que o anti-modernismo reacionário acompanhará o capitalismo, nas palavras de Marx, até o seu abençoado fim. Podemos propor uma outra dicotomia: socialismo ou barbárie. Como disse um grande fascista, W.B. Yeats, o centro não vai aguentar.


Sobre os autores
ERI
é doutorando no Departamento de História da Ciência em Harvard.K BAKER

domingo, 22 de janeiro de 2023

A DESTRUIÇÃO DA RAZÃO * GEORGE LUKACS

A DESTRUIÇÃO DA RAZÃO
LEIA GRATIS
GEORGE LUKACS

BOLÍVAR VIVE! * Coordenação Nacional Bolívar Vive / Venezuela

 BOLÍVAR VIVE!

República Bolivariana da Venezuela

20 de janeiro de 2023


*2023:*

*ANO DE ORGANIZAÇÃO*

*E LUTA POPULAR REVOLUCIONÁRIA*


Irmãs e irmãos habitantes da Pátria Bolivariana recebem uma saudação sincera e afortunada, cheia de esperança e otimismo, a respeito do novo ano. Em *¡Bolívar Vive!* acreditamos que para obter resultados diferentes dos alcançados é necessário fazer diferente.


Postulamos este raciocínio básico e correto para que seja sempre lembrado como princípio e guia do nosso trabalho neste complexo, exigente e difícil ano de 2023, tanto em questões e projetos pessoais como familiares e sociais.


Diante dos múltiplos e agudos problemas enfrentados pela sociedade venezuelana, principalmente produto das agressões das potências imperialistas; a qualidade e direcionalidade da gestão governamental; a situação e atuação das organizações populares e revolucionárias, etc., *Bolívar Vive!* considera que para alcançar diferentes resultados durante este ano de 2023 é necessário avançar em um processo resoluto de empoderamento e liderança popular, no âmbito de defesa, retificação e aprofundamento da Revolução Bolivariana.


Assim, a questão ou questão que pode produzir diferentes resultados no evento nacional durante este ano de 2023 é o fato de que as organizações que compõem o Acampamento Popular e Revolucionário Venezuelano são capazes de promover um intenso e rigoroso processo de organização e luta popular. já que dela depende em grande parte o futuro da Revolução Bolivariana e, portanto, da Pátria.


Nesta ocasião, vamos pronunciar-nos sobre algumas questões que voltaram a ser reveladas, o que faremos nos seguintes termos:


*Primeiro:* Chega de clemência e impunidade para fascistas, golpistas, agentes do imperialismo e outros transgressores da ordem jurídica institucional da República Bolivariana da Venezuela.


Es un clamor popular que quienes han promovido y desarrollado acciones en función de la recolonización de Venezuela, el derrocamiento del gobierno constitucional, la invasión militar, el bloqueo, el robo de activos públicos en el extranjero, etc., deben ser ejemplarmente sancionados conforme a direito.


A Constituição não é um livrinho ou uma plasticina que se conforma ao capricho de quem a manipula. É o instrumento jurídico superior que contém o mandato do povo construído sobre o exercício mais democrático da soberania popular, ou seja, o Referendo de Aprovação de 15 de dezembro de 1999. Conseqüentemente, seu desconhecimento, violação ou não aplicação significa desconsiderar o direito popular mandato, implica zombar ou ignorar a vontade do povo venezuelano.


As autoridades públicas e, em geral, os compatriotas são obrigados a cumpri-lo e a fazê-lo cumprir. Nenhum argumento é admissível para justificar e explicar sua flexibilização, renúncia, suspensão ou qualquer forma que reduza sua eficácia e integridade.


Há uma evidente incoerência entre os discursos e as ações específicas de certas autoridades públicas contra aqueles que têm sustentado uma prática constante de caotização da vida do país como parte de uma estratégia de destruição do que a República Bolivariana da Venezuela supõe, significa e implica. .


De fato, por um lado, com razão, é apontado publicamente que Guaidó e seu bando de bandidos; os representantes dos partidos da aliança G4; os hierarcas da Igreja Católica, etc., perpetraram crimes contra o país contra a Venezuela e, por outro lado, não há nenhum órgão ou instância do Estado que materialize ou materialize qualquer ação de justiça contra esses criminosos, que, além disso, livremente Eles viajam por todo o país.


Resumindo, tudo fica em discursos, propagandas e diatribes nas redes sociais, no máximo, uma ou outra medida contra quem está fora do país; estas medidas, que nunca afectam os seus bens e fortunas ilícitas, uma vez que não são decretadas medidas de apreensão ou confisco dos seus bens.


Enquanto isso, intensifica-se a deterioração das instituições da República; a ética social é degradada; a credibilidade, confiança e prestígio do governo nacional são afetados negativamente; propicia-se a desmoralização e o descontentamento da militância revolucionária; questiona-se o papel da direção política das organizações e partidos que compõem o Grande Pólo Patriótico, em suma, anula-se o potencial transformador do processo bolivariano e coloca-se em sério risco a continuidade da Revolução Bolivariana.


*¡Bolívar Vive!* é a favor da promoção urgente de um amplo movimento social visando resgatar a função social das sanções, em tal contexto, desmascarando qualquer pretensão para justificar a não aplicação da Constituição e da Legislação Penal nacional; exigir das autoridades do Sistema Nacional de Justiça o pleno e tempestivo cumprimento de suas obrigações, portanto, o julgamento e punição dos responsáveis ​​por terem promovido e executado ações contrárias aos interesses e direitos do povo venezuelano, em suma, desenvolver o devido coordenação entre organizações populares e revolucionárias para realizar ações que impeçam a instauração da impunidade no país.


*Segundo:* Não condenamos nem qualificamos as lutas populares pela defesa e ampliação dos direitos contemplados em nosso ordenamento jurídico como processos lesivos aos interesses da Nação e, portanto, à Revolução Bolivariana.


Já dissemos e reiteramos mais uma vez: no processo de construção do socialismo, a luta de classes não cessa. Ao contrário, torna-se o motor que impulsiona a transformação, em cujo contexto é decisivo que a militância popular e revolucionária assegure e dê às lutas uma correta direção política, na perspectiva de garantir a estabilidade do processo revolucionário, a governabilidade e a a superação das deficiências, erros e desvios que impedem o avanço rumo a patamares mais elevados de soberania, independência e justiça social.


Como dinâmica política e organizacional, reivindicamos as lutas pelo respeito, efetividade e progressividade dos direitos da classe trabalhadora venezuelana. Neste momento, aqueles que com autêntica sinceridade revolucionária e classista se desenvolvem em busca de aumentos ou reajustes salariais, no âmbito do resgate do poder aquisitivo das amplas maiorias populares que compõem a Nação.


Estamos cientes de que agentes e organizações a serviço das potências imperialistas promovem e incentivam protestos baseados em reivindicações legítimas e justas como parte de seus planos de conspiração e destruição da República Bolivariana da Venezuela.


É óbvio que o que perseguem não são os objetivos que justificam as lutas, mas sim, a partir deles, pretendem, valendo-se de quem delas participa desavisadamente, desencadear conflitos, acontecimentos e situações que subvertem o normal desenvolvimento das atividades do país criar condições que lhes permitam justificar políticas recolonizadoras e imperialistas, ou seja, presidentes interinos, intervenções ou ajuda humanitária, medidas de bloqueio econômico e financeiro, enfim, Maduro vai agora.


