segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Populismo, política das migalhas e Bolsonarismo com o Teto de Gastos * Reinaldo Conceição da Silva/SP

Populismo, política das migalhas e Bolsonarismo com o Teto de Gastos

Reinaldo Conceição da Silva/SP

No Brasil e em qualquer país de economia subdesenvolvida a prática populista é bem recorrente de modo a garantir meios base de confiabilidade popular com o intuito de manter uma política moderada de administração do capitalismo sem recorrer a processamentos radicais que vise um acirramento da luta de classes de acordo com o que está disposto sobre as disputas antagônicas de setores da sociedade.

 Nesse processo se faz necessário uma desarticulação política dos setores populares os recompensando com reformas políticas, bolsas rendas e projetos de projeção conjunta base, como programas de família, auxílio a planos de saúde, infraestrutura e engenharia social.

 Essas medidas são feitas para administrar o capitalismo e podem ser tomadas por uma direita liberal ou uma esquerda social democrata, portanto não podem se aprofundar nos reais fatores conjuntos envolventes de uma sociedade, tão pouco na causa de toda a aflição estrutural, cultural e ética conjunta envolventes aos conflitos sociais. 

 Desse modo não podem servir de modo efetivo e conjunto com propensão a longo prazo a satisfazer as necessidades e desejos puramente humanos restituídos a uma dinâmica previamente instituída nem para os setores da Burguesia e nem para os trabalhadores de modo geral. Nesse processo o chamado populismo é em sua natureza e sempre será uma política sucetivel  a desgastes e sempre será passageira, de acordo com a constante configuração da divisão geo-estrutural do trabalho e os riscos inerentes.

Porque ??? Porque o Capital em seu impulso irracional é incontrolável. Ele exige de seus agentes correspondentes (capitalistas) seu crescimento desmedido e nesse processo é ele de acordo com as condições socio-estruturais e econômicas de cada localidade  que configura novos meios de exploração do trabalho e desenvolve novas processões de extração de Mais-valia configurando novos métodos de atuação econômica.  Por isso que as medidas populistas nunca serão efetivas de modo conjunto e é por isso que as medidas populistas existem. Tanto de esquerda quanto de direita, como medida de reação política a combater o acirramento da luta de classes resultantes da natureza da forma de produção e relação puramente capitalista.

 O mundo tem um longo histórico de líderes políticos com atuação populista, Hugo Chávez, Cristina Khristner, Victor Orban, Luiz Inácio Lula da Silva, Evo Morales, Vladimir Putin, Nicolaz Sarcozi, Boris Jonhson GetúlioVargas, Jair Bolsonaro e afins...

Todos eles instituídos de modo a atuar de forma populista para desenvolver uma política de administração do capitalismo sem acirrar a luta de classes em suas respectivas localidades, aqui podemos cooptar o ponto focal da questão porque para esse objetivo são válidos táticas e truques das mais diversas formas, geralmente um populismo de esquerda visa uma processão de conciliação de classes e políticas de engenharia social conjunta, já o populismo de direita é caracterizado pelo seu teor altamente moralista, combate a corrupção, valorização de costumes socio-culturais e moralmente instituídos e é claro, são nesse processo populista colocadas paltas indentitárias e até sensos místicos e inimigos forjados são desenvolvidos nesse processo para alimentar seu populismo que por sua vez tem como objetivo amenizar a luta de classes, e claro... o populismo leva e estimula a despolitização.

 A politização traz a tona a consciência social, traz o conhecimento sobre a compreensão da realidade e isso implica no acirramento da luta de classes, o fim que o populismo quer evitar.

 Os Governos Lulopetistas são provas disso !!!

Se vocês meus caros leitores observarem meus últimos textos explicito isso de modo bem abundantemente. Claro que se analisarmos pelo fator puramente econômico os Governos Lulopetistas acumulam alguns sucessos, mas claro isso não é relativo a nenhum mérito do Lula e nem do PT individualmente... No início da primeira década do século XXI países centros industriais do mundo como a China estavam em pleno processo de expansão produtiva barateando insumos pelo próprio processamento maquinário instituído as forças de produção fabril. Importando commodits de países com economia alimentícia como o Brasil gerando superávit em extração tributária fornecendo seguridades de manutenção de rolamento de dívidas ao setor financeiro com plataformas de pagamentos dos juros da dívida ainda tendo espaço monetário para projeção social base mitigando o processo Neo-liberal.  Hoje o governo Bolsonaro não conta com essa sorte com a diminuição das forças produtivas da Alemanha, da China e da Coreia do Sul como exemplo e a continua baixa de exportação de commodits força as elites financeiras nacionais a manterem a média do chamado risco Brasil com um limite do teto de gasto valorizando as plataformas de pagamentos dos juros da dívida sobre os outros fatores de gerenciamento estatal para com a sociedade. Uma vez que nesse processo a política monetária do Banco Central fornece seguridade e solidez na manutenção dos títulos do tesouro nacional oriundos do enxugamento dos caixas dos bancos internacionais no mercado financeiro. Até o momento isso não era problema ao Bolsonarismo, mas está se tornando....

  • Populismo Bozoista vs Política de manutenção do teto de gastos.
A palavra populismo vem de uma conjectura linguística que dá conotação de popular e/ou popularidade (Não que a medida por assim dizer possa ter projeção popular) mas que ela tenha reconhecimento popular. O populismo é baseado no mérito do reconhecimento coletivo conjunto de uma operação política, desde uma simples retórica até em processamentos de ações. A tática do populismo tem como base o reconhecimento do mérito da ação e/ou discurso por um período momentâneo, uma vez que o populismo não se importa com seu efeito de longo prazo, ele não pode porque sua ação populista consiste no abafamento da luta de classes, por isso como dito o populista tanto de esquerda quanto de direita desenvolvem procedimentos mirabolantes para manter a popularidade do mérito de seu reconhecimento. Manter sua popularidade com o objetivo de abafar a luta de classes.

  O Populismo de Bolsonaro não é ativo como o de Lula. Ele é passivo pos Bolsonaro recorreu ao populismo pela sua baixa popularidade recorrente a sua frente de atuação ao combate a pandemia do corona virús (que levaremos a uma questão de análise de Biopoder desenvolvida por Foucoalt em um próximo texto) e de seus escândalos envolvendo sua família com milícias e as repassadas constantes de cheques a milícia e a Primeira dama Michelle Bolsonaro que geram desconfianças de atuação, incrementadas com suas articulações meia-boca com o chamado centrão !!!

 Bolsonaro para recuperar sua popularidade para com os setores operários devido seu próprio descaso com o mesmo referente a pandemia da Covid-19 desenvolve políticas de obras básicas sem projeção popular mas de cunho populista incluindo o pavimento de rodovias, construções de hospitais, emissão de verbas a leitos, inaugurações e afins colocando em xeque a manutenção do limite do teto de gastos imposto pelo governo Temer.

 A Reforma tributária entra nesse processo para aumentar os impostos sobre o consumo de dados e compras processuais on-line e sobre consumo de artigos como livros, jornais, parcelas de consumo de dados processuais e TV a cabo para desenvolver um novo programa de auxílio base aos mais carentes que vise substituir o Bolsa Família.... O Renda Brasil, na qual segundo o desenho elaborado por Paulo Guedes terá um maior espaço de atuação que o Bolsa Família mas com menor volume monetário de distribuição, embora também a própria reforma tributária visa exonerar folhas de pagamento das grandes fortunas e propriedades dando maior vazão ao mercado financeiro, as medidas populistas incrementadas por Bolsonaro ameaçam romper o limite do teto de gastos infligindo diretamente no processo de auto-valorização do capital para com setores globais da Burguesia que vendem e compram títulos do tesouro brasileiro no mercado financeiro, infligindo nas plataformas médias de manutenção dos juros da dívida colocando em descrédito a política monetária do Banco Central para com o mercado financeiro e consequentemente com as ações circulantes no mercado.

 A Burguesia que ocupa todos os cargos aquisitivos na Direita e no centrão nesse processo de intervenção direta as articulações de valorização do capital podem promover um processo de Impiethement contra o Bolsonaro (uma vez que um Impiethement pode ter base jurídica, mas seu movimento é exclusivamente político).

(Acredito que nessa realidade Rodrigo Maia irá obsrvar vários crimes cometidos pelo Bolsonaro e sua família).

Por isso que o próprio Paulo Guedes atua como um agente negociador nesse processo se aproveitando dos mecanismos a sua disposição referentes a cláusulas constitutivas que permitem furos exclusivos no limite do teto de gastos com gastos exclusivos a pandemia. (Embora os gastos desenvolvidos pelas medidas populistas do Bolsonaro não tem relações diretas a pandemia uma vez que a construção de novos hospitais com novos leitos e equipamentos adequados exigem um período de tempo de confecção portanto não sendo um investimento de prioridade primária). Fora outras obras aleatórias de um puro populismo causado pela péssima administração frente a pandemia e sua instabilidade familiar frente aos fatores econômicos perdendo apoio da Burguesia pelo processamento de reconquista das classes populares em busca de uma reeleição.

