quinta-feira, 14 de maio de 2020

FÉ E POLÍTICA * Elias de França - CE

FÉ E POLÍTICA

Texto do amigo professor Antonio Macário de Moura, tratando da sua realidade pedagógica, na grande São Paulo, tomada do neopentecostalismo.Ele encerra falando de regra e exceção. 
Muito se discute hoje o tema que ele toma como título da matéria: religião x política. Vejo gente da esquerda dizer que o problema são os fundamentalistas religiosos utilizarem a religião para fazer política, compor bancadas, eleger gestores. Vejo gente da direita criticando o padre da minha cidade pelo fato do mesmo fazer comentários políticos nas missas. A despeito do antagonismo ideológico, ambas as posturas convergem: querem o afastamento política x religião.
Mas cá com meus botões, eu indago: 
1- E Belo Monte e o Conselheiro? Não era política e religião?
2- E o Caldeirão de Pe. Cícero e Beato Lourenço?
3- E a Igreja Popular de Dom Fragoso?
4- E a Teologia da Libertação de Dom Helder?
5- Voltando no tempo, e a Páscoa dos hebreus, sob a lideranças de Moisés, libertando-se da escravidão no Egito e ocupando/invadindo a "terra prometida"?
E a revolução Cristã, em pleno domínio dos césares?
Será que o problema é mesmo misturar política e religião?
Ou é aparelhar os instrumentos formadores e reprodutores de poder e de ideologias para a alienação?
Seja regra ou exceção, a questão é o que fazemos com nossa fé e com nossa condição de seres políticos interventores na realidade, construtores da História... mas que história?
(Elias de França)

A religião como prática política
(Antonio Macário)
Antes da generalização dos cursos  remotos, por uma década ministrei aulas de Sociologia e Filosofia nos cursos de administração de empresa e pedagogia em faculdades privadas - uniesquinas ou genéricas como eram chamadas por um ou outro professor de esquerda que por descuido da direção e coordenação era contratado - no decorrer dos governos petistas,os anos dourados para os mercadores da "educação" no Brasil. Não demorou-me perceber que o quadro de funcionários, incluindo professores, e a esmagadora maioria dos estuantes eram católicos, especificamente carismáticos e neopentescostais. Até aí tudo bem, vinha de anos de atividade na educação pública onde é a mesma coisa! A novidade e o contraditório que me surpreendeu residia em verificar que quase a totalidade do quadro de funcionários e dos alunos eram ferozes anti-Partido dos Trabalhadores, mesmo que a manutenção da faculdade - como é óbvio - dependesse das mensalidades dos alunos estes, em sua maioria, bolsista (PROUNI) do governo petista. No curso de pedagogia não raro presenciava discussões e atividades e até simpatia de estudantes acerca dos ensinamentos didático-pedagógicos de Paulo freire. Quando das eleições para prefeito da Cidade de São Paulo (2008), para minha surpresa, os mesmos estudantes entusiasticamente se engajaram na campanha de Gilberto Kassab (PSD) - inimigo de Paulo Freire - contra Marta Suplicy, candidata do PT e defensora dos ensinamentos do mundialmente reconhecido educador pernambucano. Kassab venceu o pleito. Na sanha por mais lucros, os mercadores de diplomas do "ensino superior", investiram pesado em tecnologia da informação no decorrer das administrações petistas e implementaram a Educação a Distância (EaD), Como não poderia deixar de ser, lançaram no olho da rua milhares de professores. Para ganhar a sobrevivência, lá vou eu de volta para o ensino público, desta feita concursado. Nos primeiros dias de atividade pude constatar, com profunda tristeza e preocupação, quão após uma década desde que eu tinha me afastado por conta do trabalho na faculdade privada, a situação da educação pública do Estado de São Paulo, havia piorado em todos os aspectos, Um em particular, chegou e chega mesmo a me assustar:: trata-se do manifesto posicionamento da esmagadora maioria dos estudantes, do curso médio, Ensino de Jovens  e Adultos (EJA) noturno, com relação ao viés humanista contido no Liberalismo Clássico que nas disciplina de Sociologia e Filosofia, que ministro aulas, tem de ser tratado ainda que an passant. Refutam-os violentamente sob o argumento de não haver nada mais injusto do que conceber e defender a igualdade entre os seres humano,, bradam não raro com iracúndia, filhos e trabalhadores pobres, no ensino médio, matutino e noturno. Não são poucos os que defendem, com convicção, a camada rica e dominante. Me faz lembrar a Guerra Cristera (1926-1929) no México, que inspirou o magnífico romance  O Poder e a Glória, de Graham Greene. Antes mesmo desta quarentena, ao ler em classe uma matéria jornalística que trata da pobreza e da fome nos Estados Unidos da América, o texto foi peremptoriamente rechaçado por vários trabalhadores estudantes, muitos precarizados e desempregados. Segundo eles o segredo da imensa riqueza do gigante econômico e político do Norte se deve ao fato de ser uma nação evangélica, e que se pobres e famintos existem realmente, deve-se ao fato de serem eles um bando de vagabundos, como no Brasil. Em tempo. Essa mentalidade e prática política é regra. Que fosse exceção não deixa de ser preocupante e assustador. 


        (Elias de França - CE)

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Nasce preocupado com os caminhos do proletariado em geral, porém, especialmente, com o brasileiro