Nesse complexo quadro conjuntural, cabe à militância bolivariana, chavista e, em geral, revolucionária participar ativamente das lutas e desenvolver capacidades para conduzi-las, em tal contexto, a desmascarar, isolar, neutralizar e enfrentar os agentes e organizações a serviço das potências imperialistas e do fascismo.


Constitui um grave erro político para o futuro das lutas populares e revolucionárias generalizar em desqualificações e condenações a priori das lutas e daqueles que as dirigem. É vital e decisivo distinguir os agentes da burguesia, do fascismo e das potências imperialistas dos autênticos combatentes populares, dos verdadeiros militantes do sindicalismo classista. Da mesma forma, é fundamental que a prática reacionária de criminalização e persecução das lutas populares seja enfrentada com a maior responsabilidade e firmeza. Da mesma forma, devemos proceder nos casos e situações em que os Direitos Humanos sejam comprometidos.


A realidade do país exige que todas as organizações populares e revolucionárias produzam ideias, propostas e abordagens baseadas na busca de soluções para os problemas que nos afligem. Nesta ordem, é prioritário construir instâncias de articulação e integração com vista ao aumento das capacidades de convocação e luta em todos os âmbitos e dimensões.


Por outro lado, importa ter presente que não basta conseguir aumentos ou reajustes salariais, há que especificar a implementação de medidas e mecanismos que assegurem o combate enérgico e frontal a todos os crimes económicos.


Com efeito, tem sido uma constante que por ocasião de aumentos salariais ou compensações se desencadeie uma vaga de práticas comerciais e económicas ilegais que tornam ilusórios os referidos aumentos ou ajustamentos, sem ativar mecanismos institucionais ou sociais que detenham ou combatam essas condutas criminosas.


 Nesse sentido, as autoridades públicas competentes devem exercer as responsabilidades e poderes que lhes são conferidos pela Constituição e demais leis da República, pois a omissão do tempestivo e efetivo cumprimento de suas obrigações se traduz em uma situação de tolerância e permissibilidade que acaba promovendo a especulação, a usura, o entesouramento, etc., como práticas comerciais e econômicas que minam qualquer política voltada para a defesa e fortalecimento do poder aquisitivo das amplas maiorias populares.


Nessa ordem de ideias, é fundamental que o Ministério Público (MP), a Superintendência Nacional de Defesa dos Direitos Socioeconômicos (SUNDDE), a Superintendência das Instituições do Setor Bancário (SUDEBAN) e demais entidades que controlam e fiscalizam as atividades econômicas, comerciais , os organismos financeiros e monetários lançam uma intensa e massiva ofensiva contra todas as práticas que contribuam para consolidar e expandir a inflação.


Os assuntos relacionados com a defesa e preservação do valor da nossa moeda nacional requerem um tratamento urgente e exclusivo, uma vez que, mais uma vez, o bolívar é alvo de ataques como parte da estratégia destinada a travar e travar o processo de recuperação económica que tem vindo a ser alcançando O dólar criminoso deve ser combatido de forma contundente por meio de uma política que envolva tanto os entes públicos competentes em matéria financeira e monetária quanto as organizações do Poder Popular, tendo em vista que é preciso adotar novas medidas em tudo o que se refere às operações de câmbio, câmbio mercado, circulação, etc. da moeda norte-americana.


Existem evidências suficientes para afirmar que na Venezuela a inflação ou hiperinflação não é exclusivamente resultado da ação de certos agentes políticos e econômicos, mas também produto da debilidade ou falta de controle e fiscalização do Estado.


*¡Bolívar Vive!* é a favor de promover o empoderamento popular revolucionário e a mobilização popular para enfrentar esses agentes desestabilizadores da dinâmica econômica, bem como exigir que as autoridades públicas competentes cumpram suas obrigações ou acompanhem e apoiem os planos que são promovidos em para combater os crimes económicos.


Finalmente, reconhecemos e reivindicamos o compatriota Nicolás Maduro como Presidente Constitucional da República Bolivariana da Venezuela. Defenderemos seu mandato até o último segundo de seu mandato constitucional. Para nós, Nicolás Maduro será o Presidente da República até que o povo soberano da Venezuela, de acordo com a Constituição, assim o decida.


Difúndase en las Redes Sociales.


*BOLÍVAR VIVE A LUTA CONTINUA!*


*CHAVEZ VIVE, A LUTA CONTINUA!*


*MADURO É NOSSO PRESIDENTE!*


*BASTA DE IMPUNIDADE PARA FASCISMO E GOLPE!*


*PARA PROMOVER A ORGANIZAÇÃO E A LUTA POPULAR!*


*O SOCIALISMO SE CONSTRÓI NA LUTA!*


Subscreva, na República Bolivariana da Venezuela, em 20 de janeiro de 2023, a Coordenação Nacional de *¡BOLÍVAR VIVE!* De acordo com os comunicados emitidos, o número 2 corresponde a ela.

.....

sábado, 21 de janeiro de 2023

AMILCAR CABRAL * Coordinadora Simón Bolívar / Venezuela

AMILCAR CABRAL
NOSSO PARTIDO PDF
Amílcar Lopes da Costa Cabral
NOSSO PARTIDO - LEIA GRATIS

Amílcar Cabral, nació el 12 de septiembre de 1924, en Bafatá, Guinea-Bisáu, es asesinato el 20 de enero de 1973, en Conakri, Guinea.

Amílcar Cabral fue un ingeniero agrónomo y escritor, máximo dirigente revolucionario de la llamada Guinea Portuguesa y Cabo Verde.​

Milito en el Movimiento Popular de Liberación de Angola.

Fue secretario general del Partido Africano para la Independencia de Guinea y Cabo Verde (PAIGC), que organizó en 1956, y que, con las armas en mano y con la colaboración de efectivos militares cubanos, se enfrentó al colonialismo portugués hasta conseguir la independencia.

El 20 de enero de 1973, cuando ya la victoria estaba cerca, fue asesinado por agentes de las autoridades portuguesas dirigidos por Inocêncio Kani.

Hoy 20 de enero de 2023 se cumplen 50 años del asesinato de Amílcar Cabral, gran exponente de la época de independencias en África e ingeniero agrónomo que dedicó su vida a la consecución de la libertad de su pueblo, el de Guinea-Bissau, hermanado al de Cabo Verde (sus padres eran de allí). A ambos países buscó unir en la lucha por la independencia y como naciones soberanas, aunque la muerte le impidió consumar el sueño de ver eliminado el colonialismo portugués (la independencia de Guinea-Bissau fue declarada en forma unilateral el 24 de septiembre de 1973).

A 50 años de su muerte, ejecutada por el colonialismo portugués y el imperialismo, no han podido apagar su ejemplo y ni borrar su pensamiento. Amilcar Cabral aún inspira a los revolucionarios.

Rescatando la Memoria Histórica.
Arriba los que luchan ! ! !
La única lucha que se pierde es la que se abandona ! ! !
Solo la lucha nos hará libres ! ! !
Desde Venezuela Tierra de Libertadores a 531 años del inicio de la Resistencia Antiimperialista en América y a 212 años del inicio de nuestra Independencia.

Coordinadora Simón Bolívar
Caracas - Venezuela
Enero 2023.