  • Como combater o populismo de modo a trazer a política para as aptidões populares ???
Não há outro modo fora da politização e da radicalização pela compreensão da realidade e pelo conhecimento, e isso implica no reconhecimento da política processual por uma dinâmica instituída que promove uma extensão do conceito de guerra... Luta de classes !!!

O populismo faz com que as castas mais pobres se contente com um sistema de migalhas pela despolitização, sendo elas sucetiveis a qualquer crápula. A politização e a concietização da realidade embasada em sua situação de classe promoverá classes operárias com melhor concientização e se articule conjuntamente de modo a modelar uma dinâmica conjuntural onde as articulações materiais não lhe forneçam mais riscos de deterioração dos meios processuais de manutenção da vida.

 Combater o Indentitárismo e a Ideologia de classe média devem ser a sina dos novos movimentos da classes trabalhadora mundial. Porque Adolf Hitler já foi um populista de extrema direita. O populismo é a restauração da política de despidação da galinha de forma cruel e fornecer de ti mesmo a mesma galinha, a única fonte de mantimentos, alimentos e manutenção cruel da vida.

Reinaldo conceição da Silva/SP

sábado, 22 de agosto de 2020

Os Limites Pós-Modernos das Idéias de Foucault * David García Colín Carrillo

*Os Limites Pós - Modernos das Idéias de Foucault

: uma crítica marxista

David García Colín Carrillo 21/08/2020

Michel Foucault foi um destacado filósofo francês do chamado pós-estruturalismo. Teve uma grande influência dentro da corrente pós-moderna de esquerda, entre a esquerda acadêmica e entre os ativistas de diversos movimentos, como o feminismo, o anarquismo e o neozapatismo. Muitos ativistas o veem como um complemento e mesmo como uma alternativa ao marxismo. No lugar da luta de classes, em que se baseia a política marxista, coloca “relações de poder”; no lugar da luta para abolir a exploração, coloca a “resistência”; o lugar do proletariado como sujeito revolucionário é ocupado por uma infinita rede de lutas particulares e isoladas contra o poder; em vez do materialismo histórico e do papel determinante das relações de produção, coloca-se o poder determinante do “discurso” na configuração do poder. Acreditamos que as proposições de Foucault de forma alguma constituem uma alternativa ao marxismo e que ambos são irreconciliáveis, como a água e o azeite. Trataremos de mostrar isso no presente artigo.

As confusas “relações de poder”

Foucault assinala que as relações humanas são determinadas por relações de poder que se configuram historicamente. Afirma que:

“As múltiplas relações de poder atravessam, caracterizam, constituem o corpo social; e estas não podem ser dissociadas, nem se estabelecer, nem funcionar sem uma produção, uma acumulação, uma circulação, um funcionamento do discurso”1.

Embora seja difícil encontrar uma definição precisa do que Foucault entende por “relações de poder”, poderíamos dizer que são relações de subordinação e domínio nas quais os participantes se enfrentam com diversas “estratégias de poder” e sob diferentes “relações de força”. A definição é tão abstrata que pode ser preenchida com qualquer um ou nenhum conteúdo de classe. Em outra parte, sustenta que “o poder não é justamente uma substância, um fluido, algo que brota disso ou daquilo, mas um conjunto de mecanismos e procedimentos, cujo papel ou função e tema, ainda que não o logrem, consistem precisamente em assegurar o poder”2. Uma formosa tautologia: o poder assegura o poder.
Para o marxismo, o poder, entendido como subordinação e domínio do homem pelo homem, tem sua origem na exploração do homem pelo homem. Ambas as formas não coincidem exatamente, mas se combinam. A exploração do trabalho alheio se combinou e se reforçou com a opressão da mulher, com a opressão de outros grupos sociais subordinados e mesmo com o racismo. As diversas formas de exploração: despótica, escravista, feudal e burguesa – e dentro delas, cada uma de suas formas histórico-concretas – configuraram, subsumiram e enfatizaram à sua maneira as diversas formas de opressão no interesse da classe dominante. No marxismo, não existe ambiguidade. Mais a frente regressaremos a este ponto.
Foucault concentrou sua atenção no estudo de como se manifestam as relações de poder em espaços como cárceres, hospitais e escolas; no contexto da cotidianidade. Supunha que o poder, antes de mais nada, se manifestava no contexto do cotidiano, contexto este que chamou de “microfísica do poder” ou de “capilaridade”. Assim, por exemplo, nos âmbitos da família existem “relações de poder” entre pais e filhos, marido e mulher, que se expressam em regras de como se devem comportar os indivíduos, regras essas em que se ocultam discursos de poder nos quais a mulher e as crianças são dominados pelo pai.

“Entre cada ponto do corpo social, entre um homem e uma mulher, em uma família, entre um professor e seu aluno, entre o que sabe e o que não sabe, passam relações de poder que não são a projeção pura e simples do grande poder do soberano sobre os indivíduos; são, melhor dizendo, o solo movediço e concreto sobre o qual esse poder se incorpora, as condições de possibilidade de seu funcionamento”3.

É como se o poder surgisse diretamente das relações individuais, como uma manifestação imediata da própria socialização humana.
Foucault realizou estudos sobre como se exerciam a pena e o castigo durante a época das monarquias absolutistas e como mudaram com a idade moderna. No primeiro caso, o castigo era brutal: torturas e suplícios, como ser queimado em praça pública pela Inquisição; essa forma de castigo expressava o poder do monarca com todo o seu despotismo absoluto. Na época da Ilustração, o castigo se tornou mais “racional”, marcado pelos critérios próprios de eficiência das ideias ilustradas, que terminaram se expressando, por exemplo, no projeto e operação das prisões modernas que controlam e administram racionalmente até os corpos dos “delinquentes”.
Foucault assinala que: “O momento em que se percebe que era, segundo a economia do poder, mais eficaz e mais rentável vigiar do que castigar. Este momento corresponde à formação, ao mesmo tempo rápida e lenta, de um novo tipo de exercício do poder no século XVIII e inícios do século XIX”4. Ademais, Foucault deu relevo aos “saberes” ou teorias que se expressam nas instituições mentais, teorias que separam os “sãos” dos “loucos”. Para Foucault, todo saber expressa uma intenção de poder. Foucault tende a visualizar a sociedade como um imenso cárcere, em que, de alguma forma, todos somos presidiários e carcereiros observados na “sala de controle” do poder.

“A delinquência, com os agentes ocultos que a buscam, mas também com o rastreio generalizado que autoriza, constitui um meio de vigilância perpétua sobre a população: um aparato que permite controlar, através dos próprios delinquentes, todo o campo social”5.

É evidente a aproximação Orwelliana.

Todos somos opressores

Mas, ao contrário da distopia de Orwell, o poder, em Foucault, está descentralizado, ou seja, que todo indivíduo é um agente ativo e passivo dele e inclusive as duas coisas ao mesmo tempo. O poder, segundo Foucault, é mais exercido que possuído. Essa ênfase no poder e em sua onipresença foi, sem dúvida, resultado do efeito duplo da derrota do movimento dos trabalhadores depois do Maio francês – nas mãos da burocracia reformista e stalinista que o traiu – como também da espantosa burocracia russa que traiu a Revolução de Outubro. A afinidade com o anarquismo é evidente em sua obscura concepção do poder em geral. Foucault, na realidade, não entendeu Marx e o confundiu com o stalinismo e os horrorosos manuais stalinistas, ou o combateu na forma da caricatura mecânica e escolástica como o expôs Althusser. À pergunta “Está alinhado com a posição marxista?” Foucault respondeu de forma sincera:

“Não o sei. Verás, não estou seguro de saber o que é o marxismo e não creio que exista como algo abstrato. De forma que, quando mencionas o marxismo, te pergunto a qual marxismo te referes […] Em outras palavras, não sei o que é o marxismo. Tento lutar com os objetos de minha própria análise, razão por que, quando uso um conceito utilizado por Marx ou pelos marxistas, um conceito útil e tolerável, para mim é indiferente. Sempre me neguei a considerar como fator decisivo estar ou não de acordo com o marxismo na hora de negar ou aceitar o que digo. Não poderia me importar menos”6.

Ou seja, a derrota política de 1968 significou para Foucault a impossibilidade virtual de realizar o comunismo, por mais desejável que este fosse:

“Na realidade, há duas espécies de utopias: as utopias proletárias socialistas, que gozam da propriedade de não se realizar nunca, e as utopias capitalistas que, infelizmente, tendem a se realizar com muita frequência”7.

