NUDEZ
-carreata de bacanas-
"Desde ontem o capitalismo brasileiro ficou nu. Em muitas cidades houve carreatas repetindo a homicida exortação de que o Brasil não pode parar.
Os burgueses, protegidos dentro dos
carrões, exigem que seus empregados voltem a trabalhar para gerar riqueza.
Bingo! Epifania! Revelação! O que gera
riqueza não é o capital. É o trabalho!
A burguesia enfim percebeu que o capital
imobilizado em máquinas, equipamentos, estoques e sistemas de computador não
gera riqueza. Sem o trabalho dos empregados o capital é inútil. Tanto quanto os
capitalistas, essa classe parasitária que - sem nada produzir - vive da
exploração dos trabalhadores.
Só há riqueza porque houve exploração do
trabalho de alguém. O que gera o acúmulo de capital é a parcela não paga sobre
o trabalho humano. Essa parte não remunerada do trabalho dos empregados
(mais-valia) é acumulada pelos empregadores sob a forma de capital.
Os que desfilaram buzinando fizeram
verdadeiro striptease ideológico. Descortinaram para todos como funciona o
capitalismo. Exigiram que os governos assegurem e garantam o que entendem ser
seu direito, o direito a explorar, o direito a ficar com a mais-valia produzida
por seus empregados.
Morrerão milhares de pessoas? Certamente
sim. Mas isso está dentro das regras de um jogo chamado capitalismo. Existe um
exército de reserva a ser mobilizado para ocupar as vagas dos que fenecerem. O
que não admitem - vampiros - é que seus lucros e capital sejam comprometidos
por decisões estatais que imponham o isolamento social. Entendem ter o direito
de sugar até a última gota de sangue dos trabalhadores, antes que morram ou se
tornem inúteis para a exploração.
Para a parcela da burguesia que nelas
buzinou histericamente ou que apoiou as carreatas, os trabalhadores são
descartáveis, substituíveis, como peças de uma diabólica máquina de moer
pessoas, para gerar excedentes
financeiros a quem os explora. O Brasil
não pode parar, assim, constitui-se em eufemismo para a exploração do trabalho
humano, prestado sob subordinação, que não poderia ser interrompida.
O capitalismo brasileiro está nu. Uma
feia, obscena, depravada, nudez. Necrófilos buzinaram, perversos, excitados - e
não foram poucos - em defesa de seus privilégios, de seus interesses de classe.
São classe exploradora em-si e para-si.
Desnudaram-se, deixaram à mostra,
impudicos, suas obesidades, reais e metafóricas, em defesa do direito a
explorar o trabalho alheio. Pretendem que os trabalhadores se apinhem nos
insalubres transportes coletivos, contaminando-se, para produzir os excedentes
que engordará ainda mais o capitalismo brasileiro. Os flácidos organizadores
das carreatas orientaram os participantes a não saírem de seus veículos. Não
são bestas. Temiam a contaminação. Mas não se importam se seus empregados se
expuserem. O nome do jogo é capitalismo.
Ficou evidente, com as carreatas, o desejo
dos proprietários dos meios de produção e da quase-classe que, sem deles ser
proprietária (a classe média), apoia o sistema de exploração vigente. Esperemos
que a classe trabalhadora, estarrecida com a nua desfaçatez dos exploradores
tome consciência do poder que por óbvio tem, durante e, principalmente, depois
de controlada a pandemia."
Wilson Ramos Filho (Xixo), doutor em
direito, professor na UFPR, integra o Instituto Defesa da Classe Trabalhadora.
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Nasce preocupado com os caminhos do proletariado em geral, porém, especialmente, com o brasileiro