PROHIBIDO OLVIDAR Francisco Felipe Ojeda Negretti * Coordinadora Simón Bolívar / Venezuela

PROHIBIDO OLVIDAR
Francisco Felipe Ojeda Negretti

Francisco Ojeda Negretti, seudónimo “Víctor”, miembro del Frente Guerrillero Ezequiel Zamora, en los llanos, estados de Apure y Barinas.

Hijo de Magdalena Negretti, revolucionaria y comunista comprometida con el proceso de lucha armada, por ende miembro de una familia de comunistas y combatientes guerrilleros, Fedor y Baltazar Ojeda Negretti, Cmte. “Elias”.
Francisco Ojeda Negretti es detenido el 15 de enero en una alcabala militar.
El SIFA lo lleva a Barinas, se presume por información que a la Marqueseña, y luego trasladado al Teatro de el Tocuyo, TO3, en el estado Lara, de donde lo desaparecen.
En homenaje se funda el Destacamento Guerrillero Felipe Ojeda Negretti.
Rescatando la Memoria Histórica.
Arriba los que luchan ! ! !
La única lucha que se pierde es la que se abandona ! ! !
Solo la lucha nos hará libres ! ! !
Desde Venezuela Tierra de Libertadores a 531 años del inicio de la Resistencia Antiimperialista en América y a 212 años del inicio de nuestra Independencia.

Coordinadora Simón Bolívar
Caracas - Venezuela
Enero 2023.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

A HISTÓRIA - ESSA INIMIGA * Camilo Katari / Bolívia

A HISTÓRIA, ESSA INIMIGA
Camilo Katari / Bolívia

Em 21 de julho de 1946, Gualberto Villarroel não foi morto, mas enforcado, é mentira que Banzer liderou um golpe em agosto de 1971, García Meza pediu cordialmente a seu primo que o deixasse governar, Túpac Katari não existia e o massacre de San Juan é uma invenção comunista, etc. e etc...

Essa é a versão da história que as elites coloniais e racistas querem contar, com a colaboração eficiente, como sempre, do POR-MASAS inserido no magistério nacional.

Não é novidade que os descendentes dos navios de 1492, dos fugitivos após a Segunda Guerra Mundial e dos migrantes da Guerra dos Balcãs, tentem mudar a história, que neguem a história, não gostem que a memória coletiva os faça lembrar o que fizeram e o que fazem.

Querem uma história que lhes convenha, querem impor como verdade que vieram para nos "civilizar", que são o "motor" económico do país, e para isso têm a protecção da bíblia (e dos seus administradores) como em 1492. Dizemos a bíblia e não Deus, porque eles estão mais interessados ​​no símbolo do que no verdadeiro conteúdo libertador contido na história do povo judeu (porque isso é a Bíblia).

Em novembro de 2019, um comandante militar pediu a demissão do presidente, esse fato inegável tem sido a constante dos golpes na Bolívia, o fato de o Parlamento funcionar posteriormente não altera em nada a ruptura constitucional, já que em 1979 o sangrento golpe de Natusch também permitiu o funcionamento do Parlamento e ao mesmo tempo ocorreu o Massacre de Todos Santos.

A história e seus fatos materiais, nos questionam sobre nossa responsabilidade nela, deixamos os interesses da oligarquia regional dar o primeiro golpe na Bolívia em 1828, a partir dessa data, o poder de fato dos donos de minas e fazendas ditou as leis para em seu benefício, as costas dos Quechuas, Aymaras, Guaranies, Moxeños e outras nações, sustentaram as frágeis bases de um Estado colonial de fato e independente no papel.

Nos acontecimentos de abril de 1828, devemos destacar que foi a guarda presidencial que iniciou o golpe de Estado, portanto, desde muito cedo; as forças armadas têm estado do lado do poder econômico e não da proteção do Estado e do povo.

Nestes tempos em que a democracia liberal demonstra os seus limites, a nível mundial e com maior intensidade no nosso continente, a história da nossa formação social e as suas contradições devem ser revistas em profundidade, não com uma visão epidérmica, que questiona um facto concreto, como o discurso de "houve fraude", implantado por um historiador colonialista, negando os próprios fatos históricos que seus pais lhe deixaram herdados, esse personagem tenta esquecer que a história não são fatos isolados, mas que suas conexões ultrapassam barreiras de tempo, lugar e espaço.

Novembro de 2019 não se explica sem recordar abril de 1828, pois aí encontramos a “tradição” das Forças Armadas e a sua naturalização histórica. Os textos da história não explicam as causas dos golpes, seus promotores e os interesses em jogo, são simplesmente “transições de governos civis para governos militares” os massacres nunca foram tentados, os perpetradores gozaram da impunidade que consolidou sua lata.

Em boa hora em que os manuais escolares falam dos golpes, da violência que estes implicam e dos seus perpetradores, a revolução cultural deve romper com a naturalização do exercício violento da força para proteger privilégios, para manter a ordem colonial.

Estamos numa longa conjuntura constitutiva, onde se colocam em causa todas as instituições do Estado, todos os valores e tradições coloniais, como a burocracia, a corrupção e o camaleonismo ideológico; Estamos em tempos verdadeiramente históricos.

*Camilo Katari, é escritor e historiador de San Luis Potosí.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

DISCURSOS DE POSSE * Luiz Inácio Lula da Silva.DF

 DISCURSOS DE POSSE

Luiz Inácio Lula da Silva.DF

Íntegra do Discurso de Lula no Congresso Nacional

(1º de Janeiro de 2023)



“​​Excelentíssimo senhor presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco, excelentíssimo presidente da Câmara dos Deputados, deputado Arthur Lira, excelentíssima presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Rosa Weber, meu querido companheiro vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, senhoras e senhores e chefes de estado e de governo que nos prestigiam, senhor primeiro secretário da mesa da Câmara dos deputados, deputado Luciano Bivar, senhor procurador-geral da república, Augusto Aras, minha querida e companheira esposa, Janja, nossa querida e companheira e esposa do Alckmin, Lu Alckmin, meu querido companheiro José Sarney presidente da república, minha querida companheira Dilma Rousseff, presidente da república. 

 

“Senhores parlamentares, senhoras e senhores chefes das delegações estrangeiras, meus amigos, minhas amigas.

 

“Pela 3ª vez compareço a este Congresso Nacional para agradecer ao povo brasileiro o voto de confiança que recebemos. Renovo o juramento de fidelidade à Constituição da República, junto com o vice-presidente Geraldo Alckmin e os ministros que conosco vão trabalhar pelo Brasil.

 

“​​Se estamos aqui, hoje, é graças à consciência política da sociedade brasileira e à frente democrática que formamos ao longo desta histórica campanha eleitoral.

 

“​​Foi a democracia a grande vitoriosa nesta eleição, superando a maior mobilização de recursos públicos e privados que já se viu; as mais violentas ameaças à liberdade do voto, a mais abjeta campanha de mentiras e de ódio tramada para manipular e constranger o eleitorado.

 

“​​Nunca os recursos do estado foram tão desvirtuados em proveito de um projeto autoritário de poder. Nunca a máquina pública foi tão desencaminhada dos controles republicanos. Nunca os eleitores foram tão constrangidos pelo poder econômico e por mentiras disseminadas em escala industrial.