Os estudos de Foucault sobre as formas históricas de exercício do poder e das ideologias que expressam não carecem de interesse. Vigiar e castigar é, sem dúvida, sua obra mais sólida em termos de sua documentação. No entanto, sua visão é superficial ao não explicar a origem e o conteúdo do poder e se limitar ao nível descritivo. O próprio Foucault confessa de certa forma essa superficialidade:

“Tratava-se de não analisar o poder no plano da intenção ou da decisão, de não procurar tomá-lo pelo lado interno, de não propor a questão (que acredito ser labiríntica e sem saída) que consiste em dizer: quem tem, então, o poder?, que tem na cabeça?, que busca quem tem o poder? Havia que se estudar o poder, ao contrário, pelo lado de sua intenção – se ela existe – se ela se investe completamente dentro de práticas reais e efetivas; estudá-lo, de certo modo, pelo lado de sua cara externa”8.

Foucault está obcecado em saber como se manifesta o poder, mas não sabe como surge porque, para ele, está sempre presente como uma manifestação metafísica. Embora Foucault assinale, incidentalmente, que as formas de pena e castigo da modernidade correspondem à ascensão da burguesia, a tendência geral de seu pensamento é explicar o poder como manifestação de um discurso que expressa “relações de poder”. “O discurso não é simplesmente aquele que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquele pelo qual, e por meio do qual se luta, aquele poder que se deseja conquistar”9. Estamos diante de um círculo vicioso que se remete do poder ao discurso e vice-versa. Isto é idealismo ou a corrente que explica a realidade por meio das ideias. O marxismo, pelo contrário, explica a sociedade a partir da realidade material e das relações sociais objetivas que se transformam historicamente. O marxismo, em sua essência, é materialista-dialético, o contraste não poderia ser mais nítido. Marx e Engels criticaram os filósofos especulativos que realizam:

“a arte de converter as cadeias reais e objetivas, que existem fora de mim, em cadeias dotadas de uma existência puramente ideal, puramente subjetiva, que ocorre somente em mim e, portanto, todas as lutas externas, sensíveis, em puras lutas especulativas”10.

É verdade que Foucault não omite o caráter histórico dessas relações de poder, mas, ao torná-las parte imanente das relações humanas, as eterniza. Foucault vê “relações de poder” em todas as partes e em todas as épocas, e a tarefa do investigador, desde o seu ponto de vista, é explicar como se manifestam na superfície. Para Foucault, somos todos sujeitos dessas relações, somos opressores e oprimidos ao mesmo tempo: o operário pelo burguês, a esposa pelo operário, os filhos pelos pais. O poder é uma “malha” hipostasiada ou inchada da qual todos fazemos parte, um caleidoscópio que se entrecruza e se alterna.
Foi essa concepção fragmentária das lutas e a incapacidade de ver o peso relativo de cada uma delas que Foucault deixou como herança à teoria da interseccionalidade. Assim, o trabalhador explorado também é um opressor, pois o poder “é exercido em rede, e, nela, os indivíduos não só circulam, como também estão sempre em situação de sofrê-lo e também de exercê-lo. Nunca são o alvo inerte ou consentidor do poder, são sempre seus retransmissores. Em outras palavras, o poder transita por meio dos indivíduos, não se aplica a eles”11. Assim, pois, Foucault converte a maioria da humanidade trabalhadora em opressora. Se as relações de poder são eternas, que sentido tem a luta contra a opressão? Se o trabalhador é tão opressor quanto o burguês, que sentido tem a luta pelo socialismo? O fato de que os trabalhadores possam se tornar presas de preconceitos machistas ou homofóbicos – situação que certamente ocorre – isso não elimina o seu papel central na produção capitalista e seu potencial para destruir pela raiz o sistema capitalista, mas como Foucault não entende de relações materiais de classe coloca o trabalhador no mesmo saco junto ao seu explorador.

A onipresença do poder

O caráter tão abstrato das “relações de poder” apaga as diferenças de classe e aquelas se confundem com a própria natureza social do ser humano. Não basta identificar e descrever o funcionamento das relações de poder, é necessário, acima de tudo, entender o seu caráter, sentido e origem. Foucault fala de como se exerce o poder, mas não sabe o que é nem de onde vem. Por mais que tentem negá-lo os antropólogos burgueses, as poucas sociedades de caçadores-coletores, que ainda não haviam sido dissolvidas ou corrompidas pelo capitalismo, apresentam relações sociais igualitárias e os assuntos comuns são resolvidos de forma comunitária. Falar aqui de “relações de poder” é uma calúnia burguesa contra a humanidade. Mas, como o conceito de poder é tão ambíguo e gelatinoso, é possível que algum discípulo de Foucault, astuto, objete que, mesmo aqui, existem relações de subordinação do indivíduo à sociedade. Realmente, não sabemos se algum neandertal se sentiu oprimido quando o clã lhe exigia cercar um mamute, deste ou daquele lado, mas, sendo o ser humano um animal social, é impossível destacar o indivíduo da sociedade e nunca será possível fazer isso. Engels escreveu em uma carta que combate as ideias de Bakunin que:

“nenhuma ação comum é possível sem a imposição a algumas pessoas de uma vontade alheia, ou seja, de uma autoridade. Seja pela vontade de uma maioria de votantes, de um comitê dirigente ou de um só homem, será sempre uma vontade imposta aos dissidentes, mas sem esta vontade única e diretora, nenhuma cooperação é possível”12.

Para o marxismo, do que se trata é de saber sob que condições históricas e econômicas esse caráter social do trabalho, ao qual se submete o indivíduo, significa opressão e sob que condições históricas é possível eliminar o caráter explorador sob o qual se realizou o trabalho social desde que surgiram a civilização e a luta de classes. O erro de Foucault se constitui em pôr um sinal de igualdade entre trabalho social e opressão, como se a única forma de socialização possível fosse de caráter opressivo.
Na realidade, os homens e as mulheres das sociedades caçadoras-coletoras gozam de uma ampla liberdade pessoal sem que exista opressão em sua integração ao seu clã ou coletividade, de fato daqui obtêm seu sentido de individualidade, que é muito diferente da decadente subjetividade capitalista. É com o nascimento da sociedade de classes que surgem simultaneamente diversas formas de opressão: a mulher se subordina ao varão proprietário e à família como forma de escravidão doméstica, os filhos se convertem em propriedades e vias de transmissão da herança, as castas nascem como uma forma de se fixar a estratificação social, o racismo surge como justificação da escravidão e da conquista imperialista. Com a divisão do trabalho, não só na economia, mas também na administração do Estado, surgem diversas instituições com sua burocracia e autonomia relativa, com todos os protocolos e regras infinitas, como tanto gostam de sublinhar os seguidores de Foucault. Com a classe dominante, surge uma ideologia dominante que se infiltra de diversas formas em todos os poros da sociedade. Nasce o “discurso de poder”, que tanto obceca os pós-modernos, como se fosse a origem da opressão quando é, na realidade, um efeito que reage dialeticamente sobre sua própria base. Por isso, o marxismo sublinha a origem, o sentido e a funcionalidade das diversas formas de opressão integradas e reforçadas pelos diversos modos de produção classistas.
Ao ser onipresente e não ter uma fonte identificável, o poder se converte em uma força metafísica ou em parte da natureza humana. É o retorno, sob novas e estridentes formas, de um dos mitos burgueses mais velhos: o homem como lobo do homem com uma natureza eterna. O aparente radicalismo se converte em uma ideia reacionária vulgar: o homem é opressor por natureza. O poder se manifesta e é exercido por puro sadismo. Para Foucault, o ser humano está em guerra perpétua: “Faltam mapas estratégicos, mapas de combate, porque estamos em guerra permanente, e a paz é, nesse sentido, a pior das batalhas, a mais furtiva e a mais mesquinha”.
Lenin havia escrito, seguindo Clausewitz, que a política é a continuação da guerra por outros meios, mas Lenin se referia à luta de classes e à tarefa de organizar as massas trabalhadoras para a construção do socialismo. Para o marxismo, a subordinação do homem pelo homem tem uma origem e história, remonta-se à divisão da sociedade em classes. Para Foucault, a opressão só tem história, mas é eterna, imanente ao próprio homem. Não há dúvida de que, para Foucault, as relações de opressão são imanentes ao ser humano. Por exemplo, em uma entrevista realizada em 1980 à pergunta: “É intrínseco à existência humana que sua organização se transforme em uma forma repressiva de poder?” Ele respondeu:

“Sim. Claro. Tão logo haja pessoas que se encontrem em uma posição – dentro do sistema de relações de poder – onde possam agir sobre outros e determinar a vida e o comportamento destes”13.

Mas essa possibilidade de agir sobre outros – concentrando riqueza na forma de propriedade privada – não existiu sempre e, portanto, a opressão não é nem um pouco intrínseca ao ser humano. Foucault fala de “mapas estratégicos”, “mapas de combate”, mas não tem nenhuma estratégia a oferecer além da fraseologia barulhenta.
Foucault tomou de Nietzsche o estilo oracular e quase-poético, a forma de escrever obscura e ambígua cheia de metáforas estridentes. É verdade que seus aforismos são provocadores, sugestivos e convidam à reflexão; no entanto, também convidam à confusão. O convite à reflexão não se realiza de forma alguma. A academia burguesa tem um olfato insuperável para promover tudo o que implique confusão e indeterminação entre a esquerda. Não é casual a difusão das modas pós-modernas, sobretudo em períodos de recuo do movimento de massas. A Escola de Frankfurt, o desconstrutivismo, Foucault etc., são parte de uma família de autores com ideias confusas que são promovidas entre a esquerda porque a deixam descabeçada, sem objetivo, sem programa.

