quinta-feira, 13 de maio de 2021

Poesia Libertação * Observatório Proletários / BR

POESIA LIBERTAÇÃO
*
13 DE MAIO
à guisa de introdução

"Domingo, 13 de maio de 1888 (hoje completando 133 anos), da assinatura da Lei Áurea. Essa foi a última vez que Isabel (1846-1921), a Augusta Princesa Imperial, esteve no comando da nação. A lei abolicionista foi assinada após a missa dominical de 13 de maio de 1888. Naquela data, pelo ao menos no papel,  a escravidão foi abolida em todos os quadrantes do imenso território brasileiro, sem exceção. Lamentavelmente, o mesmo documento não previa nenhum meio para reintegrar os ex-escravos a uma sociedade livre e com igualdade de direitos. Na segunda-feira, 14 de maio de 1888, o ilusório e bem-montado cortinado do teatro foi levantado. Mostrando a realidade de um falso palco existente no dia anterior, via-se uma multidão de negros famintos, desempregados, procurando onde se acomodar, dando vazão aos cinturões de pobreza e miserabilidade em volta das cidades. A data designada para assinar a Lei Áurea foi escolhida e devidamente elaborada pela princesa Isabel, que estava honrando,  com saudosas lembranças, o nascimento do seu bisavô,  o rei D. João VI, nascido em Lisboa a 13 de maio de 1767. Naquele 13 de maio de 1888, D. João VI, se estivesse, completaria 121 anos. Não foi meramente por uma casualidade a escolha daquela data. Tudo foi muito bem-montado e metricamente calculado para ficar bem apresentável na fita que nos revela as histórias da História. Nenhum negro presente ou ausente foi citado, homenageado ou honrado: o  seu lado africano novamente mereceu o silêncio". (Carlos Boaventura, autor de "O Brasil protestante". Reservar o seu exemplar: 1-508-493 2052. Ao seu dispor).

VÍDEO
Profº Antonio Carlos Lemos
*
Ruth de Souza, nossa Mãe das Artes
***


Negro forro
de Adão Ventura

Minha carta de alforria
não me deu fazendas,
nem dinheiro no banco,
nem bigodes retorcidos.

Minha carta de alforria
costurou meus passos
aos corredores da noite
de minha pele


Sou Negro
de Solano Trindade

Sou negro
meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh`alma recebeu o batismo dos tambores
atabaques, gongôs e agogôs

Contaram-me que meus avós
vieram de Loanda
como mercadoria de baixo preço
plantaram cana pro senhor de engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu

Depois meu avô brigou como um danado
nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
Não foi um pai João
humilde e manso

Mesmo vovó
não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou

Na minh`alma ficou
o samba
o batuque
o bamboleio
e o desejo de libertação


Encontrei minhas origens
Oliveira Silveira

Encontrei minhas origens
em velhos arquivos
livros
encontrei
em malditos objetos
troncos e grilhetas
encontrei minhas origens
no leste
no mar em imundos tumbeiros
encontrei
em doces palavras
cantos
em furiosos tambores
ritos
encontrei minhas origens
na cor de minha pele
nos lanhos de minha alma
em mim
em minha gente escura
em meus heróis altivos
encontrei
encontrei-as enfim
me encontrei

*

Integridade
Geni Mariano Guimarães

Ser negra,
Na integridade
Calma e morna dos dias.
Ser negra,
De carapinhas,
De dorso brilhante,
De pés soltos nos caminhos.

Ser negra,
De negras mãos,
De negras mamas,
De negra alma.

Ser negra,
Nos traços,
Nos passos,
Na sensibilidade negra.

Ser negra,
Do verso e reverso,
Do choro e riso,
De verdades e mentiras,
Como todos os seres que habitam a terra.

*

Abolição da escravatura
(Mizael Xavier)

Em um país chamado Brasil
Tantas coisas terríveis acontecem
Mas não é de repente que elas aparecem
Porque basta puxar pela memória
Que vemos as mazelas que vêm acontecendo
Desde o início da nossa trajetória.

Paro e penso que há alguns séculos
Humanos escravizaram humanos
Como nem com animais deveria acontecer.
Dos países africanos eles foram trazidos
Das suas famílias, foram separados
Para que alguns pudessem enriquecer.

Não quero falar da sua cor de pele
Deus me livre criar rótulos e estigmas
Mas apenas da crueldade covarde
Que usou sangue, suor e lágrimas
Para construir este país chamado Brasil
Para roubar nossas riquezas
Para saciar a gula da realeza.

Mas, enfim, libertação!
Movimentos e gritos de abolição!
Libertem todos os escravos
Ou melhor: os seres humanos escravizados!
Coloquem-nos para fora dos cafezais
Deem sua eterna alforria
Livres! Sejam livres!
Sejam felizes!

Ser feliz após uma vida inteira subjugada
Para onde ir? Onde trabalhar?
Onde morar e tentar refazer a própria história?
Surge, então, nova escravidão
Novas formas de tortura
Além disso: o preconceito irracional
Que há séculos perdura.

Abolição da escravatura...
Qual abolição?
Qual liberdade?