 

“​​Apesar de tudo, a decisão das urnas prevaleceu, graças a um sistema eleitoral internacionalmente reconhecido por sua eficácia na captação e apuração dos votos. Foi fundamental a atitude corajosa do Poder Judiciário, especialmente do Tribunal Superior Eleitoral, para fazer prevalecer a verdade das urnas sobre a violência de seus detratores.

 

“​​Senhores e senhoras parlamentares,

 

“​​Ao retornar a este plenário da Câmara dos Deputados, onde participei da Assembleia Constituinte de 1988, recordo com emoção os embates que travamos aqui, democraticamente, para inscrever na Constituição o mais amplo conjunto de direitos sociais, individuais e coletivos, em benefício da população e da soberania nacional.

 

“​​20 anos atrás, quando fui eleito presidente pela primeira vez, ao lado do companheiro vice-presidente José Alencar, iniciei o discurso de posse com a palavra “mudança”. A mudança que pretendíamos era simplesmente concretizar os preceitos constitucionais. A começar pelo direito à vida digna, sem fome, com acesso ao emprego, saúde e educação.

 

“​​Disse, naquela ocasião, que a missão de minha vida estaria cumprida quando cada brasileiro e brasileira pudesse fazer três refeições por dia.

 

“​​Ter de repetir este compromisso no dia de hoje – diante do avanço da miséria e do regresso da fome, que havíamos superado – é o mais grave sintoma da devastação que se impôs ao país nos anos recentes.

 

“​​Hoje, nossa mensagem ao Brasil é de esperança e reconstrução. O grande edifício de direitos, de soberania e de desenvolvimento que esta Nação levantou, a partir de 1988, vinha sendo sistematicamente demolido nos anos recentes. É para reerguer este edifício de direitos e valores nacionais que vamos dirigir todos os nossos esforços.

 

“​​Senhoras e senhores, 

 

“​​Em 2002, dizíamos que a esperança tinha vencido o medo, no sentido de superar os temores diante da inédita eleição de um representante da classe trabalhadora para presidir os destinos do país. Em oito anos de governo deixamos claro que os temores eram infundados. Do contrário, não estaríamos aqui novamente.

 

“​​Ficou demonstrado que um representante da classe trabalhadora podia, sim, dialogar com a sociedade para promover o crescimento econômico de forma sustentável e em benefício de todos, especialmente dos mais necessitados. Ficou demonstrado que era possível, sim, governar este país com a mais ampla participação social, incluindo os trabalhadores e os mais pobres no orçamento e nas decisões de governo.

 

“​​Ao longo desta campanha eleitoral vi a esperança brilhar nos olhos de um povo sofrido, em decorrência da destruição de políticas públicas que promoviam a cidadania, os direitos essenciais, a saúde e a educação. Vi o sonho de uma Pátria generosa, que ofereça oportunidades a seus filhos e filhas, em que a solidariedade ativa seja mais forte que o individualismo cego.

 

“​​O diagnóstico que recebemos do Gabinete de Transição de Governo é estarrecedor. Esvaziaram os recursos da Saúde. Desmontaram a Educação, a Cultura, Ciência e Tecnologia. Destruíram a proteção ao Meio Ambiente. Não deixaram recursos para a merenda escolar, a vacinação, a segurança pública, a proteção às florestas, a assistência social.

 

“​​Desorganizaram a governança da economia, dos financiamentos públicos, do apoio às empresas, aos empreendedores e ao comércio externo. Dilapidaram as estatais e os bancos públicos; entregaram o patrimônio nacional. Os recursos do país foram rapinados para saciar a cupidez dos rentistas e de acionistas privados das empresas públicas.

 

“​​É sobre estas terríveis ruínas que assumo o compromisso de, junto com o povo brasileiro, reconstruir o país e fazer novamente um Brasil de todos e para todos.

 

“​​Senhoras e senhores,

 

“​​Diante do desastre orçamentário que recebemos, apresentei ao Congresso Nacional propostas que nos permitam apoiar a imensa camada da população que necessita do estado para, simplesmente, sobreviver.

 

“​​Agradeço à Câmara e ao Senado pela sensibilidade frente às urgências do povo brasileiro. Registro a atitude extremamente responsável do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal de Contas da União frente às situações que distorciam a harmonia dos poderes.

 

“​​Assim fiz porque não seria justo nem correto pedir paciência a quem tem fome.

 

“​​Nenhuma nação se ergueu nem poderá se erguer sobre a miséria de seu povo.

 

“​​Os direitos e interesses da população, o fortalecimento da democracia e a retomada da soberania nacional serão os pilares de nosso governo.

 

“​​Este compromisso começa pela garantia de um Programa Bolsa Família renovado, mais forte e mais justo, para atender a quem mais necessita. Nossas primeiras ações visam a resgatar da fome 33 milhões de pessoas e resgatar da pobreza mais de 100 milhões de brasileiras e brasileiros, que suportaram a mais dura carga do projeto de destruição nacional que hoje se encerra.

 

“​​Senhoras e senhores, 

 

“​​Este processo eleitoral também foi caracterizado pelo contraste entre distintas visões de mundo. A nossa, centrada na solidariedade e na participação política e social para a definição democrática dos destinos do país. A outra, no individualismo, na negação da política, na destruição do estado em nome de supostas liberdades individuais.

 

“​​A liberdade que sempre defendemos é a de viver com dignidade, com pleno direito de expressão, manifestação e organização.

 

“​​A liberdade que eles pregam é a de oprimir o vulnerável, massacrar o oponente e impor a lei do mais forte acima das leis da civilização. O nome disso é barbárie.

 

“​​Compreendi, desde o início da jornada, que deveria ser candidato por uma frente mais ampla do que o campo político em que me formei, mantendo o firme compromisso com minhas origens. Esta frente se consolidou para impedir o retorno do autoritarismo ao país.

 

“​​A partir de hoje, a Lei de Acesso à Informação voltará a ser cumprida, o Portal da Transparência voltará a cumprir seu papel, os controles republicanos voltarão a ser exercidos para defender o interesse público. Não carregamos nenhum ânimo de revanche contra os que tentaram subjugar a Nação a seus desígnios pessoais e ideológicos, mas vamos garantir o primado da lei. Quem errou responderá por seus erros, com direito amplo de defesa, dentro do devido processo legal. O mandato que recebemos, frente a adversários inspirados no fascismo, será defendido com os poderes que a Constituição confere à democracia.

 

“​​Ao ódio, responderemos com amor. À mentira, com a verdade. Ao terror e à violência, responderemos com a Lei e suas mais duras consequências.

 

“​​Sob os ventos da redemocratização, dizíamos: ditadura nunca mais! Hoje, depois do terrível desafio que superamos, devemos dizer: democracia para sempre!

 

“​​Para confirmar estas palavras, teremos de reconstruir em bases sólidas a democracia em nosso país. A democracia será defendida pelo povo na medida em que garantir a todos e a todas os direitos inscritos na Constituição.

 

“​​Senhoras e senhores, 

 

“​​Hoje mesmo estou assinando medidas para reorganizar as estruturas do Poder Executivo, de modo que voltem a permitir o funcionamento do governo de maneira racional, republicana e democrática. Para resgatar o papel das instituições do estado, bancos públicos e empresas estatais no desenvolvimento do país. Para planejar os investimentos públicos e privados na direção de um crescimento econômico sustentável, ambientalmente e socialmente.

