terça-feira, 31 de março de 2020

A SAÚDE E A CORRUPÇÃO EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS * Crispiniano Neto - RN

A SAÚDE E A CORRUPÇÃO EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS
A corrupção não é somente a ação nefasta dos políticos aboletados em cargos administrativos. A corrupção é um campo vasto no Brasil e no mundo e se expressa das mais variadas formas, inclusive no meio popular, atingindo desde as camadas mais humildes da população aos maiores bilionários, onde, aliás o índice de corrupção é infinitamente maior. 
Neste particular, não existe amor à vida nem à saúde de ninguém, quando se trata de ganhar um tostão a mais. Principalmente, uns bilhões além das necessidades dos que já são muito ricos... Mas não é só aqui. É, como diria a expressão papal: Urbi et Orbi...
Quem não lembra a grave fabricação de remédios de farinha de trigo durante uma epidemia no Brasil, que, se não me engano, era de febre amarela, há coisa de dez anos. O mesmo aconteceu com o Microvlar, anticoncepcional do laboratório Schering, que era um lote destinado a pesquisas como placebo, mas que acabaram nas prateleiras das farmácias.
Quem não lembra a Máfia dos Órgãos, em que um médico, que era também deputado em Minas Gerais, liderava uma organização criminosa que matava pacientes e lhes roubava os órgãos para vender. Não faz tanto tempo. Coisa de cinco anos, no máximo.
O ministro Luiz Henrique Mandetta, que até vinha se saindo bem à frente da guerra contra o coronavírus, comprou medicamentos com 67% de sobrepreço, sem licitação e, não por acaso, a um fornecedor que era justamente um patrocinador da sua última campanha de deputado federal. Depois disso perdeu a moral e o presidente ensandecido, Jair Bolsonaro montou no seu cangote, transformando-o e Pau-Mandetta.
Acabo de ouvir na Bandnews que ladrões aproveitaram quarentena na Holanda para roubar quadro de Van Gogh. Em Mossoró ouvi notícias de que estavam assaltando farmácias. Vale salientar que as polícias estão trabalhando com carga redobrada tanto quanto os servidores da saúde.
Adelaide Carraro, no seu livro “Eu e o governador”, tem a sua personagem, que narra a trama em primeira pessoa, internada em um Sanatório para curar uma tuberculose. Ela descobre lá dentro que os doentes, assustados com a possibilidade de saírem dali onde têm “médico, enfermeiro, remédios, casa, comida, banheiro cama e roupa lavada”, ficavam apavorados quando o exame mensal do escarro começava a rarear a presença do Mycobacterium tuberculosis (MTB) ou Bacilo de Koch. Isso gerou um comércio cruel de escarro de doentes, para que os exames não dessem negativos, porque ir para fora do sanatório significava ser rejeitado pela família não ser aceito em nenhum emprego e acabar jogado na sarjeta das ruas frias do Estado de São Paulo. Sair da internação era quase uma sentença de morte. De todas as minhas pesquisas sobre corrupção foi este o fato que mais me chocou, porque o livro é de ficção, mas com certeza é baseado em alguns fatos reais.
Agora aprendi também que durante a febre amarela, no Rio de Janeiro, o Dr. Oswaldo Cruz orientou o governo a comprar ratos mortos, por serem eles vetores do micróbio, sendo esta uma forma de cortar a trajetória da transmissão. E o que se viu foi proliferarem criatórios de ratos no Rio de Janeiro. A vida média de um camundongo é de cerca de 1 ano. A partir do 3º mês de vida já podem procriar, sendo que o tempo de gestação é, em média, de 19 a 22 dias e o número de filhotes por cria é de 5 a 12, na dependência da oferta de alimento e abrigo. Criar rato para vender ao governo virou um excelente “negócio”.
Agora mesmo estamos vendo comerciantes vendendo álcool em gel, cujo preço em tempos normais seria de 3 a 5 reais, a 40, 50 e até 90 reais. 
Os bancos estão aumentando os juros, as taxas e o valor dos seguros, além de diminuírem os prazos de carência. E vez de darem um pouquinho do muito que ganham, crescem os olhos e querem ganhar muito mais e muito desonestamente que a eterna ganância que já fez deles tão ricos quanto os ricos dos países mais ricos do mundo, enquanto há uma imensa legião de brasileiros que são tão pobres quanto os pobres mais pobres dos países mais pobres do mundo. Ou como resumiu Lula em discurso no início do PT: “São podres de ricos às custas dos milhões que são podres de pobres...”
O advogado-geral da União, André Mendonça, disse que 60% dos casos de corrupção no Brasil, segundo o TCU - Tribunal de Contas da União, estão ligados às áreas da saúde e educação. A declaração foi feita durante o I Seminário Nacional sobre Corrupção e Direitos Humanos. Mendonça disse que “quanto mais corrupto é um país, menor é seu IDH”. "
Como dizia Luiz Gonzaga, comparando a espécie humana ao jumento: “O jumento é bom, o homem é mau”.




CRISPINIANO NETO – Poeta, escritor e secretário de Cultura do Estado do Rio Grande do Norte.
Coluna Prosa & Verso do Jornal de Fato, de Mossoró-RN.

(Coluna Prosa & Verso de 31 de março de 2020 – Terça feira)
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Nasce preocupado com os caminhos do proletariado em geral, porém, especialmente, com o brasileiro