quarta-feira, 22 de abril de 2020

Os militares governam o país desde 2016 * Maria Inês Chaves Preza Freitas - RJ


Os militares governam o país desde 2016
 
Maria Inês Chaves Preza Freitas

Os militares brasileiros, imediatamente após a eleição de Dilma Rousseff em 2014, começaram a articular um projeto reunindo todas as forças de direita na área política e na sociedade com o fim de sua deposição. Orquestrados pela chamada Operação Lava Jato, apoiaram mais um golpe em 2016, afastando Dilma.
Tudo indica que os militares estudaram o conceito político de Estado-Espetáculo, montaram um grande cenário comandado por um palhaço e com uma trupe fantástica: terraplanistas, astrólogos, pastores milagreiros e alguns políticos de menor importância distribuídos pelos ministérios. Na reserva deixaram um general de sua confiança, o vice-presidente Hamilton Mourão.
As privatizações foram apressadas e as reformas neoliberais aprovadas às pressas pelo Congresso. Enquanto isso, os militares ocupavam postos de controle dentro do governo, na parte mais submersa deste verdadeiro iceberg.
Foram escolhidos os almirantes da reserva da Marinha Francisco Antônio Laranjeiras e Elis Triedler Öberg para comandarem os portos do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Norte, respectivamente. Para o cargo de diretor-presidente da Companhia Docas de São Paulo, que controla o porto de Santos, foi nomeado o engenheiro naval civil Casemiro Tércio Carvalho. Ele, no entanto, teve a seu lado um militar da Marinha para “sanear” o órgão e acabar com “entraves” burocráticos.
Essa demonstração do governo dos militares já mostrada em nomeações dos mesmos para cargos estratégicos, no recurso frequente a operações de GLO e na intervenção federal na segurança pública, como o interventor general Braga Netto no Rio, foi realçada durante a paralisação dos caminhoneiros em 2018.
Quando da greve dos caminhoneiros em maio, através de um decreto, lançando uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), o governo determinou uma missão militar com atuação em todo o território nacional, coordenada pelo general Sergio Etchegoyen, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
A partir daí, coube a um almirante, Ademir Sobrinho, chefe do Estado Maior Conjunto, informar diariamente à população brasileira sobre a situação do abastecimento de aeroportos e serviços públicos essenciais, como saúde, segurança pública e energia.
Em suma, por meio dos postos mais importantes, começamos a ser governados por um Estado-Maior. Já são muito os militares da reserva e da ativa pilotando postos decisivos do governo. Inclusive, semana passada tudo ficou mais claro: com a crise na Saúde causada pela pandemia do Covid 19 o presidente-fantoche resolveu demitir seu ministro da Saúde, mas teve que voltar atrás, por ordem dos militares.
Ocorre que Bolsonaro é um militar de baixo escalão, não fez o curso de Estado Maior do Exército, na Praia Vermelha. Chegou, no máximo, a ser um professor de Educação Física. Nem mesmo consegue articular um pensamento mais elaborado. Apenas faz figuração. Quem comanda mesmo é o partido das Forças Armadas.
Em 2020, cerca de cem pessoas das Forças Armadas ocupam postos em ministérios e estatais na gestão de Jair Bolsonaro. Em todo o governo já são mais de 2500 militares. Desse total, 46 militares estão em posições estratégicas no organograma, com a palavra final sobre políticas decisivas, como extração de minérios, modernização de comunicações, construção de estradas, manutenção de hidrelétricas e questões indígenas.
E para fechar o nosso artigo de maneira mais convincente possível, nesta semana, 15 de abril de 2020, o “Presidente operacional do Brasil”, general Braga Netto (ministro-chefe da Casa Civil) demitiu o assessor especial Felipe Cruz Pedri, conforme publicado na edição desta quarta-feira do Diário Oficial da União.
Pedri era da chamada “ala ideológica do governo” de Jair Bolsonaro e seguidor do guru bolsonarista, Olavo de Carvalho. Recentemente ele atacou governadores e prefeitos que defendem o isolamento social, o qual impede a liberdade política do cidadão brasileiro.
Desta forma, iniciando, timidamente, com o golpe de 2016 a governarem o Brasil, os militares, em 2020, governam escancaradamente o país. Bolsonaro é apenas um fantoche.

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Nasce preocupado com os caminhos do proletariado em geral, porém, especialmente, com o brasileiro