 

“​​Em diálogo com os 27 governadores, vamos definir prioridades para retomar obras irresponsavelmente paralisadas, que são mais de 14 mil no país. Vamos retomar o Minha Casa, Minha Vida e estruturar um novo PAC para gerar empregos na velocidade que o Brasil requer. Buscaremos financiamento e cooperação – nacional e internacional – para o investimento, para dinamizar e expandir o mercado interno de consumo, desenvolver o comércio, exportações, serviços, agricultura e a indústria.

 

“​​Os bancos públicos, especialmente o BNDES, e as empresas indutoras do crescimento e inovação, como a Petrobras, terão papel fundamental neste novo ciclo. Ao mesmo tempo, vamos impulsionar as pequenas e médias empresas, potencialmente as maiores geradoras de emprego e renda, o empreendedorismo, o cooperativismo e a economia criativa.

 

“​​A roda da economia vai voltar a girar e o consumo popular terá papel central neste processo.

 

“​​Vamos retomar a política de valorização permanente do salário-mínimo. E estejam certos de que vamos acabar, mais uma vez, com a vergonhosa fila do INSS, outra injustiça restabelecida nestes tempos de destruição. Vamos dialogar, de forma tripartite – governo, centrais sindicais e empresariais – sobre uma nova legislação trabalhista. Garantir a liberdade de empreender, ao lado da proteção social, é um grande desafio nos tempos de hoje.

 

“​​Senhoras e senhores, 

 

“​​O Brasil é grande demais para renunciar a seu potencial produtivo. Não faz sentido importar combustíveis, fertilizantes, plataformas de petróleo, microprocessadores, aeronaves e satélites. Temos capacitação técnica, capitais e mercado em grau suficiente para retomar a industrialização e a oferta de serviços em nível competitivo.

 

“​​O Brasil pode e deve figurar na primeira linha da economia global.

 

“​​Caberá ao estado articular a transição digital e trazer a indústria brasileira para o Século XXI, com uma política industrial que apoie a inovação, estimule a cooperação público-privada, fortaleça a ciência e a tecnologia e garanta acesso a financiamentos com custos adequados.

 

“​​O futuro pertencerá a quem investir na indústria do conhecimento, que será objeto de uma estratégia nacional, planejada em diálogo com o setor produtivo, centros de pesquisa e universidades, junto com o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, os bancos públicos, estatais e agências de fomento à pesquisa.

 

“​​Nenhum outro país tem as condições do Brasil para se tornar uma grande potência ambiental, a partir da criatividade da bioeconomia e dos empreendimentos da socio-biodiversidade. Vamos iniciar a transição energética e ecológica para uma agropecuária e uma mineração sustentáveis, uma agricultura familiar mais forte, uma indústria mais verde.

 

“​​Nossa meta é alcançar desmatamento zero na Amazônia e emissão zero de gases do efeito estufa na matriz elétrica, além de estimular o reaproveitamento de pastagens degradadas. O Brasil não precisa desmatar para manter e ampliar sua estratégica fronteira agrícola.

 

“​​Incentivaremos, sim, a prosperidade na terra. Liberdade e oportunidade de criar, plantar e colher continuará sendo nosso objetivo. O que não podemos admitir é que seja uma terra sem lei. Não vamos tolerar a violência contra os pequenos, o desmatamento e a degradação do ambiente, que tanto mal já fizeram ao país.

 

“​​Esta é uma das razões, não a única, da criação do Ministério dos Povos Indígenas. Ninguém conhece melhor nossas florestas nem é mais capaz de defendê-las do que os que estavam aqui desde tempos imemoriais. Cada terra demarcada é uma nova área de proteção ambiental. A estes brasileiros e brasileiras devemos respeito e com eles temos uma dívida histórica.

 

“​​Vamos revogar todas as injustiças cometidas contra os povos indígenas.

 

“​​Senhoras e senhores, 

 

“​​Uma nação não se mede apenas por estatísticas, por mais impressionantes que sejam. Assim como um ser humano, uma nação se expressa verdadeiramente pela alma de seu povo. A alma do Brasil reside na diversidade inigualável da nossa gente e das nossas manifestações culturais.

 

“​​Estamos refundando o Ministério da Cultura, com a ambição de retomar mais intensamente as políticas de incentivo e de acesso aos bens culturais, interrompidas pelo obscurantismo nos últimos anos.

 

“​​Uma política cultural democrática não pode temer a crítica nem eleger favoritos. Que brotem todas as flores e sejam colhidos todos os frutos da nossa criatividade, Que todos possam dela usufruir, sem censura nem discriminações.

 

“​​Não é admissível que negros e pardos continuem sendo a maioria pobre e oprimida de um país construído com o suor e o sangue de seus ascendentes africanos. Criamos o Ministério da Promoção da Igualdade Racial para ampliar a política de cotas nas universidades e no serviço público, além de retomar as políticas voltadas para o povo negro e pardo na saúde, educação e cultura.

 

“​​É inadmissível que as mulheres recebam menos que os homens, realizando a mesma função. Que não sejam reconhecidas em um mundo político machista. Que sejam assediadas impunemente nas ruas e no trabalho. Que sejam vítimas da violência dentro e fora de casa. Estamos refundando também o Ministério das Mulheres para demolir este castelo secular de desigualdade e preconceito.

 

“​​Não existirá verdadeira justiça num país em que um só ser humano seja injustiçado. Caberá ao Ministério dos Direitos Humanos zelar e agir para que cada cidadão e cidadã tenha seus direitos respeitados, no acesso aos serviços públicos e particulares, na proteção frente ao preconceito ou diante da autoridade pública. Cidadania é o outro nome da democracia.

 

“​​O Ministério da Justiça e da Segurança Pública atuará para harmonizar os Poderes e entes federados no objetivo de promover a paz onde ela é mais urgente: nas comunidades pobres, no seio das famílias vulneráveis ao crime organizado, às milícias e à violência, venha ela de onde vier.

 

“​​Estamos revogando os criminosos decretos de ampliação do acesso a armas e munições, que tanta insegurança e tanto mal causaram às famílias brasileiras. O Brasil não quer mais armas; quer paz e segurança para seu povo.

 

“​​Sob a proteção de Deus, inauguro este mandato reafirmando que no Brasil a fé pode estar presente em todas as moradas, nos diversos templos, igrejas e cultos. Neste país todos poderão exercer livremente sua religiosidade.

 

“​​Senhoras e senhores, 

 

“​​O período que se encerra foi marcado por uma das maiores tragédias da história: a pandemia de Covid-19. Em nenhum outro país a quantidade de vítimas fatais foi tão alta proporcionalmente à população quanto no Brasil, um dos países mais preparados para enfrentar emergências sanitárias, graças à competência do nosso Sistema Único de Saúde.

 

“​​Este paradoxo só se explica pela atitude criminosa de um governo negacionista, obscurantista e insensível à vida. As responsabilidades por este genocídio hão de ser apuradas e não devem ficar impunes.

 

“​​O que nos cabe, no momento, é prestar solidariedade aos familiares, pais, órfãos, irmãos e irmãs de quase 700 mil vítimas da pandemia.

 

“​​O SUS [Sistema Único de Saúde] é provavelmente a mais democrática das instituições criadas pela Constituição de 1988. Certamente por isso foi a mais perseguida desde então, e foi, também, a mais prejudicada por uma estupidez chamada Teto de Gastos, que haveremos de revogar.

