"Domingo, 13 de maio de 1888 (hoje completando 133 anos), da assinatura da Lei Áurea. Essa foi a última vez que Isabel (1846-1921), a Augusta Princesa Imperial, esteve no comando da nação. A lei abolicionista foi assinada após a missa dominical de 13 de maio de 1888. Naquela data, pelo ao menos no papel, a escravidão foi abolida em todos os quadrantes do imenso território brasileiro, sem exceção. Lamentavelmente, o mesmo documento não previa nenhum meio para reintegrar os ex-escravos a uma sociedade livre e com igualdade de direitos. Na segunda-feira, 14 de maio de 1888, o ilusório e bem-montado cortinado do teatro foi levantado. Mostrando a realidade de um falso palco existente no dia anterior, via-se uma multidão de negros famintos, desempregados, procurando onde se acomodar, dando vazão aos cinturões de pobreza e miserabilidade em volta das cidades. A data designada para assinar a Lei Áurea foi escolhida e devidamente elaborada pela princesa Isabel, que estava honrando, com saudosas lembranças, o nascimento do seu bisavô, o rei D. João VI, nascido em Lisboa a 13 de maio de 1767. Naquele 13 de maio de 1888, D. João VI, se estivesse, completaria 121 anos. Não foi meramente por uma casualidade a escolha daquela data. Tudo foi muito bem-montado e metricamente calculado para ficar bem apresentável na fita que nos revela as histórias da História. Nenhum negro presente ou ausente foi citado, homenageado ou honrado: o seu lado africano novamente mereceu o silêncio". (Carlos Boaventura, autor de "O Brasil protestante". Reservar o seu exemplar: 1-508-493 2052. Ao seu dispor).
de Adão Ventura
Minha carta de alforria
não me deu fazendas,
nem dinheiro no banco,
nem bigodes retorcidos.
Minha carta de alforria
costurou meus passos
aos corredores da noite
de minha pele
Sou Negro
de Solano Trindade
Sou negro
meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh`alma recebeu o batismo dos tambores
atabaques, gongôs e agogôs
Contaram-me que meus avós
vieram de Loanda
como mercadoria de baixo preço
plantaram cana pro senhor de engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu
Depois meu avô brigou como um danado
nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
Não foi um pai João
humilde e manso
Mesmo vovó
não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou
Na minh`alma ficou
o samba
o batuque
o bamboleio
e o desejo de libertação
Oliveira Silveira
Encontrei minhas origens
em velhos arquivos
livros
encontrei
em malditos objetos
troncos e grilhetas
encontrei minhas origens
no leste
no mar em imundos tumbeiros
encontrei
em doces palavras
cantos
em furiosos tambores
ritos
encontrei minhas origens
na cor de minha pele
nos lanhos de minha alma
em mim
em minha gente escura
em meus heróis altivos
encontrei
encontrei-as enfim
me encontrei
*
Integridade
Geni Mariano Guimarães
Ser negra,
Na integridade
Calma e morna dos dias.
Ser negra,
De carapinhas,
De dorso brilhante,
De pés soltos nos caminhos.
Ser negra,
De negras mãos,
De negras mamas,
De negra alma.
Ser negra,
Nos traços,
Nos passos,
Na sensibilidade negra.
Ser negra,
Do verso e reverso,
Do choro e riso,
De verdades e mentiras,
Como todos os seres que habitam a terra.
*
Abolição da escravatura
(Mizael Xavier)
Em um país chamado Brasil
Tantas coisas terríveis acontecem
Mas não é de repente que elas aparecem
Porque basta puxar pela memória
Que vemos as mazelas que vêm acontecendo
Desde o início da nossa trajetória.
Paro e penso que há alguns séculos
Humanos escravizaram humanos
Como nem com animais deveria acontecer.
Dos países africanos eles foram trazidos
Das suas famílias, foram separados
Para que alguns pudessem enriquecer.
Não quero falar da sua cor de pele
Deus me livre criar rótulos e estigmas
Mas apenas da crueldade covarde
Que usou sangue, suor e lágrimas
Para construir este país chamado Brasil
Para roubar nossas riquezas
Para saciar a gula da realeza.
Mas, enfim, libertação!
Movimentos e gritos de abolição!
Libertem todos os escravos
Ou melhor: os seres humanos escravizados!
Coloquem-nos para fora dos cafezais
Deem sua eterna alforria
Livres! Sejam livres!
Sejam felizes!
Ser feliz após uma vida inteira subjugada
Para onde ir? Onde trabalhar?
Onde morar e tentar refazer a própria história?
Surge, então, nova escravidão
Novas formas de tortura
Além disso: o preconceito irracional
Que há séculos perdura.
Abolição da escravatura...
Qual abolição?
Qual liberdade?
(Este poema faz parte do meu novo livro: MEMÓRIAS DO VENTO: POEMAS QUE O VENTO TROUXE. Todos os direitos reservados. Lei 9.610/98.)