(Este poema faz parte do meu novo livro: MEMÓRIAS DO VENTO: POEMAS QUE O VENTO TROUXE. Todos os direitos reservados. Lei 9.610/98.)

*

Aprender a lição
Gabriel Joaquim Romão

(aluno da EJA, 4ª , 42 anos
EMEF Silvino Santis)

Leitores fiz paradeiro
De minha obrigação
Para fazer um relato
Com a melhor intenção
De denunciar a corte
Do reino da escravidão

O país em que vivemos
Tem ordem leis e padrão
Tem Justiça e competência
Também fiscalização
Tem tudo para proteger
A vida do cidadão.

Mas ainda há muita gente
Que não tem informação
Não freqüentou a escola
Para estudar a lição

Não sabe se defender
Do laço da corrupção

Há manchetes nos jornais
Em rádio e televisão
Há denúncias comprovadas
Houve flagrante e prisão
Mas nunca cumpriram as leis
Que tem na Constituição
Deve existir um parágrafo
Isto se eu não me engano

Em palavras populares
Chama-se direitos humanos
Mas nas mãos dos poderosos
Fica debaixo do pano

Quando o dinheiro faz onda
Injustiça é feita a mão
Carvoaria e fazenda
E outras organizações
Vira feito de propina
E palco de explorações

Existem muitos colegas
De trabalho e profissão
Que para ganhar dinheiro
Percorre léguas de chão

Terminam presos no laço
De jagunços do patrão
O pobre vive sofrendo
Para cumprir sua missão
Viaja sem ter destino
Vai pela informação
Só topa trabalho duro
Sem ter remuneração

Essa história se confirma
Com grande repercussão
No norte deste país
Por ser uma região
Muito rica em minérios
Em pecuária e extração

Porém é tanta riqueza
Com má distribuição.
Enquanto o pobre trabalha
Para defender o pão
Os donos só querem tirar
Vantagem da situação.

*

SIGNIFICADO LIBERDADE

                     Jurandir Argôlo/SP


Ainda persiste um nó após a libertação dos escravos

Senzalas disfarçadas sombreiam grilhões

Intentam prender o amor de corações

Desalinhar os versos com desertos tiranizados

Nem todo céu vê estrelas

Os brilhos assemblam sonhos emudecidos

Tantos os crivos

O amor impedido 'inda atravessado em muitas mentes

Tenta renascer

A humanidade ainda não vê

Não enxerga o significado semente

Do que é ser verdadeiramente negro

O preconceito declarado não dá sossego

Tudo ainda tão preso

Esquece o pó como herança igual a todos

Todos nascem da mesma forma

E têm o mesmo fim destino

Por quê tanta dificuldade em viver sem o desatino desejo por correntes?

Por quê esse prazer insano de subjugar?

Ainda persiste um nó após a libertação dos escravos

Senzalas disfarçadas sombreiam grilhões

Lacrimeja a lei áurea

Sob olhos que 'inda ignoram que negro significa liberdade

*

HAICAI


Escravo zumbi:

-há Liberdade em ação...

de Luto na luta!


Adriano de Alvarenga Azevedo RJ Brasil


*

Cordel


No dia 13 de maio de 1888, uma data de alegria,

Onde a princesa Isabel esbanjou sua simpatia,

Como ouvimos nas histórias da princesa boazinha

Que libertou os escravos, dando-lhes a alforria


Essa data no brasil virou um marco nacional

Comemorada até hoje de forma sensacional

Era o dia esperado, onde terminou regime escravo

Os negros estavam livres, não tinham mais agravo


Ai, a alegria foi tremenda rufaram-se os tambores

Os negros estavam livres não se tinha mais senhores

Tudo lindo no papel, esse era o troféu

Mas realidade é diferente e amarga mais que fel


Os pretos, estavam libertos é importante frisar

Só que não tinham terras, e nem casas para morar

Foram excluídos, das políticas daquele estado vigente

Pra que política pra preto se preto não é nem gente


Ainda hoje vivemos os reflexos dessa dita alforria

Tomando muitas chibatadas e sofrendo todos os dias

Sem saúde, sem educação, sem direito à moradia

Pois como preto não é gente tem que viver na periferia


Como fala a diva Elza, nos deixando seu recado

Simplesmente a carne preta é a mais barata do mercado

Bendito treze de maio, mais uma enganação do dominador

Nesse país que só comemora as datas do opressor


Como diz Zumbi Bahia na letra de sua música, que pouquinho vou falar

“Treze de maio não é dia de preto, não foi o negro que nos libertou

A lei Aurea foi uma maneira arranjada de excluir o negro

Daquela pátria onde ele trabalhou”


Assim seguiremos firmes na nossa compreensão

Contando a contra-historia onde nossos heróis não são vilão.

E a nossa realidade seja vista com atenção


Axé a balaiada, canudos vamos falar

A revolta da chibata, tem muito a nos ensinar

Viva o rei Zumbi, palmares é resistência, assim

seguimos firmes e em marcha na nossa sobrevivência.                                                                                             (Joércio Pires)


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Nasce preocupado com os caminhos do proletariado em geral, porém, especialmente, com o brasileiro