 

“​​Vamos recompor os orçamentos da Saúde para garantir a assistência básica, a Farmácia Popular, promover o acesso à medicina especializada. Vamos recompor os orçamentos da Educação, investir em mais universidades, no ensino técnico, na universalização do acesso à internet, na ampliação das creches e no ensino público em tempo integral. Este é o investimento que verdadeiramente levará ao desenvolvimento do país.

 

“​​O modelo que propomos, aprovado nas urnas, exige, sim, compromisso com a responsabilidade, a credibilidade e a previsibilidade; e disso não vamos abrir mão. Foi com realismo orçamentário, fiscal e monetário, buscando a estabilidade, controlando a inflação e respeitando contratos que governamos este país.

 

“​​Não podemos fazer diferente. Teremos de fazer melhor.

 

“​​Senhoras e senhores, 

 

“​​Os olhos do mundo estiveram voltados para o Brasil nestas eleições. O mundo espera que o Brasil volte a ser um líder no enfrentamento à crise climática e um exemplo de país social e ambientalmente responsável, capaz de promover o crescimento econômico com distribuição de renda, combater a fome e a pobreza, dentro do processo democrático.

 

“​​Nosso protagonismo se concretizará pela retomada da integração sul-americana, a partir do Mercosul, da revitalização da Unasul e demais instâncias de articulação soberana da região. Sobre esta base poderemos reconstruir o diálogo altivo e ativo com os Estados Unidos, a Comunidade Europeia, a China, os países do Oriente e outros atores globais; fortalecendo os BRICS, a cooperação com os países da África e rompendo o isolamento a que o país foi relegado.

 

“​​O Brasil tem de ser dono de si mesmo, dono de seu destino. Tem de voltar a ser um país soberano. Somos responsáveis pela maior parte da Amazônia e por vastos biomas, grandes aquíferos, jazidas de minérios, petróleo e fontes de energia limpa. Com soberania e responsabilidade seremos respeitados para compartilhar essa grandeza com a humanidade – solidariamente, jamais com subordinação.

 

“​​A relevância da eleição no Brasil refere-se, por fim, às ameaças que o modelo democrático vem enfrentando. Ao redor do planeta, articula-se uma onda de extremismo autoritário que dissemina o ódio e a mentira por meios tecnológicos que não se submetem a controles transparentes.

 

“​​Defendemos a plena liberdade de expressão, cientes de que é urgente criarmos instâncias democráticas de acesso à informação confiável e de responsabilização dos meios pelos quais o veneno do ódio e da mentira são inoculados. Este é um desafio civilizatório, da mesma forma que a superação das guerras, da crise climática, da fome e da desigualdade no planeta.

 

“​​Reafirmo, para o Brasil e para o mundo, a convicção de que a Política, em seu mais elevado sentido – e apesar de todas as suas limitações – é o melhor caminho para o diálogo entre interesses divergentes, para a construção pacífica de consensos. Negar a política, desvalorizá-la e criminalizá-la é o caminho das tiranias.

 

“​​Minha mais importante missão, a partir de hoje, será honrar a confiança recebida e corresponder às esperanças de um povo sofrido, que jamais perdeu a fé no futuro nem em sua capacidade de superar os desafios. Com a força do povo e as bênçãos de Deus, haveremos der reconstruir este país.

 

“​​Viva a democracia!

 

“​​Viva o povo brasileiro!

 

“​​Muito obrigado.”

*

*Íntegra do Discurso de Lula no Parlatório do Palácio do Planalto* _*(1º de Janeiro de 2023):*_


Quero começar fazendo uma saudação especial a cada um e a cada uma de vocês. Uma forma de lembrar e retribuir o carinho e a força que recebia todos os dias do povo brasileiro – representado pela Vigília Lula Livre –, num dos momentos mais difíceis da minha vida.

 

Hoje, neste que é um dos dias mais felizes da minha vida, a saudação que eu faço a vocês não poderia ser outra, tão singela e ao mesmo tempo tão cheia de significado:

 

Minha gratidão a vocês, que enfrentaram a violência política antes, durante e depois da campanha eleitoral. Que ocuparam as redes sociais, e que tomaram as ruas, debaixo de sol e chuva, nem que fosse para conquistar um único e precioso voto.

 

Que tiveram a coragem de vestir a nossa camisa e, ao mesmo tempo, agitar a bandeira do Brasil – quando uma minoria violenta e antidemocrática tentava censurar nossas cores e se apropriar do verde- amarelo, que pertence a todo o povo brasileiro.

 

A vocês, que vieram de todos os cantos deste país – de perto ou de muito longe, de avião, de ônibus, de carro ou na boleia de caminhão. De moto, bicicleta e até mesmo a pé, numa verdadeira caravana da esperança, para esta festa da democracia.

 

Mas quero me dirigir também aos que optaram por outros candidatos. Vou governar para os 215 milhões de brasileiros e brasileiras, e não apenas para quem votou em mim.

 

Vou governar para todas e todos, olhando para o nosso luminoso futuro em comum, e não pelo retrovisor de um passado de divisão e intolerância.

 

A ninguém interessa um país em permanente pé de guerra, ou uma família vivendo em desarmonia. É hora de reatarmos os laços com amigos e familiares, rompidos pelo discurso de ódio e pela disseminação de tantas mentiras.

 

O povo brasileiro rejeita a violência de uma pequena minoria radicalizada que se recusa a viver num regime democrático.

 

Chega de ódio, fake news, armas e bombas. Nosso povo quer paz para trabalhar, estudar, cuidar da família e ser feliz.

 

A disputa eleitoral acabou. Repito o que disse no meu pronunciamento após a vitória em 30 de outubro, sobre a necessidade de unir o nosso país.

 

“Não existem dois brasis. Somos um único país, um único povo, uma grande nação.”

 

Somos todos brasileiros e brasileiras, e compartilhamos uma mesma virtude: nós não desistimos nunca.

 

Ainda que nos arranquem todas as flores, uma por uma, pétala por pétala, nós sabemos que é sempre tempo de replantio, e que a primavera há de chegar. E a primavera chegou.

 *

_*Hoje, a alegria toma posse do Brasil, de braços dados com a esperança.*_

 

Minhas queridas amigas e meus amigos.

 

Recentemente, reli o discurso da minha primeira posse na Presidência, em 2003. E o que li tornou ainda mais evidente o quanto o Brasil andou para trás.

 

Naquele 1º de janeiro de 2003, aqui nesta mesma praça, eu e meu querido vice José Alencar assumimos o compromisso de recuperar a dignidade e a autoestima do povo brasileiro – e recuperamos. De investir para melhorar as condições de vida de quem mais necessita – e investimos. De cuidar com muito carinho da saúde e da educação – e cuidamos.

 

Mas o principal compromisso que assumimos em 2003 foi o de lutar contra a desigualdade e a extrema pobreza, e garantir a cada pessoa deste país o direito de tomar café da manhã, almoçar e jantar todo santo dia – e nós cumprimos esse compromisso: acabamos com a fome e a miséria, e reduzimos fortemente a desigualdade.

 

Infelizmente hoje, 20 anos depois, voltamos a um passado que julgávamos enterrado. Muito do que fizemos foi desfeito de forma irresponsável e criminosa.

 

A desigualdade e a extrema pobreza voltaram a crescer. A fome está de volta – e não por força do destino, não por obra da natureza, nem por vontade divina.

