ORGULHO LGBT:
uma reflexão sobre o movimento enquanto fenômeno social pela igualdade
Gilliam
Mellane Moreira Ur Rehman - MA
"Para
refletirmos o movimento LGBT, antes devemos observar toda a sua construção
histórica e o momento que ele se organiza como fenômeno de reivindicações
sociais e políticas.
Com o
fortalecimento da oposição ao regime militar, no final dos anos 70, a esquerda experimenta a
liberalização política, reinvindicando a formação de um partido político dos
trabalhadores com bases socialistas. O momento também abraça as pautas trazidas
pelos movimentos feministas e negro(sexismo e racismo).
O direito dos
homossexuais surge nos debates, para que sejam incorporados nas pautas de
reivindicações democráticas, no entanto, os apelos por direitos ficaram
diluídos junto às reivindicações de outros grupos(negros, índios, mulheres).
Nas duas últimas
décadas, os movimentos de homossexuais e transgêneros surgiram com uma certa
força, inspirados nas organizações sociais desses grupos, nos Estados Unidos.
Esses movimentos empreendiam debates políticos sobre discriminação,
sexualidade, participação social democráticas no aspecto político.
Por algum tempo,
alas da esquerda entendiam que os movimentos de homossexualidade não deveriam
ter credibilidade por serem um fenômeno originado na decadência da classe
burguesa e que seria suprimido com o advento do socialismo.
Essa defesa cai
no descrédito e o que vemos hoje, são lideranças de grandes partidos políticos
de esquerda, a exemplo do PT, protagonizando guerras parlamentares para aprovar
sanções contra a discriminação por orientação sexual e para garantir direitos
oriundo da união entre pessoas do mesmo sexo.
Vale ressaltar,
que os movimentos feministas, protagonizaram na esquerda, a impulsão desses
debates por toda América Latina, discutindo pautas como violência doméstica,
estupro e discriminações de gênero.
O final da década
de 70 e as décadas de 80 e 90 foram cruciais para a consolidação do movimento
LGBT aqui no Brasil, influenciado pela efervecência na América Latina e nos
Estados Unidos, período marcado pela gradual abertura política no Brasil, que
também favoreceu a consolidação de outros movimentos como o Movimento Negro
Unificado e o movimento feminista.
As conquistas
atuais do movimento LGBT se devem a toda movimentação na década de 70 por parte
dos setores que reivindicavam direitos nas questões de gênero, discussão essa
que sempre foi desencadeada na esquerda.
Em 1992, tivemos
a discussão no Congresso, puxada pelas lideranças petistas, de uma legislação
antidiscriminação.
A maior
dificuldade da esquerda em abraçar o movimento LGBT na sua totalidade, se dá
pela formação multiclassista desse grupo. Observando por um viés marxista, essa
composição multiclassista poderia confrontar com os interesses na classe
trabalhadora, reduzindo a atmosfera da luta de classes apenas ao econômico,
desconsiderando os demais fatores que são inerentes às relações humanas como o
desejo, o amor, o sexo. Ao desconsiderar esses aspectos, julgando que o sucesso
de uma sociedade está unicamente realcionada a apropriação do poder, por uma
classe, a esquerda marxista poderia recair no autoritarismo e na frieza
capitalista que desconsidera a humanidade existente nos indivíduos.
Na atualidade, a
esquerda abre-se para um outro viés, a de que, a classe trabalhadora deve ter
sua esfera íntima defendida, deve ter seu lado que transcende à militância
classista, resguardado também por direitos.
E como o
movimento LGBT se apresenta hoje? A composição multiclassista, de fato traz o
confronto para alguns diálogos. Atualmente a polarização política, reflete no
movimento e evidencia esse multiclassismo. Muitos indivíduos homossexuais se
perdem na trajetória histórica das conquistas de sua classe, por considerarem
apenas a identificação com a casta a qual pertence.
O movimento se
fragiliza e faz o jogo do sistema, a agora, do fascismo escancarado que se
instaura dia após dia nesse país. Fica esquecido o real sentido da luta, da
luta por direitos, por respeito, por aceitação, por espaço no mercado de
trabalho, pela representatividade nos mais diversos campos. Não importa se
negro ou branco, operário ou empresário, da comunidade ou “dos Jardins”. A
homossexualidade é uma realidade entre nós e precisa resgatar entre seus
indivíduos a unicidade da luta e considerar que foi no seio da esquerda, que as
conquistas foram acontecendo."
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ótimo texto!
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