*Paranóia
ou mistificação, porque é tão difícil combater Bolsonaro?*
Roberto Ponciano e Lauro Lima
Já
vi muito texto falando que Bolsonaro não é um lunático, isto é mentira. Ele é
um psicótico, paranóico, oligofrênico, e ele comanda uma paranóia coletiva. O
fascismo tem esta pré-condição para se instalar como projeto de dominação.
Freud dizia que o fascismo era uma histeria coletiva, uma alucinação de massas.
Reich, outro psicanalista, dizia que era uma epidemia de praga psíquica, que só
tinha sido possível a ele se instalar na Alemanha porque um imenso exército de
recalcados, frustrados, explorados, infelizes, sem perspectiva tinha sido
criado, e aí, como cogumelos na chuva, o ódio nazista proliferou. Theodor
Adorno baseando-se em Freud, afirmava que o fascismo é uma condição atávica de
desumanização, é uma paranóia coletiva de frustrados e recalcados
dessubjetivados, colocados nesta condição pela exploração capitalista, que ao
transformá-los em docéis instrumentos fabris, parafusos de uma engrenagem (lembram,
Chaplin, “Tempos Modernos?), os rebaixa a uma condição primitivia, onde as
pulsões sadomasoquistas de morte dominam a psiquê humana, individul e coletiva.
O
indivíduo é desumanizado, a individualização transforma-se na
desindividulização, e o ser se vê esvaziado. A separação do homem da natureza,
e de sua natureza, o transforma num autômato hostil aos outros homens.
O
fascismo, o nazismo criam o mal absoluto, que é extremamente difícil de
combater por ser estrutural. Se querem entender o mal estrutural, assistam ao
“Menino do pijama listrado”, o único que se coloca na pele do outro é o menino
filho do oficial nazista. O melhor retrato do mal absoluto é a mãe do menino,
esposa do chefe do campo de concentração. Ela sabe de tudo, mas finge não saber
(assim como bons cristãos, devotos de São Messias Bolsonaro fingem não saber
que ele defende a tortura e o extermínio). O marido era bom pai, bom marido e
tinha um bom emprego com oficial nazista. Judeus queimados num campo de
concentração era um detalhe que tinha de ser eliminado da psiquê, assim, como
jovens negros assassinados nas favelas todo dias é um detalhe a ser ignorado,
pela nossa “felicidade” de crasse mérdia. Eichmann é o retrato absoluto
do mal estrutural. Funcionário chefe da ferrovia que levava aos judeus a
Auschwitz, ele dizia que nunca havia matado um judeu e que seu único trabalho
era que os trens não saíssem atrasados. Inclusive, disse orgulhoso em seu
julgamento, que nunca um trem saiu fora do horário para os campos de
concentração.
O
fascismo, o nazismo só funciona partindo-se da desumanização do outro, da
criação do inimigo imaginário. Adorno/Horkheimer, em seus “Elementos do
antisemitismo”, in “Dialética do esclarecimento”, mostram como funciona a
criação destes inimigos imaginários. Rebaixam-se as pessoas a um estado de
animismo primitivo mágico, retira-se delas qualquer centelha de racionalidade.
Lembram de Damares, na reunião ministerial, uma mulher em estado bruto de
primitivismo mágico selvagem? Não se iludam achando que nela só há estratégia,
ela é aquele ser esquizofrênico, mesmo que acredita na existência física
literal do Diabo. Da mesma maneira que Eichmann era um nazista fanático, que
acreditava na realidade paralela criada pelo nazismo; Damares é a
personificação da realidade lunática paralela do nazismo tupiniquim. Ela não é
mentirosa. É mitômana. Vive num mundo à parte, mas acredita que ele é real.
Nela, estratégia de dominação confunde-se com credo fascista disfarçado de
evangelismo. Os melhores inquisidores não eram perigosos só por serem
inteligentes e ou bom estrategistas, eram perigosos por terem fé cega na
Inquisição. Os nazistas realmente acreditavam no Reich de 1000 anos e em
Hitler.
Este
desgoverno é "A paranóia em estágio delirante." Damares, Bolsonaro,
Weintraub e Cia são um bando de psicopatas com um discurso o tempo todo
paranóico, e tão somente apelando pro emocional, não possuem nada de
racionalidade em suas narrativas. O discurso do fascismo para as grandes massas
nunca vai pro lado racional, pois o fascismo não dialoga com a massa de
desesperados, humilhados, recalcados, naufragados, sofridos através de um
discurso de razão. Apela para o simbólico, para o emocional e para o medo. Medo
e raiva, transformam-se na necessidade de catarse e vingança, através da criação
de um inimigo imaginário. Ainda citando Adorno/Horckeimer, basta você
substituir o judeu errante, criatura mitológica, o bicho-papão de adultos que
recusaram-se a crescer, (exatamente porque as condições para seu crescimento
espiritual como pessoas lhes foram negadas) pelo inimigo imaginário que você
desejar: comunistas, petistas, putas, gays, mulheres… o que você desejar.
O
discurso sádico anal do fascismo é historicamente sempre misógino, porque a
mulher representaria o útero, a reconciliação, a natureza humana, a
fragilidade, a humanização. Não existe fascismo ou nazismo que não seja
misógino em sua essência.
Homens
castrados e frustrados com discursos fálicos armamentistas são característica
básica do nazismo. Quando mulheres aderem ao nazismo e ao fascismo, primeira
coisa que atacam é a condição feminina, não é à toa que o discurso
nazista-bolsonarista no Brasil é declaradamente antifeminista = misógino.