Capilaridade ou superficialidade versus conhecimento científico

Em Foucault, a “capilaridade” do poder se converte em superficialidade descritiva que não vai além do discurso e dos protocolos que permeiam a realidade das prisões, hospitais, escolas e outros contextos institucionais e cotidianos. Trata-se de uma visão “capilar” que não encontra o enlace e o sentido dos capilares com as veias e as artérias, e destas com o coração. Que pensaríamos de um médico que não soubesse como estão os capilares relacionados ao conjunto do sistema circulatório? Como entender, por exemplo, a cotidianidade de um trabalhador e de sua família sem situá-la no contexto da exploração capitalista com suas extenuantes jornadas de trabalho, salários baixos, bairros pobres e moradias indignas?
Um dos livros fundadores do marxismo, “A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra” de Engels, descreve o entorno cotidiano dos trabalhadores londrinos de seu tempo para ilustrar a exploração capitalista sem economizar detalhes dos bairros insalubres; Lenin, desde a redação de Pravda e Iskra, publicava resenhas jornalísticas sobre as condições particulares de trabalho e luta dos trabalhadores russos, procurando sempre vincular as particularidades com as leis subjacentes do capitalismo e da luta de classes; Trotsky escreveu um livro, “Problemas da Vida Cotidiana”, para colocar em cena os problemas cotidianos dos trabalhadores russos depois da revolução.
Assim o marxismo é uma ferramenta útil para lançar luz sobre o sentido e significado do cotidiano, vinculando o particular ao geral. Evidentemente, aprofundar nesse âmbito é uma tarefa que nunca se completa e sempre pode ser enriquecida com novos estudos sobre o presente e o passado. O que queremos sublinhar aqui é que o cotidiano, como instância do particular, não pode ser entendido senão através do geral, que expressa; e, ao mesmo tempo, que as leis gerais, as tendências do capitalismo, não existem fora da realidade concreta. As ondas superficiais do mar não são mais que a manifestação imediata de correntes profundas e carecem de sentido sem elas. A aparência deixa de ser superficial quando se estabelecem seus laços com a essência. A essência revela sua profundidade quando é demonstrada em suas diversas manifestações fenomênicas. A essência e o fenômeno, o particular e o geral não são mais que as duas caras da mesma moeda. Não obstante, para o pós-modernismo, a compreensão das leis objetivas da realidade é impossível porque o homem está preso a discursos e ideologias que não pode transcender. O marxismo como ciência – como toda ciência – seria impossível sem a possibilidade de se compreender a realidade e as leis que a regem. Sem isso, a revolução socialista é impossível, pois não se pode mudar o que não se pode compreender nem controlar.
Poder-se-ia objetar que a cotidianidade dos trabalhadores não esgota as manifestações concretas das relações de poder que sofrem muitos outros setores da sociedade, a opressão de outros setores como mulheres, minorias raciais, movimento LGBTTI; efetivamente, é assim. Mas, sem saber vincular o particular ao geral, é impossível entender o lugar do particular nem o seu papel específico; sem saber vincular as diversas formas de opressão às relações dominantes de produção, não faremos mais do que uma descrição superficial do fenômeno. Não é possível, por exemplo, entender a origem de cada uma das infinitas manifestações do patriarcado e do machismo de nossos dias sem fazer uma referência, em primeiro lugar, a sua relação originária com o nascimento das classes sociais, e, também, à importância da escravidão doméstica no modo de produção capitalista (como espaço de reprodução da força de trabalho, de reprodução da ideologia dominante e de carga sobre o salário do custo das tarefas domésticas).
É inegável que existem diversas formas de opressão além da exploração de classe: discriminação por gênero, cor/etnia, orientação sexual etc., etc. Mas sem tirar a importância dessas formas de opressão, sem deixar de assinalar a importância de lutar aqui e agora contra essas injustiças, é necessário também identificar a funcionalidade dessas opressões dentro do sistema imperante e identificar a classe que, por seu papel na produção, é capaz não só de paralisar a produção capitalista, como também de colocá-la sobre outras bases, ou seja, derrubar o capitalismo e construir o socialismo; um regime de economia planificada e de democracia operária que arranque pela raiz toda forma de opressão e exploração. É claro que os trabalhadores não poderão realizar a revolução sem ganhar politicamente a todos os setores oprimidos da população. O marxismo luta pela unidade na luta e vê na fragmentação um fator favorável à reação.
O marxismo não exige anjos para lutar. A revolução se fará com homens e mulheres reais com todos os seus preconceitos. Seria ingênuo esperar que nós, os trabalhadores, não fôssemos reprodutores, em maior ou menor medida, de preconceitos machistas e de outro tipo. Mas também entendemos que esses preconceitos tendem a se desfazer por meio da luta de massas, da luta solidária que une os trabalhadores acima das fronteiras de gênero, etnia, religião e orientação sexual, contra um inimigo comum. Também sabemos que, enquanto não destruamos o capitalismo, esses preconceitos renascerão como uma hidra, como uma infecção endêmica, pois o capitalismo necessita deles para dividir a massa dos explorados com barreiras artificiais. Os trabalhadores não devemos temer o exercício do poder: nosso poder, o poder do trabalhador, a democracia proletária coordenada de forma local, regional e mundial. Nosso objetivo é destruir o poder da classe dominante, destruir seu Estado e a fonte final de seu poder: a propriedade privada dos meios de produção fundamentais. Para os marxistas, essa luta não é um simples “jogo de xadrez” que se observa de fora com pedantismo acadêmico. Posicionamo-nos claramente e declaramos publicamente nossos objetivos.
Para Foucault, a psiquiatria faz parte de um discurso de poder cujo objetivo é segregar os chamados “loucos” e controlar seu corpo e inclusive sua alma. “Não existe relação de poder sem constituição correlativa de um campo de saber, nem de saber que não suponha e não constitua, ao mesmo tempo, umas relações de poder”13.
É certo que a ciência médica não se desenvolve à margem dos interesses sociais e que muito frequentemente foi utilizada para reprimir e discriminar sistematicamente mulheres, homossexuais, negros etc. Basta apenas lembrar as teorias racistas como a frenologia ou a homossexualidade concebida como enfermidade mental. La Castañeda da época porfirista é um exemplo e também o regime stalinista, que recluía opositores políticos em instituições mentais. Tudo isso é certo, mas convém sempre ter o sentido da proporção e não ir demasiado longe. Toda verdade se converte em seu oposto além de certo ponto. Por acaso as enfermidades realmente não existem? Enfermidades mentais, como a esquizofrenia ou a depressão, são apenas inventos da medicina para controlar os indivíduos? É certo que o contexto capitalista exacerba essas enfermidades, mas não as torna menos reais. Ver a psiquiatria em seu conjunto como uma mera estratégia de poder é condenar a ciência como mito e cair no pior dos obscurantismos, uma característica muito própria da pós-modernidade. Para cúmulo da loucura pós-modernista, Foucault afirma que não só a loucura é um invento do poder, também o sexo e inclusive o próprio homem: “O homem é só uma invenção recente, uma figura que não tem nem dois séculos, uma simples dobra em nosso saber e que desaparecerá quando este encontre uma nova forma”15. O selo de identidade da pós-modernidade é confundir o conceito da realidade com a própria realidade. Evidentemente, o conceito de humanidade evoluiu – como qualquer outro conceito – mas a existência do homem não depende de seu conceito; ao contrário, o conceito se extrai da realidade por meio de um longo processo histórico. Desse subjetivismo consiste a relação com a Teoria Queer, cujo guru é Foucault, que supõe que os papeis e identidades de gênero podem ser reinventados à vontade sem transformar a realidade material. Para o marxismo, o homem se elevou acima do reino animal e da natureza realmente existentes através da transformação da natureza, a fabricação de ferramentas, processo no qual o homem se transformava e se criava a si mesmo.