 

A volta da fome é um crime, o mais grave de todos, cometido contra o povo brasileiro.

 

A fome é filha da desigualdade, que é mãe dos grandes males que atrasam o desenvolvimento do Brasil. A desigualdade apequena este nosso país de dimensões continentais, ao dividi-lo em partes que não se reconhecem.

 

De um lado, uma pequena parcela da população que tudo tem. Do outro lado, uma multidão a quem tudo falta, e uma classe média que vem empobrecendo ano após ano.

 

Juntos, somos fortes. Divididos, seremos sempre o país do futuro que nunca chega, e que vive em dívida permanente com o seu povo.

 

Se queremos construir hoje o nosso futuro, se queremos viver num país plenamente desenvolvido para todos e todas, não pode haver lugar para tanta desigualdade.

 

O Brasil é grande, mas a real grandeza de um país reside na felicidade de seu povo. E ninguém é feliz de fato em meio a tanta desigualdade.

 

Minhas amigas e meus amigos,

 

Quando digo “governar”, eu quero dizer “cuidar”. Mais do que governar, vou cuidar com muito carinho deste país e do povo brasileiro.

 

Nestes últimos anos, o Brasil voltou a ser um dos países mais desiguais do mundo. Há muito tempo não víamos tamanho abandono e desalento nas ruas.

 

Mães garimpando lixo, em busca do alimento para seus filhos.

 

Famílias inteiras dormindo ao relento, enfrentando o frio, a chuva e o medo.

 

Crianças vendendo bala ou pedindo esmola, quando deveriam estar na escola, vivendo plenamente a infância a que têm direito.

 

Trabalhadoras e trabalhadores desempregados exibindo, nos semáforos, cartazes de papelão com a frase que nos envergonha a todos: “Por favor, me ajuda”.

 

Fila na porta dos açougues, em busca de ossos para aliviar a fome. E, ao mesmo tempo, filas de espera para a compra de automóveis importados e jatinhos particulares.

 

Tamanho abismo social é um obstáculo à construção de uma sociedade verdadeiramente justa e democrática, e de uma economia próspera e moderna.

 

Por isso, eu e meu vice Geraldo Alckmin assumimos hoje, diante de vocês e de todo o povo brasileiro, o compromisso de combater dia e noite todas as formas de desigualdade.

 

Desigualdade de renda, de gênero e de raça. Desigualdade no mercado de trabalho, na representação política, nas carreiras do Estado. Desigualdade no acesso a saúde, educação e demais serviços públicos.

 

Desigualdade entre a criança que frequenta a melhor escola particular, e a criança que engraxa sapato na rodoviária, sem escola e sem futuro. Entre a criança feliz com o brinquedo que acabou de ganhar de presente, e a criança que chora de fome na noite de Natal.

 

_*Desigualdade entre quem joga comida fora, e quem só se alimenta das sobras.*_

 

É inadmissível que os 5% mais ricos deste país detenham a mesma fatia de renda que os demais 95%.

 

Que seis bilionários brasileiros tenham uma riqueza equivalente ao patrimônio dos 100 milhões mais pobres do país.

 

Que um trabalhador ou trabalhadora que ganha um salário mínimo mensal leve 19 anos para receber o equivalente ao que um super rico recebe em um único mês.

 

E não adianta subir o vidro do automóvel de luxo, para não ver nossos irmãos que se amontoam debaixo dos viadutos, carentes de tudo – a realidade salta aos olhos em cada esquina.

 

Minhas amigas e meus amigos.

 

É inaceitável que continuemos a conviver com o preconceito, a discriminação e o racismo. Somos um povo de muitas cores, e todas devem ter os mesmos direitos e oportunidades.

 

Ninguém será cidadão ou cidadã de segunda classe, ninguém terá mais ou menos amparo do Estado, ninguém será obrigado a enfrentar mais ou menos obstáculos apenas pela cor de sua pele.

 

Por isso estamos recriando o Ministério da Igualdade Racial, para enterrar a trágica herança do nosso passado escravista.

 

Os povos indígenas precisam ter suas terras demarcadas e livres das ameaças das atividades econômicas ilegais e predatórias. Precisam ter sua cultura preservada, sua dignidade respeitada e sua sustentabilidade garantida.

 

Eles não são obstáculos ao desenvolvimento – são guardiões de nossos rios e florestas, e parte fundamental da nossa grandeza enquanto nação. Por isso estamos criando o Ministério dos Povos Indígenas, para combater 500 anos de desigualdade.

 

Não podemos continuar a conviver com a odiosa opressão imposta às mulheres, submetidas diariamente à violência nas ruas e dentro de suas próprias casas.

 

É inadmissível que continuem a receber salários inferiores ao dos homens, quando no exercício de uma mesma função. Elas precisam conquistar cada vez mais espaço nas instâncias decisórias deste país – na política, na economia, em todas as áreas estratégicas.

 

As mulheres devem ser o que elas quiserem ser, devem estar onde quiserem estar. Por isso, estamos trazendo de volta o Ministério das Mulheres.

 

_*Foi para combater a desigualdade e suas sequelas que nós vencemos a eleição. E esta será a grande marca do nosso governo.*_

 

Dessa luta fundamental surgirá um país transformado. Um país grande, próspero, forte e justo. Um país de todos, por todos e para todos. Um país generoso e solidário, que não deixará ninguém para trás.

 

Minhas queridas companheiras e meus queridos companheiros.

 

Reassumo o compromisso de cuidar de todos os brasileiros e brasileiras, sobretudo daqueles que mais necessitam. De acabar outra vez com a fome neste país. De tirar o pobre da fila do osso para colocá-lo novamente no Orçamento.

 

Temos um imenso legado, ainda vivo na memória de cada brasileiro e cada brasileira, beneficiário ou não das políticas públicas que fizeram uma revolução neste país.

 

Mas não nos interessa viver do passado. Por isso, longe de qualquer saudosismo, nosso legado será sempre o espelho do futuro que vamos construir para este país.

 

Em nossos governos, o Brasil conciliou crescimento econômico recorde com a maior inclusão social da história. E se tornou a sexta maior economia do mundo, ao mesmo tempo em que 36 milhões de brasileiras e brasileiros saíram da extrema pobreza.

 

Geramos mais de 20 milhões de empregos com carteira assinada e todos os direitos assegurados. Reajustamos o salário mínimo sempre acima de inflação.

 

Batemos recorde de investimentos em educação – da creche à universidade –, para fazer do Brasil um exportador também de inteligência e conhecimento, e não apenas de commodities e matéria-prima.

 

Nós mais que dobramos o número de estudantes no ensino superior, e abrimos as portas das universidades para a juventude pobre deste país. Jovens brancos, negros e indígenas, para quem o diploma universitário era um sonho inalcançável, tornaram-se doutores.

 

Combatemos um dos grandes focos de desigualdade – o acesso à saúde. Porque o direito à vida não pode ser refém da quantidade de dinheiro que se tem no banco.

 

Fizermos o Farmácia Popular, que forneceu medicamentos a quem mais precisava, e o Mais Médicos, que levou atendimento a cerca de 60 milhões de brasileiros e brasileiras, nas periferias das grandes cidades e nos pontos mais remotos do Brasil.

 

Criamos o Brasil Sorridente, para cuidar da saúde bucal de todos os brasileiros e brasileiras.

