A cavalaria verde-oliva não virá para nos salvar
IGOR GRABOIS - RJ
O ocupante do Planalto é tão ruim, mas tão ruim, que até os militares
parecem ser melhores. Só que não. A imprensa e vastos setores da esquerda estão
comprando a versão de que Bolsonaro foi enquadrado, que o general Braga Netto
tem poderes demiúrgicos de enquadramento do capitão tresloucado, que os
militares são racionais em contraste com as loucuras do capitão. E o general
Mourão, o famoso “mal menor”, foi elevado a um quase-cara-legal, alternativa de
poder viável.
As
fontes da versão Braga Netto presidente de fato levam sempre ao mesmo lugar, ao
site Defesanet, editado por Nelson During, renitente vivandeira de quartel e
porta-voz dos generais de pijama do Rio Grande do Sul. O jornal italiano La
Repubblica elevou o Defesanet a órgão oficial do Ministério da Defesa. Nem
tanto, apenas oficioso, como se dizia antigamente. O editor During só publica o
que é de interesse dos generais. E, para os generais, interessa a imagem de
Braga Netto como o todo-poderoso.
Há
um propalado documento do Centro de Estudos Estratégicos do Exército, ligado ao
que os militares chamam de Órgão de Direção Geral, o Estado Maior do Exército.
Lá foram encontradas teses que contrariariam a visão bozonariana da pandemia.
Essas teses consistem, se é que contrariam, em duas posições, sobre a eficácia
do isolamento horizontal na curva ascendente da epidemia, que perpassa o
documento, e uma citação, que o papel do Estado é fundamental nessa travessia.
Porém, o objetivo do documento é justamente levantar os critérios de isolamento
horizontal em direção à normalidade, inclusive pelo título do documento,
“Estratégias de transição para a normalidade”.
Nesta
segunda correu a versão que os militares haviam impedido o capitão tresloucado
de demitir o ministro Mandetta. Já corre, nessa terça, 7 de abril, a versão de
que Mandetta fez um acordo com o Bolsonaro para ficar no cargo, de recuar em
aspectos do isolamento horizontal e esse acordo teria sido costurado pelos
militares.
O
capitão e seus filhos só têm uma entidade que os enquadra, Donald Trump. A
imprensa internacional já dá conta dos interesses de Trump na produção da tal
cloroquina. E o Laboratório do Exército está fabricando adoidado a cloroquina,
como se pode conferir nos sites do Exército e do Ministério da Defesa. O Itamaraty
(oque fazem com a memória do Barão de Rio Branco) é, hoje, uma subseção do
Departamento de Estado, repercutindo toda a política militar dos EUA. Vide a
posição brasileira acerca da provocação naval levada a curso contra a
Venezuela. O enquadramento pelos militares parece uma tabelinha, como se diz no
futebol.
Pois
bem, os autores racionais do documento “Estratégias de transição para a
Normalidade” são os mesmos que inventaram o conceito de “Arco do Conhecimento”,
ou seja o arco geográfico do Atlântico Norte, ainda em 2017. Desde então, ao
contrário do que preconiza a Estratégia Nacional de Defesa, os militares abrem
mão da autonomia tecnológica, doutrinária e operacional para buscar tecnologias
e doutrinas nos membros da OTAN. O fato de o Brasil se tornar aliado extra-Otan
não veio da “inteligência” do capitão ignóbil. É uma formulação dos militares.
A
FAB permitiu a entrega da Embraer, escondendo, inclusive, relatórios internos
da Força. E entregou a base de Alcântara. A Marinha preside o desmonte da Petrobras,
a privatização da Eletrobras e a entrega do setor nuclear para empresas
americanas. O almirante Leal Ferreira é presidente do Conselho da Petrobras e o
almirante Bento é o ministro das Minas e Energia. O Exército nomeou um general
para ser subcomandante do Comando Sul do Pentágono. Não dá pra botar esses
fatos apenas na conta do capitão. As Forças Armadas agem, por orientação de seu
comando, como um corrente política anti-nacional e anti-popular.
Por
fim, as relações do capitão com os militares têm um método. Esse método foi
aplicado em todas as crises provocadas pelo capitão. O capitão estica a corda.
Causa indignação nacional. O capitão ensaia um recuo. Esse recuo é atribuído
aos militares. Essas medidas voltam de maneira edulcorada. Os militares apoiam
o capitão publicamente. O caso das MP’s 927 e 936, as do confisco salarial, é
emblemático. É o que parece ocorrer com o affair Mandetta.
A
cada crise, os militares avançam. Pelo menos a cúpula das forças, que apoia
Guedes, Moro, e toda política neoliberal e de destruição da Constituição de 88. A lista de cargos
assumidos pelos militares é interminável. Afora os seus privilégios na reforma
previdenciária.
A
saída para o Brasil é necessariamente popular. A prioridade hoje é combater e
superar a pandemia, e isso deve nortear a ação do campo popular. Não podemos,
porém, incorrer no erro de tratar os militares como alternativa. Esses
dirigentes militares que aí estão são saudosos da ditadura e de suas políticas.
O povo brasileiro não pode entregar os seus destinos aos generais.
***
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Nasce preocupado com os caminhos do proletariado em geral, porém, especialmente, com o brasileiro