Luta pelo socialismo ou nada

“Onde há poder, há resistência”16. Resistência é a forma como Foucault concebe a luta pela libertação. É o único programa político possível ao estar o poder tão descentralizado e fragmentado em todo tipo de contextos irredutíveis, ou seja, opor-se e desobedecer sem objetivo algum. Não pode existir um programa político que unifique onde não existe mais do que um mosaico desconexo de lutas parciais, pois “A sociedade é um arquipélago de poderes diferentes”16. “O poder se exerce a partir de inumeráveis pontos”18. Mas os explorados não temos a opção de resistir: resistimos todos os dias aos baixos salários, às jornadas extenuantes, aos ataques a nosso nível de vida. Isto não é um programa político.
Onde não existe uma coluna vertebral que vincule essas lutas e lhes dê um objetivo e sentido não pode existir um sujeito revolucionário, senão uma infinidade de sujeitos segregados. Onde não existe uma fonte identificável do poder, não há como combatê-lo. Mais ainda, ao ser todos e cada um dos indivíduos opressores e oprimidos, toda luta pela emancipação se converte em um absurdo ou em uma tentativa encoberta e mesquinha de exercer o poder. A alternativa política do pós-modernismo se reduz a nada. “Não sou um profeta, meu trabalho é construir janelas onde antes só havia paredes”, afirmou Foucault, omitindo-se de dizer que, na realidade, sua teoria implicava paredes que separam as lutas com muros infinitos. É necessário entender que o capitalismo é um sistema mundial, vinculado em nível global e que, portanto, as lutas parciais também devem ser entendidas como uma luta mundial dos oprimidos contra o capital. As lutas isoladas por si mesmas serão infrutíferas.
Para o marxismo, o que sustenta as lutas parciais é a existência do sistema capitalista, e o programa que permite unificá-las é o que deriva das próprias contradições objetivas do sistema; o sujeito revolucionário deriva do lugar central que desempenha o proletariado na produção. Não existe aqui nenhum capricho nem amor abstrato pelo trabalhador, mas um estudo objetivo da realidade e da luta de classes. No entanto, as ideias de Foucault desarmam os trabalhadores. Não é casualidade que, em um informe desclassificado da CIA, chamado “França, a deserção dos intelectuais de esquerda”, essa agência do imperialismo visse com bons olhos a difusão das ideias de Foucault entre a intelectualidade de esquerda em prejuízo do marxismo, simplesmente porque o pós-modernismo é inofensivo aos olhos da classe dominante, uma classe que, certamente, tem clareza em seus objetivos:

“Ainda mais efetivos em minar o marxismo foram, no entanto, aqueles intelectuais que, apresentando-se como estudiosos do marxismo nas ciências sociais, acabaram repensando e rejeitando toda a tradição. […] Em sua maior parte, concluíram que as noções marxistas da estrutura do passado – das relações sociais, dos padrões dos acontecimentos e de sua influência no longo prazo – são simplistas e inúteis. No campo da antropologia, a influente escola estruturalista de Claude Lévi-Strauss, Foucault e outros realizou praticamente a mesma tarefa. Embora as metodologias do estruturalismo e dos Anais agora atravessem um mal momento (os críticos as acusam de ser demasiado difíceis para ser entendidas por gente normal), acreditamos que sua tarefa demolidora da influência marxista nas ciências sociais provavelmente perdure como sua contribuição profunda à academia moderna, tanto na França quanto em outros países da Europa ocidental”19.

Vimos que as ideias de Foucault não constituem de forma alguma uma opção ao marxismo revolucionário, nem tampouco ameaça alguma ao sistema capitalista e à luta contra a exploração e à opressão. Não é porque as ideias de Foucault sejam confusas e de contornos indefinidos; eternizem a opressão ao considerar que esta faz parte da natureza humana; obscureçam a exploração capitalista em um mar abstrato de “relações de poder”, afogando a luta de classes do proletariado dentro de um conjunto indeterminado de infinitas opressões; considerem a opressão parte de um discurso em vez de uma realidade objetiva; nos ofereça subjetivismo em vez de um estudo científico do capitalismo e de suas contradições; não ajude em nada a buscar a unidade entre os explorados e oprimidos ao dividir as lutas em inumeráveis “arquipélagos de resistência”; converta as vítimas da opressão em agentes igualmente opressores. Oferece “resistência” em vez de luta contra a exploração. Os que consideram que Foucault é uma opção deveriam atender ao que o próprio Foucault assinalou a respeito: “Desde o momento em que se concebe o poder como um conjunto de relações de força, não pode haver nenhuma definição programática de um estado ótimo de forças […] Escute, escute… Não é tão difícil! Não sou um profeta, não sou um organizador, não quero dizer às pessoas o que devem fazer. Não vou dizer-lhes: isto é bom para ti, aquilo não”20. Mas os explorados necessitamos de um programa, necessitamos de clareza teórica, compreender como o capitalismo funciona, quais são suas contradições e leis, a natureza da luta de classes e o potencial revolucionário dos trabalhadores. Isso foi estudado como ninguém mais pôde fazê-lo, por Marx, Engels, Lenin e Trotsky. Necessitamos da arma da teoria para criar a organização que canalize as lutas que já estão abalando o sistema na crise mais profunda de sua história. Necessitamos de seriedade, clareza e organização. O marxismo é, hoje mais do que nunca, uma arma insubstituível.

TRADUÇÃO DE FABIANO LEITE.
PUBLICADO EM LUCHADECLASES.ORG

Notas:
1 Foucault, M. Microfísica del poder, México, Siglo XXI, 2019, p. 139.
2 Foucault, M. Seguridad, territorio, población, México, FCE, 2006, p.16.
3 Foucault, M. Microfísica del poder, México, Siglo XXI, 2019, p. 183.
4 Foucault, M. Vigilar, castigar. Nacimiento de la prisión, Argentina, Siglo XXI, 2002, pp. 298-299.
5 Foucault, M. Vigilar, castigar. Nacimiento de la prisión, Argentina, Siglo XXI, 2002, p. 279.
6 Entrevista, 1980, en: otrasvoceseneducacion.org/archivos/208610
7 Foucault, M. La verdad y las fuentes jurídicas, Barcelona, Gedisa, 1996, p. 114.
8 Foucault, Defender la sociedad, México, FCE, 2002, p. 37.
9 Foucault, El orden del discurso, Venezuela, TusQuets, 2002, p.15.
10 Marx, C., Engels, F., La sagrada familia, México, Grijalbo, 1971, p. 149.
11 Foucault, Defender la sociedad, México, FCE, 2002, p. 38.
12 Engels a Pablo Lafargue, en: Marx, Engels, Lenin, Acerca del anarquismo y el anarcosindicalismo, Moscú, Progreso, 1976, p.39.
13 Entrevista, 1980, en: otrasvoceseneducacion.org/archivos/208610
14 Foucault, M. Vigilar, castigar. Nacimiento de la prisión, Argentina, Siglo XXI, 2002, p.30.
15 Foucault, Las palabras y las cosas, Argentina, Siglo XXI, 1968, p. 9.
16 Foucault, M. Historia de la sexualidad, Vol I, La voluntad de saber, México, Siglo XXI, 1999, p. 57.
17 Foucault, M. Las mallas del poder, en Estética, ética y hermenéutica, Obras esenciales, Vol III, Barcelona, Paidós, 1999, p. 239.
18 Foucault, M. Historia de la sexualidad, Vol I, La voluntad de saber, México, Siglo XXI, 1999, p. 114.
19 Alan Woods, “Marxismo frente a política de identidad” en: https://marxismo.mx/marxismo-frente-a-la-politica-de-identidad/
20 Entrevista, 1980, en: otrasvoceseneducacion.org/archivos/208610
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domingo, 9 de agosto de 2020

A Los Compañeros Ex Presos Politicos De La Dictadura * Hugo Soriani / Argentina

A LOS COMPAÑPEROS EX PRESOS POLITICOS DE LA DICTADURA

 

Por Hugo Soriani

 

No nombraré a ninguno porque estas líneas son para todos. Algunos ya no están porque murieron en estos últimos años, y otros murieron en prisión, fusilados por la represión o por la pena.

 

Voy a recordar a los presos políticos de la dictadura militar.

 

Eran más de diez mil personas que habían sido detenidas antes del nefasto 24 de marzo, luego ya no hubo presos políticos, solamente desaparecidos.

 

En esas cárceles convivieron durante nueve, diez, doce años, muchachos de veinte años, pocos más o menos, con hombres de cincuenta, a veces de sesenta, por los que los más jóvenes sentían devoción y respeto ya que venían de otras luchas, sobrevivientes de un país asolado por las dictaduras.

 

Ellos habían peleado contra la de Lanusse, y algunos contra la de Onganía, y contaban experiencias que los más jóvenes escuchaban con avidez, curiosidad e impaciencia.

 

No nombraré a ninguno porque fueron todos, los que hora tras hora, día tras día, año tras año, resistieron en conjunto la política de exterminio que se instrumentó para destruirlos. Los que inventaron un código para comunicarse en el silencio, los que violaron todas y cada una de las consignas y prohibiciones que los guardianes imponían a diario. Los que con valentía, ingenio y audacia inventaron las trampas necesarias para sobrevivir sin bajar sus convicciones.

 

Los que no firmaron ninguna nota de arrepentimiento, pese a las represalias.

 

Los que en la oscuridad de los calabozos de Rawson fueron golpeados hasta desmayarse y reanimados con agua helada en madrugadas con quince grados bajo cero, para luego dejarlos desnudos y repetir la historia al otro día, y al otro, y al otro.

