sexta-feira, 24 de abril de 2020

*O Brasil ganha com a queda do Bolsonaro? Hum! Sei não...* Cristiano Fadel - BA


*O Brasil ganha com a queda do Bolsonaro? Hum! Sei não...*

A imprensa divulgou que o PT irá iniciar uma campanha mais forte pela saída de Bolsonaro, da Presidência da República. Nas redes sociais, internautas desenvolvem a campanha *_#ForaBolsonaro_*, em favor do impeachment do Presidente.

A queda do Bolsonaro, nesse momento, atende às demandas populares por justiça social e distribuição equilibrada de renda e riquezas?

Presidentes, no Brasil, jamais foram depostos por iniciativas populares. Os raros casos da nossa história, obedeceram a planejamentos das elites que controlam o país, para que projetos políticos e econômicos fossem implementados. A deposição da presidenta Dilma Roussef é o exemplo mais recente de ação articulada pelos senhores do Brasil, que manipularam as informações e obtiveram apoio popular.

Da mesma forma, a derrubada de Fernando Collor de Mello manteve os antigos patrões do Brasil no poder. Portanto, quais seriam os instrumentos legais e institucionais, os suportes políticos, financeiros e populares para iniciar um processo de deposição do Bolsonaro?

O setor econômico concretizou quase toda a agenda neoliberal em reformas contra os interesses dos trabalhadores. Embora Bolsonaro esteja desgastado com o Congresso Nacional, o seu projeto econômico recebe apoio total dos parlamentares, em sua maioria, serviçais do empresariado. Assim, o governo Bolsonaro não agrediu interesses das elites econômica e financeira para justificar a sua deposição.

Por sua vez, as forças armadas somente agem como braço armado dessas elites. Não há exceção na história brasileira. O suporte popular para a derrubada do presidente, também não existe. A população brasileira ainda é refém de uma imprensa que, diretamente ou indiretamente, alerta que uma revolta da "sociedade civil" pode trazer o PT de volta ao poder. São anos e anos de uma pregação contra o Partido dos Trabalhadores que produziu completa apatia e/ou aversão popular em relação às lutas sociais.

Alguns veículos da imprensa falam sobre a remota possibilidade de acordo entre parte da direita, com partidos de centro-esquerda ou esquerda, como o PT e o PSOL. Caso se concretize, quais as condições para tal aliança? O que cederíamos em troca do apoio de parte da direita a uma candidatura de centro-esquerda?

Historicamente, os senhores do país nunca cederam quanto à condição de privilegiados, cujo poder social se baseia na exploração das camadas populares.

A aliança seria consolidada, então, com os partidos de esquerda abdicando das suas lutas? Qual o propósito em apoiarmos lideranças como Lula, se desistirem das pautas históricas que simbolizam?

Uma possível aliança com setores poderosos, para retirar Bolsonaro do poder, que conduza o General Mourão ao cargo de Presidente, incluiria a derrubada de todas as reformas implementadas nos últimos anos, que destruíram a legislação garantidora dos direitos sociais básicos da população trabalhadora?

Não vejo justificativa e nem motivo para lutar pelo impeachment se o novo governo não derrubar a “PEC do fim do mundo”, rever os destinos dos recursos do pré-sal em favor da saúde e da educação, além de retomar a autonomia brasileira sobre esses gigantescos reservatórios de petróleo.

Não há sentido em apoiar o *_#ForaBolsonaro_* se continuarmos sob a legislação implementada pela reforma trabalhista, que gerou os escravos do século XXI.

Poderíamos apoiar um novo governo de coalização política que não retomasse a valorização do salário mínimo, o combate aos desmatamentos e às invasões de terra pelos grileiros e latifundiários? Enfim, são tantos questionamentos...

O *_#ForaBolsonaro_*, na conjuntura atual, atende à própria direita ao retirar da cena política uma figura que, pelo seu comportamento incompatível com o cargo que ocupa, atrapalha a agenda conservadora, iniciada com a posse do Michel Temer. A saída do Bolsonaro é pauta da esquerda ou da direita?

A luta em favor do *_#ForaBolsonaro_* pode ser justificada com a falsa certeza de que seria o primeiro passo de uma série de transformações. No entanto, me lembro do recente argumento a favor de golpe de 2016: “primeiro, tiramos a Dilma”, depois tirariam os outros. O desdobramento dos acontecimentos desmente isso. O PT foi retirado do poder e os mesmos donos do Brasil permaneceram comandando os governos Temer e Bolsonaro.

A queda do Presidente resultaria na posse do vice, que já demonstrou maior poder de articulação e total adesão ao conservadorismo como base para o Governo Federal. Portanto, qualquer movimento para a derrubada do Bolsonaro, deve ser baseado no retorno do povo como principal preocupação do Governo Federal. Sem isso, o *impeachment se resumiria a uma reordenação das forças conservadoras, com o apoio da esquerda, e a manutenção do projeto neoliberal iniciado por Michel Temer*.

*Devemos permanecer em luta para derrubar todo o governo atual e o seu programa neoliberal.*

Cristiano Fádel
Professor e jornalista
MTE 5707/BA
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Nasce preocupado com os caminhos do proletariado em geral, porém, especialmente, com o brasileiro