*
Aprender a lição
Gabriel Joaquim Romão
(aluno da EJA, 4ª , 42 anos
EMEF Silvino Santis)
Leitores fiz paradeiro
De minha obrigação
Para fazer um relato
Com a melhor intenção
De denunciar a corte
Do reino da escravidão
O país em que vivemos
Tem ordem leis e padrão
Tem Justiça e competência
Também fiscalização
Tem tudo para proteger
A vida do cidadão.
Mas ainda há muita gente
Que não tem informação
Não freqüentou a escola
Para estudar a lição
Não sabe se defender
Do laço da corrupção
Há manchetes nos jornais
Em rádio e televisão
Há denúncias comprovadas
Houve flagrante e prisão
Mas nunca cumpriram as leis
Que tem na Constituição
Deve existir um parágrafo
Isto se eu não me engano
Em palavras populares
Chama-se direitos humanos
Mas nas mãos dos poderosos
Fica debaixo do pano
Quando o dinheiro faz onda
Injustiça é feita a mão
Carvoaria e fazenda
E outras organizações
Vira feito de propina
E palco de explorações
Existem muitos colegas
De trabalho e profissão
Que para ganhar dinheiro
Percorre léguas de chão
Terminam presos no laço
De jagunços do patrão
O pobre vive sofrendo
Para cumprir sua missão
Viaja sem ter destino
Vai pela informação
Só topa trabalho duro
Sem ter remuneração
Essa história se confirma
Com grande repercussão
No norte deste país
Por ser uma região
Muito rica em minérios
Em pecuária e extração
Porém é tanta riqueza
Com má distribuição.
Enquanto o pobre trabalha
Para defender o pão
Os donos só querem tirar
Vantagem da situação.
*
SIGNIFICADO LIBERDADE
Jurandir Argôlo/SP
Ainda persiste um nó após a libertação dos escravos
Senzalas disfarçadas sombreiam grilhões
Intentam prender o amor de corações
Desalinhar os versos com desertos tiranizados
Nem todo céu vê estrelas
Os brilhos assemblam sonhos emudecidos
Tantos os crivos
O amor impedido 'inda atravessado em muitas mentes
Tenta renascer
A humanidade ainda não vê
Não enxerga o significado semente
Do que é ser verdadeiramente negro
O preconceito declarado não dá sossego
Tudo ainda tão preso
Esquece o pó como herança igual a todos
Todos nascem da mesma forma
E têm o mesmo fim destino
Por quê tanta dificuldade em viver sem o desatino desejo por correntes?
Por quê esse prazer insano de subjugar?
Ainda persiste um nó após a libertação dos escravos
Senzalas disfarçadas sombreiam grilhões
Lacrimeja a lei áurea
Sob olhos que 'inda ignoram que negro significa liberdade
*
HAICAI
Escravo zumbi:
-há Liberdade em ação...
de Luto na luta!
Adriano de Alvarenga Azevedo RJ Brasil
*
Cordel
No dia 13 de maio de 1888, uma data de alegria,
Onde a princesa Isabel esbanjou sua simpatia,
Como ouvimos nas histórias da princesa boazinha
Que libertou os escravos, dando-lhes a alforria
Essa data no brasil virou um marco nacional
Comemorada até hoje de forma sensacional
Era o dia esperado, onde terminou regime escravo
Os negros estavam livres, não tinham mais agravo
Ai, a alegria foi tremenda rufaram-se os tambores
Os negros estavam livres não se tinha mais senhores
Tudo lindo no papel, esse era o troféu
Mas realidade é diferente e amarga mais que fel
Os pretos, estavam libertos é importante frisar
Só que não tinham terras, e nem casas para morar
Foram excluídos, das políticas daquele estado vigente
Pra que política pra preto se preto não é nem gente
Ainda hoje vivemos os reflexos dessa dita alforria
Tomando muitas chibatadas e sofrendo todos os dias
Sem saúde, sem educação, sem direito à moradia
Pois como preto não é gente tem que viver na periferia
Como fala a diva Elza, nos deixando seu recado
Simplesmente a carne preta é a mais barata do mercado
Bendito treze de maio, mais uma enganação do dominador
Nesse país que só comemora as datas do opressor
Como diz Zumbi Bahia na letra de sua música, que pouquinho vou falar
“Treze de maio não é dia de preto, não foi o negro que nos libertou
A lei Aurea foi uma maneira arranjada de excluir o negro
Daquela pátria onde ele trabalhou”
Assim seguiremos firmes na nossa compreensão
Contando a contra-historia onde nossos heróis não são vilão.
E a nossa realidade seja vista com atenção
Axé a balaiada, canudos vamos falar
A revolta da chibata, tem muito a nos ensinar
Viva o rei Zumbi, palmares é resistência, assim
seguimos firmes e em marcha na nossa sobrevivência. (Joércio Pires)
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Nasce preocupado com os caminhos do proletariado em geral, porém, especialmente, com o brasileiro