Assim,
o pobre dominado se veste na fantasia do senhor, na dialética do senhor e do
escravo. Ele na sua impotência de dominados, delira que é dominante e necessita
dar vazão a seus impulsos neuróticos, necessita castrar/matar os inimigos
imaginários. E o tânatos (Freud), a pulsão de morte. Os impulsos sádicos anais
são descarregados num festim coletivo diabólico no inimigo imaginário a ser
dizimado. Assim, o pobre, humilhado, escravizado, se vê como senhor ao
exterminar fisicamente seu inimigo imaginário, é o momento em que seu desejo de
potência, castrado e castrador, se realiza perseguindo, linchando, matando. É
uma volta bestial ao sacrifício primitivo.
E
o inimigo passa a ser qualquer um que seu Messias determinar. Todo processo
nazista ou fascista se personifica na figura de um líder carismático messiânico
que substituiu a figura paterna castradora e violenta. O comportamento das
massas fascistas em sua violência é um transe psicótico coletivo. Neste estado
de loucura, não há diálogo racional que os persuada.
Há
limites para a Razão e para o Esclarecimento. Em Dialética do esclarecimento,
Adorno e Horkheimer discursaram exatamente sobre isto. Há um perigoso
preconceito nas Ciências Sociais, erigido em dogma, de que o discurso, o logos,
a “luz” é suficiente para deter tragédias ou desastres. É a fé cega no
esclarecimento, preconceito científico que vem tanto do platonismo, quanto do
iluminismo e do positivismo. Platão dizia que o mal era insubstancial, assim,
ninguém seria mal por opção, chegando a luz, a escuridão se dissiparia (o
escuro não é o contrário da luz, mas sua ausência), o mal é a ausência do bem.
Este discurso chega ao iluminismo e, através da ideia científica positivista de
Comte, às ciências sociais, como leis do Progresso. O desastre do nazismo criou
a crítica a esta ideia. No Brasil, de verdade, discutimos pouco esta crítica. O
fascismo é uma construção de estruturas, não se o combate só com discursos
racionais, até porque ele leva a um estado de “ausência de
subjetividade”, a um não-esclarecimento. Não é possível dialogar com um
fascista. Na verdade, combater o fascismo significar combater e destruir suas
estruturas, o que é uma verdade básica que teremos que reaprender.
No
Brasil, por exemplo, um discurso democratista confundiu-se com um discurso
democrático. Não existe democracia sem autoridade e inclusive, sem o uso da
força contra os inimigos da democracia. Na Alemanha, qualquer apologia ao
fascismo é crime contra o Estado punido com prisão. Um discurso libertário
liberal esqueceu da dialética das estruturas reais.
Assim,
por exemplo, não combatemos o curandeirismo messiânico e a picaretagem, com a
desculpa da liberdade religiosa, e retrocedemos para uma era pré-medieval, na
qual concedemos canais de televisões para picaretas que vendem feijões mágicos
e pregam morte aos gays. Um discurso tautológico e circular que pretendeu democracia
sem autoridade (medo e ranço da esquera de discutir a questão da hierarquia e
da autoridade depois de 20 anos de ditadura), e esqueceu de uma premissa
básica, a tolerância com os intolerantes é defesa da intolerância.
Dizer
que o fascismo e o nazismo tupiniquins, que se instalam frente aos nossos
olhos, é uma paranóia coletiva, não significa dizer que nossos inimigos sejam
burros ou incompetentes políticamente.
O
bolsonarismo usou e abusou das redes sociais e de estratégias muito mais
avançadas de comunicação com as massas, do que as nossas, para nos derrotar em
2018. Isto foi facilitado por três questões.
1.
Nosso negacionismo e primitivismo nas redes sociais, face a uma rede
bolsonarista profissionalizada, montada desde o exterior com apoio e financiamento
do movimento internacional fascistóide de Steve Bannon.
2.
Os limites éticos da esquerda, que sim, devem ser respeitados, mas o não
entendimento que aceitar certos embates no campo do adversário nos levariam a
derrotas (amplificar fake news “criticando-as, por exemplo – a esquerda
re-compartilhava coisas como “a mamadeira de piroca, achando que as pessoas
passariam o fake news pela luneta da razão).
3.
Não entender o discurso emocional atávico de Bolsonaro e tentar desmontá-lo com
apelos à racionalidade.
Existe
uma parcela da população brasileira, que hoje deve variar entre 20% e 30% presa
no processo de paranóia coletiva do nazismo bolsonarista. Não vai ser um apelo
à razão que vai nos fazer ganhar esta parcela da população.
Devemos
estudar o discurso nazifascista de bolsonaro e ver formas mais eficazes de
tentar miná-lo junto a esta parcela fanatizada, mas, acima de tudo, temos que
destruir as estruturas que financiam e estruturam o discurso fascista. As redes
de fake news, as redes miraculosas de picaretagem midiática, todo o sistema
estruturado do fascismo no Brasil, que hoje conta inclusive com institutos que
formam lideranças fascistas jovem custeando estudo e formação para eles.
Com ou sem
Bolsonaro conseguir êxito ou não no seu intento golpista, o nazi-fascismo no
Brasil estruturou-se como partido orgânico e movimento e veio para ficar por um
longo tempo.
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Nasce preocupado com os caminhos do proletariado em geral, porém, especialmente, com o brasileiro