 

Los que denunciaron sus torturas a monseñor Tortolo, en la cárcel de La Plata, y escucharon como respuesta que “Videla es oro en polvo” de los labios del monseñor. Los que escribieron minúsculas notas en finísimo papel de cigarrillos para comunicar al exterior lo que sucedía tras los muros.

Los que en días de hambre compartieron la poquísima comida.

 

Los que golpearon los jarros de metal contra las rejas festejando el triunfo de la revolución sandinista en Nicaragua, en julio del ‘79, pese a los golpes y los gritos de los guardianes, que trataban de impedirlo.

 

Los que lloraron la muerte de John Lennon, en diciembre del ochenta, porque junto a él imaginaron que no eran los únicos soñadores.

 

Los que en la cárcel de Magdalena conocieron en persona la ferocidad del general Bussi, antes de que fuera el célebre carnicero de Tucumán.

 

Los que fueron rehenes en Córdoba durante el Mundial bajo amenaza de fusilamiento, mientras los genocidas se abrazaban con Menotti.

 

Los que fueron sacados del pabellón de la muerte en la cárcel de La Plata, y sabiendo que iban a ser fusilados, se despedían de sus compañeros gritando sus consignas.

 

Los que sobrevivieron en ese pabellón y denunciaron lo que estaba pasando, con riesgo de sus propias vidas.

 

Los que en el patio de la cárcel de Córdoba vieron estaquear y morir compañeros y no bajaron la mirada, como querían los guardianes para humillarlos.

 

Las mujeres presas en la cárcel de Devoto, que durante años resistieron las requisas vejatorias. Esas mismas mujeres que, enteras y dignas, ya libres, escribieron un libro imprescindible: Nosotras, presas políticas.

 

Los que en la cárcel de Caseros vivieron hacinados en celdas miserables, sin saber cuándo era de noche o cuándo de día.

 

Los que no perdieron el humor, sobre todo el humor negro, y se rieron de sus propias desgracias.

 

Los que en julio del ‘83, en la cárcel de Rawson, con más coraje que inteligencia, decidieron acompañar el ayuno que Pérez Esquivel realizaba en Buenos Aires, sin que nadie, pero nadie se enterara de lo que estaban haciendo. Y lo continuaron diez días más que él porque, debido al aislamiento al que estaban sometidos, no supieron que el Premio Nobel ya lo había levantado al conseguir sus objetivos.

Los que escribían poesías malas, pero fueron poetas.

 

Los que se sabían de memoria el Génesis o el Exodo, porque la Biblia fue la única lectura permitida. Y a veces ni eso.

 

Los que cantaron, dibujaron, soñaron y actuaron, inventando la manera de esquivar la muerte o la locura.

 

Los que en todas las cárceles, en todas, sólo tuvieron durante años una pared blanca a dos metros de distancia como único horizonte.

 

Los que durante nueve, diez, doce años no hicieron el amor ni tomaron un vaso de vino o una taza de café.

 

Los que no vieron crecer a sus hijos.

 

Los que salieron con lo puesto y sin tener una casa a dónde ir o un trabajo para mantenerse.

 

Los que fueron recibidos con desconfianza, porque eran sobrevivientes.

 

Los que sentían toda la culpa del mundo por ese mismo motivo.

 

Para todos ellos, presos políticos de la dictadura, que hoy, a treinta y cinco años del golpe militar son testigos de los juicios a los genocidas, militantes en sus barrios, delegados en sus trabajos, funcionarios comprometidos y trabajadores de la política en su sentido más noble, cualquiera sea el lugar donde los haya llevado la vida. Para ellos, estas líneas de recuerdo y de homenaje.

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terça-feira, 4 de agosto de 2020

Indentitárismo e Ideologia de Classe media * Reinaldo Conceição da Silva/SP

Indentitárismo e Ideologia de Classe media
Manobras burguesas que afastam os partidos de Esquerda da real situação estrutural popular !!!

Reinaldo Conceição da Silva/SP

A política de conciliação de classes de modo a se manter como política oficial de muitos partidos que outrora fizeram frente popular produziram, de modo inquestionável uma despolitização sem precedentes, de modo que não se houvesse mais nenhum diretório nacional operário e tão pouco conselhos populares em bairros e microrregiões, de modo com o impulso da retórica instituida pela hegemonia ideológica e estrutural burguesa fizeram paulatinamente que os setores populares perdessem suas credibilidades em suas lideranças representativas são peça chave para o entendimento desse texto. Hoje vamos tratar em rascunhos (embora prometo-lhes um texto mais complementar sobre as pautas principais aqui) sobre os pontos essenciais que fizeram os Partidos de Esquerda perderem aptidão popular para manter uma política que não pode se oficializar de modo nenhum em partidos e/ou movimentos de origem popular. Uma vez que a guerra dada pela luta de classes é um conflito sociológico estabelecido pela dinâmica instituinte.
 Não adianta reclamar comigo. Só os advirto a meus caros leitores que líderes populistas não vivem sem medidas populistas. Essas são as marcas que carismatizam os feitos do populista para com seus seguidores que de modo nenhum desejam (e nem podem por serem simples personagens em nossa história) se explorar ao fundo e as bases estruturais de seus palcos de atrações. Getúlio Vargas, Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Messias Bolsonaro são personagens tão somente de um palco desenvolvido estruturalmente para cada situação específica. Pessoal eu sei que esse blog se pretende a ter anplitidão internacional uma vez que o Marxismo também é, porém o Brasil vai ser nosso palco de experimentos hoje.
 A política de conciliação de classes do PT não trouxe amplitidão hegemônica intelectual as esquerdas mesmo quando tinham veículos disponíveis, os diretórios populares foram minguando e o Partido perdeu sua democracia interna e acima de tudo forneceu correntes ideológicas a Direita com a retórica do próprio PT de Anti-corrupção.  A Democracia não foi expandida com mecanismos estruturais dispostos aos setores populares de modo a sempre privilegiar o capital nesse processo onde a prosperidade só era um fator pendente da situação sócio-estrutural e econômica do mundo naquela época. Bolsonaro está fazendo uma política de conciliação de classes também (ao contrário do PT que valorizava os setores populares pelo menos, este em versão piorada só tem olhos a Burguesia pelo Capitalismo financeiro).
 Bolsonaro vai cavalgar na reforma tributária do Guedes com uma brecha populista. Que brecha é essa ??? A Brecha do Renda Brasil que visa substituir o Bolsa família. O Renda Brasil privilegiará a classe dominante nacional desonerando folhas de pagamento desestruturando direitos trabalhistas pendentes valorizando então espaço no mercado onde não existe mais a mercadoria como produto.
 Nesse processo se aumenta a taxa tributária sobre consumo em processamento virtual como compras on-line ou em consumo de dados processuais (que quando implementado de forma sistemática se torna um novo modelo de extração tributária).
 Pesado Imposto progressivo sobre as grandes propriedades... Nem pensar !!!
 O Renda Brasil vai tirar do pobre para dar ao pobre com base de pagamento em nível decrescente porém com maior amplitude de atuação que o Bolsa família. E o pior... O simples trabalhador aceita, uma vez que não foi politizado sobre sua condição estrutural sistemática e só enxerga política de acordo com aquilo que a ele foi modulado. Como da vez que Adolf Hitler fez um experimento depenando uma galinha viva e ela o seguia quando o mesmo fornecia a ela uma fila de grãos de milho e sementes. Hitler considerou que esse método deve conduzir o povo alemão.

*Ver meus primeiros textos

-Financeirização Sistemas de Crédito e Juros

-Midia Genealógica do Entretenimento informativo Ideológico 

- Crítica ao Programa de Paulo Guedes na CNN Brasil.

Agora vamos a um ponto dissuasivo crucial que nosso texto expõe ao relatarmos o processo progressivo de afastamento dos movimentos de esquerda das reais condições estruturais dos setores populares.