 

Fortalecemos o nosso Sistema Único de Saúde. E quero aproveitar para fazer um agradecimento especial aos profissionais do SUS, pela grandiosidade do trabalho durante a pandemia. Enfrentaram bravamente, ao mesmo tempo, um vírus letal e um governo irresponsável e desumano.

 

Nos nossos governos, investimos na agricultura familiar e nos pequenos e médios agricultores, responsáveis por 70% dos alimentos que chegam à nossa mesa. E fizemos isso sem descuidar do agronegócio, que obteve investimentos e safras recordes, ano após ano.

 

Tomamos medidas concretas para conter as mudanças climáticas, e reduzimos o desmatamento da Amazônia em mais de 80%.

 

O Brasil consolidou-se como referência mundial no combate à desigualdade e à fome, e passou a ser internacionalmente respeitado, pela sua política externa ativa e altiva

 

Fomos capazes de realizar tudo isso cuidando com total responsabilidade das finanças do país. Nunca fomos irresponsáveis com o dinheiro público.

 

Fizemos superávit fiscal todos os anos, eliminamos a dívida externa, acumulamos reservas de cerca de 370 bilhões de dólares e reduzimos a dívida interna a quase metade do que era anteriormente.

 

Nos nossos governos, nunca houve nem haverá gastança alguma. Sempre investimos, e voltaremos a investir, em nosso bem mais precioso: o povo brasileiro.

 

Infelizmente, muito do que construímos em 13 anos foi destruído em menos da metade desse tempo. Primeiro, pelo golpe de 2016 contra a presidenta Dilma. E na sequência, pelos quatro anos de um governo de destruição nacional cujo legado a História jamais perdoará:

 

700 mil brasileiros e brasileiras mortos pela Covid.

 

125 milhões sofrendo algum grau de insegurança alimentar, de moderada a muito grave.

 

33 milhões passando fome.

 

Estes são apenas alguns números. Que na verdade não são apenas números, estatísticas, indicadores – são pessoas. Homens, mulheres e crianças, vítimas de um desgoverno afinal derrotado pelo povo, no histórico 30 de outubro de 2022.

 

Os Grupos Técnicos do Gabinete de Transição, que por dois meses mergulharam nas entranhas do governo anterior, trouxeram a público a real dimensão da tragédia.

 

_*O que o povo brasileiro sofreu nestes últimos anos foi a lenta e progressiva construção de um genocídio.*_

 

Quero citar, a título de exemplo, um pequeno trecho das 100 páginas desse verdadeiro relatório do caos produzido pelo Gabinete de Transição. Diz o relatório:

 

_“O Brasil bateu recordes de feminicídios, as políticas de igualdade racial sofreram severos retrocessos, produziu-se um desmonte das políticas de juventude, e os direitos indígenas nunca foram tão ultrajados na história recente do país._

 

_Os livros didáticos que deverão ser usados no ano letivo de 2023 ainda não começaram a ser editados; faltam remédios no Farmácia Popular; não há estoques de vacinas para o enfrentamento das novas variantes da COVID-19._

 

_Faltam recursos para a compra de merenda escolar; as universidades corriam o risco de não concluir o ano letivo; não existem recursos para a Defesa Civil e a prevenção de acidentes e desastres. Quem está pagando a conta deste apagão é o povo brasileiro.”_

 

Meus amigos e minhas amigas.

 

Nesses últimos anos, vivemos, sem dúvida, um dos piores períodos da nossa história. Uma era de sombras, de incertezas e de muito sofrimento. Mas esse pesadelo chegou ao fim, pelo voto soberano, na eleição mais importante desde a redemocratização do país.

 

Uma eleição que demonstrou o compromisso do povo brasileiro com a democracia e suas instituições.

 

Essa extraordinária vitória da democracia nos obriga a olhar para a frente e a esquecer nossas diferenças, que são muito menores que aquilo que nos une para sempre: o amor pelo Brasil e a fé inquebrantável em nosso povo.

 

Agora, é hora de reacendermos a chama da esperança, da solidariedade e do amor ao próximo.

 

Agora é hora de voltar a cuidar do Brasil e do povo brasileiro. Gerar empregos, reajustar o salário mínimo acima da inflação, baratear o preço dos alimentos.

 

Criar ainda mais vagas nas universidades, investir fortemente na saúde, na educação, na ciência e na cultura.

 

Retomar as obras de infraestrutura e do Minha Casa Minha Vida, abandonadas pelo descaso do governo que se foi.

 

É hora de trazer investimentos e reindustrializar o Brasil. Combater outra vez as mudanças climáticas e acabar de uma vez por todas com a devastação de nossos biomas, sobretudo a Amazônia.

 

Romper com o isolamento internacional e voltar a se relacionar com todos os países do mundo.

 

Não é hora para ressentimentos estéreis. Agora é hora de o Brasil olhar para a frente e voltar a sorrir.

 

Vamos virar essa página e escrever, em conjunto, um novo e decisivo capítulo da nossa história.

 

Nosso desafio comum é o da criação de um país justo, inclusivo, sustentável, criativo, democrático e soberano, para todos os brasileiros e brasileiras.

 

Fiz questão de dizer ao longo de toda a campanha: o Brasil tem jeito. E volto a dizer com toda convicção, mesmo diante do quadro de destruição revelado pelo Gabinete de Transição: o Brasil tem jeito. Depende de nós, de todos nós.

 

Em meus quatro anos de mandato, vamos trabalhar todos os dias para o Brasil vencer o atraso de mais de 350 anos de escravidão. Para recuperar o tempo e as oportunidades perdidas nesses últimos anos. Para reconquistar seu lugar de destaque no mundo. E para que cada brasileiro e cada brasileira tenha o direito de voltar a sonhar, e as oportunidades para realizar aquilo que sonha.

 

Precisamos, todos juntos, reconstruir e transformar o Brasil.

 

Mas só reconstruiremos e transformaremos de fato este país se lutarmos com todas as forças contra tudo aquilo que o torna tão desigual.

 

Essa tarefa não pode ser de apenas um presidente ou mesmo de um governo. É urgente e necessária a formação de uma frente ampla contra a desigualdade, que envolva a sociedade como um todo:

 

trabalhadores, empresários, artistas, intelectuais, governadores, prefeitos, deputados, senadores, sindicatos, movimentos sociais, associações de classe, servidores públicos, profissionais liberais, líderes religiosos, cidadãos e cidadãs comuns.

 

_*É tempo de união e reconstrução.*_

 

Por isso, faço este chamamento a todos os brasileiros e brasileiras que desejam um Brasil mais justo, solidário e democrático: juntem-se a nós num grande mutirão contra a desigualdade.

 

Quero terminar pedindo a cada um e a cada uma de vocês: que a alegria de hoje seja a matéria-prima da luta de amanhã e de todos os dias que virão. Que a esperança de hoje fermente o pão que há de ser repartido entre todos.

 

E que estejamos sempre prontos a reagir, em paz e em ordem, a quaisquer ataques de extremistas que queiram sabotar e destruir a nossa democracia.

 

Na luta pelo bem do Brasil, usaremos as armas que nossos adversários mais temem: a verdade, que se sobrepôs à mentira; a esperança, que venceu o medo; e o amor, que derrotou o ódio.

 

_*Viva o Brasil. E viva o povo brasileiro!*_


Edição: Tânia Rego / Agência Brasil (Brasília-DF, 01/01/2023) 

...