* Indentitárismo (o autoritarismo infiltrado denegrindo minorias)

O movimento identitário de "libertação" se desenvolveu na segunda metade do século XX como movimento que se mostrava a esquerda se opondo a burocracia Soviética se articulando com diversas ramificações culturais ganhando espaço de atuação na sociedade global. Ele também é muito recorrente em eventos artísticos e em movimentos próprios caracterizados por sua peculiaridade única.
 O movimento identitário é pautado no auto reconhecimento grupal de elementos de uma mesma base minoritária por puro reconhecimento grupal, de caráter individualista na qual não se prossegue a partir daqui, porque o indentitárismo não se preocupa com a inserção dos grupos minoritários em um regimento universal de modo a minar qualquer reação nociva sócio-cultural a esses grupos, mas sim de utilizar de sua situação minoritária impondo sua condição sobre os outros de modo autoritário, deturpando qualquer movimento conjunto de inserção social desses grupos.  As Feministas como exemplo são vítimas recorrentes do indentitárismo as associando as FemiNazi, o movimento LGBTQI+ também é outro recorrente a grupos identitários tornando insuportável qualquer relação harmoniosa conjunta com um. Infelizmente o indentitárismo corroe até o movimento negro, utilizado pela Direita como racismo dos negros ou movimento de Negros racistas ou afins...
 O que os identitários não querem entender é que os movimentos de inserção social a grupos sócio-culturais étnicos, religiosos, raciais e de qualquer seguimento tido como minoria segundo as configurações sócio-culturais de uma civilidade regional só existem para desenvolver mecanismos regimentares de inserção conjunta desses grupos em uma conjuntura universal de modo a produzir regimentos estruturais de convívio harmonioso tendo como foco extinguir qualquer efeito nocivo reativo a esses grupos específicos pelas configurações sócio-culturais antecedidas. Por isso a importância das cotas a negros, ciganos e índios em meios de inserção. A questão relativa aos negros ganha fator de gravidade. A questão da identidade ou do perfil de identidade regimentado é característico aos gostos e desejos de cada indivíduo como indivíduo.
 Isso não pode ser imposto ao coletivo como uma característica específica de um movimento. O Discurso identitário não tem nenhum nexo e não desenvolve programas estratégicos de modo a inserir conjuntamente seu grupo em um regimento universal em uma civilidade específica. Nesse processo o reconhecimento da identidade minoritária (e não o movimento das minorias como um todo) é um reconhecimento burguês por duas frentes: A primeira é embasada na pura exposição publicitária como método de garantir seguridade estrutural de visibilidade e manutenção abstrata do capital de modo a proporcionar condições regimentares a sua auto-valorização pela adoção de adeptos e pela sofisticação estrutural de cada governo a esses impulsos culturais característicos do capital. A história da Thammy com a Natura é um exemplo...
 Episódio que forneceu a Natura uma valorização em 200% em suas ações.
 O indentitárismo abafa a luta de classes porque para reconhecer a configuração específica de cada grupo específico em termos gerais se é analisada o processamento progressivo da divisão internacional do trabalho e dos conhecimentos que são desenvolvidos nesse processo em uma dinâmica sistemática que se globalizou ao longo de um processar histórico.
 Podemos dizer por análise que esses grupos se gladiam pela divisão processual do trabalho para manter suas condições estruturais de manutenção da vida também conduzidas pela proporcionalidade de exploração do trabalho pelo capital.
 A questão do Brexit no Reino Unido que popularizou o discurso do Boris Johnson, o Nacionalismo anti-homossexual xenofóbico da Rússia pós Soviética de Vladimir Putin, A negação do poder da mulher regimentada estruturalmente em paises Árabes e no Norte da África por um Fundamentalismo religioso sem precedentes, a Guerra comercial protecionista dos Estados Unidos contra os Chineses para proteger as bases de serviços da velha indústria americana comparada ao avanço tecnológico internacional embora a Wal Street garanta seguridades jurídicas de aplicações e investimentos no Dólar, são processamentos dialéticos conjuntos de modo que pela divisão estrutural do trabalho que regimenta grupos específicos um povo não se sobreponha ao outro. De modo que pela dinâmica instituida do capital um não tome os meios de vida do outro.
 Criando nacionalismos.
 Então a configuração específica de grupos minoritários em conjecturas específicas e até sobre processos de atração é repulsão de consensos culturais não podem estar fora de vista de uma visão das co-relações materialistas conjunturais sobre um fator histórico. Sem o Marxismo como ciência fundamentada não há como !!!

* Ideologia de Classe média, termos básicos de formulação.

Qualquer marxista que se preze sabe que a sociedade capitalista é modelada por dois grupos elementares, os burgueses (aqueles que detém os meios de produção e gerenciamento da vida material) e o proletariado (aqueles que não detém esses meios, sobrevivem através de sua força de trabalho como forma de produto/mercadoria).
 A classe média não é uma classe definida em regimento estrutural materialista de modo tão específico então ela tecnicamente não existe nesses termos porque ela pode agregar pequenos empreendedores que se auto exploram para manterem sua própria força de trabalho, passando por funcionários públicos como professores, médicos, advogados políticos e policiais que advogam serviços não produtivos uma vez que o Estado não cria valor, até trabalhadores capatazes de grandes transnacionais que só são admitidos pelos conhecimentos adquiridos pela sua posição processual em divisão estrutural do trabalho.
 A Classe Média principalmente a classe média baixa é mais sensitivel a uma ideologia desenvolvida exclusivamente a ela baseada em suas condições processuais de vida que lhe permitem desenvolver um pequeno a médio empreendimento em escala o caracterizando como pequeno burguês.
 Para manter suas condições estruturais como classe média eles nominalmente apelam para políticas de subsídios as suas zonas particulares de atuação econômica desenvolvendo projeções de aplicações na bolsa como políticas econômicas assistencialistas e para não dizer em sua real situação encalacrada na luta de classes atribuem todo o mal político na corrupção.
É da classe média que vemos as narrativas favoráveis à chamada meritocracia (coisa que não pode ser processada no Capitalismo mas isso é tema a um outro texto) e na Anti-corrupção como política oficial.
 Veja o exemplo do nosso querido Marreco de Maringá Sérgio Moro.
A classe média não pode falar de Luta de Classes porque se falar, suas condições de engajamento político estrutural são empurrados ao grosso dos Trabalhadores (principalmente em momentos constantes de crise do capital) em luta contra os grandes oligopólios financeiros de modo a correr os mesmos riscos de deteriorização estrutural de manutenção da vida com o grosso do operariado mais precarizado.
 Por isso que as políticas que se referem a classe média são embasadas em assistencialismo barato, (para se afastar estruturalmente das condições de manutenção da vida dos Trabalhadores mais precarizados) e na Anti-corrupção (de modo a utilizar de processamentos políticos legais ou não) para se afastar do grosso estrutural dos Trabalhadores de modo que o poder coercitivo do capital os influencie de modo menos agressivo a suas condições pessoais de vida comparados com os trabalhadores pela dinâmica do capital.
 Para finalizarmos aqui quero complementar que todas essas manobras articuladas nominalmente burguesas foram introduzidas a boa parte dos partidos de esquerda e pela retórica Anti-corrupção (na qual boa parte dos próprios também foram corruptos) para manter políticas de conciliação de classes e afastar as reivindicações populares. O ano de 2013 foi uma prova. Dilma Rousseff e as Burguesia juntos estrangulando as reivindicações populares em prol de uma política oficial que naquele tempo já tinha se rasgado.


Reinaldo Conceição da Silva/SP

Pandemia e Traição * Pedro César Batista / DF

Pandemia e traição



Pedro César Batista/DF


A pandemia tem nos permitido ver o valor da existência humana em todas as suas contradições. Seja ao identificar ações e pessoas essencialmente amorosas, como a maldade que transparece em quem tudo faz para escondê-la. 

Ocorre que a quarentena e o distanciamento social que nos salva da contaminação e morte, nos leva a ser mais introspectivo, usando o tempo em que estamos só para leituras, escritas e atividades lúdicas e repensar a nossa trajetória, o que traz mais dúvidas que certezas.

Em poucos anos farei seis décadas de vida, nesse tempo vivi em muitos lugares. Sou um permanente migrante dentro do meu país. Desde cedo convivo com as contradições mais duras e profundas inerentes a sociedade e ao homo sapiens, o que não é meu privilégio.

Criança, depois de sair do interior paulista, vivi até os dez anos na floresta, em Paragominas. Uma década de tristezas e alegrias. Consternação pelas lembranças das dificuldades enfrentadas por meu pai, mas especialmente por minha mãe, que sempre cuidou de mim. Meu pai, o provedor, vivia no mundo para garantir a sustentação da família. Tempo em que os ricos fazendeiros matavam impunemente e enterravam em cemitérios privados; a polícia prendia e torturava livremente quem bem entendesse, a insegurança e o medo eram constantes; era proibido falar o que se pensava. Entretanto, viver nos igarapés, subir em árvores, correr atrás de bichos, ser parte da natureza deixou marcas e alegrias imprescindíveis para a vida.

Adolescente, na capital paraense, aprendi que a história é resultado da ação dos mais organizados, capazes de impor suas ideias, cultura, forma de vida e definir como a sociedade deve ou poderá ser. Descobri o valor da força da luta do povo. Um tempo que se inicia a entrega, o compromisso e a confiança na construção de uma nova sociedade.

Vieram outras fases, o mundo passou a ser minha casa, a democracia reconquistada manteve os assassinos da ditadura impunes; alguns, que se diziam camaradas, passaram para o lado do opressor, principalmente em suas práticas, apesar de preservarem discursos humanitários. Ter a dor da perda de quem se ama, muitas dores e descobertas.

Traições, maledicências e maldades surgem de forma avassaladora nas relações pessoais. Enfrentar a desumanidade de quem se diz na mesma trincheira, a ação para destruir o trabalho de organização popular deixa marcas de dor na memória. A calúnia, a mentira, o sadismo. As mais vis crueldades, capazes de causar inveja ao demônio, a Judas e seus adeptos.

A pandemia somente reforça estas contradições. Os poderosos usam a morte para aumentar suas riquezas, querem dizimar quem pode lhes derrotar, caso adquira consciência de classe, se organize e unidos os enfrentem. Os mais ricos ficam mais ricos. Os maldosos propagam o veneno que carregam. Não precisa ser da classe dominante, o discurso e sua origem social não altera sua prática, como autênticos traidores do combate por um novo mundo, de relações justas, fraternas e igualitárias.

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segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Uma Divisão Proposital ou Inconsciente* Pedro César Batista / DF

*Uma divisão proposital ou inconsciente?*


Pedro César Batista/DF


A burguesia nacional, verdadeiros capachos do imperialismo, sustenta o governo Bolsonaro, preocupada em preservar seus interesses e privilégios. Por outro lado, as forças que deveriam criar as condições subjetivas para alterar a correlação de forças nada fazem. Considerando que as condições objetivas se desenvolvem rapidamente.

Em 20 meses de governo, Bolsonaro aprofundou a crise econômica, a pandemia somente reforçou sua política contra a classe trabalhadora. Ele praticou inúmeros crimes de responsabilidade e comuns, que cassariam qualquer governante em um país com as estruturas jurídicas minimamente fortes e coerentes com o que se denominou Estado Democrático de Direito. Sem falar dos crimes eleitorais que praticou durante a campanha eleitoral, que vão desde a farsa da Lava Jato, uma ação pensada, organizada e financiada pelos EUA, que praticou o arbítrio, colocando na cadeia o candidato com mais possibilidades de vitória eleitoral, falsificando um processo, sustentado por uma poderosa campanha midiática repleta em informação falsa, pavimentando a vitória do miliciano fascista para a Presidência da República.  

Apesar de tantos crimes, com mais de 30 pedidos de afastamento na Câmara dos Deputados, oito processos no TSE e ações de crimes comuns no STF, as forças que poderiam alterar a correlação de forças seguem dispersas, sem criarem as condições para alterar a realidade, assim permitindo que Bolsonaro e seu governo siga com o desmonte do estado brasileiro, a retirada dos direitos sociais e prossiga o genocídio em curso, que já matou mais de 92 mil pessoas devido a covid-19.

A quem interessa não forjar a unidade para criar as condições que poderiam levar a cassação do governo inimigo do povo brasileiro e da vida e lacaio do grande capital? A desconstrução da experiência do Comitê Popular Fora Bolsonaro, em Brasília, merece ser devidamente analisada, utilizando-se como um caso para compreender a conjuntura atual.

O Comitê Popular Fora Bolsonaro - CPFB, criado no final de novembro de 2019, aglutinou militantes do PT, PCdoB, PSOL, dirigentes de sindicatos, de movimentos e ativistas que não integram nenhuma organização, além das direções do PCO e UP. O seu lançamento foi significativo, com expressiva participação da militância da FNL, principalmente. Veio a pandemia, com isso as ações se desmobilizaram, principalmente em 31 de março, ato que marcaria os 56 anos da ditadura de 64. As atividades seguiram virtuais, até que se organizaram alguns atos presenciais, tomando-se o cuidado com distanciamento, uso de máscara e aplicação de álcool gel. O primeiro foi na Praça dos Três Poderes, conseguiu um bom espaço na grande imprensa, pela unidade e importância que mostrou. Em seguida ocorreram mais dois em frente ao TSE. Em um deles, quando foram julgadas duas ações impetradas durante a campanha eleitoral, uma pelo PSOL e a outra pela REDE. A REDE mandou representação da direção nacional ao ato. 

Neste período, começou o racha na campanha Fora Bolsonaro, após uma divergência em São Paulo, quanto as negociações com a polícia paulista sobre o local onde se realizaria o ato. As torcidas organizadas estavam ocupando as ruas com a palavra de ordem “Democracia”, sem reforçar o Fora Bolsonaro. Realizaram atos mais expressivos em São Paulo e Brasília, além de outras cidades. Foi quando o PCO, por meio de seu diário acusa Guilherme Boulos, dirigente do MTST e do PSOL, de dividir o movimento, chamando-o de “quinta coluna”. Estes ataques a Boulos cresceram, isso fez com que os militantes do PSOL se afastassem definitivamente do CPFB.

Ao mesmo tempo, começaram a pipocar atos de grupos do PT, principalmente na Capital Federal. O PCO também continuou chamando manifestações, cada um isoladamente. Por outro lado, as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, criadas durante o processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff, passaram a realizar reuniões nacionais e chamar atividades, sempre virtuais. Também começaram os panelaços, convocados por várias correntes, desde as Janelas Pela Democracia, organizadas pela REDE, PDT, PSB e PV, até a UP, o PT e as centrais sindicais. Não havia unidade nem para a construção dos panelaços. 

Se o governo Bolsonaro/Mourão serve aos interesses do grande capital, com uma política que atende somente os bancos e seus parceiros, tendo como base setores militares e neopentecostais, com a grande imprensa reforçando o projeto neoliberal, comandado por Guedes, que entrega o patrimônio nacional aos seus chefes imperialistas, onde estão as forças que se dizem ao lado da classe trabalhadora, que deveriam criar as condições necessárias para organizar e unir as forças populares e de esquerda, o único caminho para derrotar os crimes que o governo executa?

A burguesia e o imperialismo sempre fomentaram a divisão da classe trabalhadora, cooptam lideranças e governos, realizam golpes, massacres e guerras, usam muito dinheiro para financiar movimentos que atuam contra a unidade da classe trabalhadora e propagam o divisionismo e a desagregação. Movimentos que tem como bandeira a defesa e busca da manutenção do status quo individual e de alguns segmentos. A política que reforça as lutas identitárias nega a importância e a necessidade da unidade revolucionária da classe trabalhadora enquanto classe social, negando a necessidade da luta de classes. Esta divisão contribui para que os mais ricos sigam acumulando mais riquezas, como comprovam os números divulgados que mostram os bilionários aumentando suas fortunas durante a pandemia. 

No decorrer do processo golpista que afastou a presidente Dilma Rousseff, alguns setores de esquerda afirmaram que haveria uma guerra civil no Brasil se conseguissem o intento. Foi dado o golpe, prenderam Lula, elegeram um sicário para a presidência e não teve guerra civil. Entretanto, estes mesmos setores, seguem com sua política exclusivista, buscam hegemonia, negam-se a atuar junto com outros movimentos que não se alinham com suas políticas ou se sujeitam a serem liderados por eles. No lugar de se construir e organizar unidade para derrotar o principal e grande inimigo do povo e da classe trabalhadora brasileira, para alguns, a prioridade é a hegemonia.

Ao mesmo tempo, o Brasil rapidamente, como em uma disputa para ver quem terá mais mortes, aproxima-se de 100 mil mortos pela covid-19. Bolsonaro e seu governo se vangloria, faz piadas e propaga remédios sem base científica, avança com suas milícias, agora reforçadas pelas polícias estatais, em seus crimes, que vão desde a destruição do patrimônio nacional, da estrutura jurídica do Estado social-liberal, criado com a Constituição de 1988, até o incentivo do genocídio em curso, que reduzirá a pressão social, como afirmou uma dirigente do Ministério da Economia.

Com tudo isso acontecendo, as lideranças da esquerda brasileira preocupam-se com o aumento de seus quadros, a eleição que se aproxima e a busca da hegemonia. A desarticulação do CPFB foi um experimento de desconstrução executada por quem deveria atuar para forjar unidade e luta contra o principal inimigo do povo brasileiro. Ações isoladas contra os crimes da Lava – Jato, do governo Bolsonaro e o genocídio em curso crescem, mas não vão alterar a correlação de forças entre a classe trabalhadora e a burguesia nacional a serviço do grande capital internacional se não estiverem articuladas e fazerem parte de uma organização que congregue todas as ações e forças em uma mesma direção.

Finalizo com a seguinte questão, se essas práticas desenvolvidas por diversos setores da esquerda brasileira, que tem unicamente como estratégia a busca da hegemonia, provocando a fragmentação de quem poderia derrotar o governo fascista é proposital e consciente ou não.  Acredito, porém, caso as forças da esquerda sigam com ações isoladas, em sua maioria virtuais ou institucionais, buscando exclusivismo ou se considerando os únicos capazes de mudar a realidade, o que acaba fomentando a divisão, o resultado será muito pior e tão criminoso quanto os crimes da burguesia, que aplica o fascismo para sustentar sua política neoliberal. A história mostrará se esta prática oportunista, demagógica e divisionista é consciente ou apenas um equívoco. O tempo exige uma alteração na rota, a obrigação é derrotar o governo Bolsonaro e criar as condições para avançar nas lutas históricas da classe trabalhadora. 

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