domingo, 24 de maio de 2020

A SERPENTE SEM PARAÍSO * Marcus Correia - SP


A SERPENTE SEM PARAÍSO


"Ou como são  feitas as nossas cabeças
 – desde o financiamento aos partidos de ESQUERDA ATÉ ÀS ONGS QUE NOS “DEFENDEM” - 

Eu sei que é complicado pra você entender desse assunto, mas vou tentar ser o mais claro e sucinto pra ver se você entende
Primeiro um fato, jornalismo custa caro
a maior parte da dita imprensa progressista recebe financiamento empresarial, veja por exemplo o caso do The Intercept e um bilionário norte americano, veja o caso da tal "Agencia Publica" que na sua propria pagina revela patrocínio da Fundação Ford, da Open Society.
Temos o caso da tal GELEDÉS que também recebe financiamento da Fundação Ford.
Sugiro que estude um pouco antes de chamar alguém de ignorante.
Às vezes sua burrice pode lhe ser bastante nociva
para os demais, mais cauteloso no seu julgamento; saibam que existe uma ampla rede de ongs, ativistas, grupos que recebem dinheiro de fundações como a Ford, especialmente grupos pseudo progressistas;
o intuito é estimular a ideologia identitária liberal, algo que afaste o povo da luta de classes."

Discutindo a Fundação Ford (Parte 1 de 4)
Por: Marcus Correia

É espantoso como entidades, ONGs, ativistas e pesquisadores no Brasil, identificados com a esquerda, em sentido amplo, ainda hoje permanecem recebendo recursos da Fundação Ford, mesmo diante de tantas informações e pesquisas disponíveis a propósito da estreita relação existente entre essa entidade, a política externa dos Estados Unidos e seus órgãos de inteligência.

Pressupondo que a razão para esse aparente paradoxo político decorra apenas de um profundo desconhecimento de fatos básicos da história dessa instituição, este artigo procura reunir alguns desses fatos, a maior parte deles recolhidos de importantes trabalhos já publicados.

O artigo apresenta-se dividido em quatro partes: a primeira aborda os primeiros anos da Fundação, do período que vai da sua criação no ano de 1936 até o término da Segunda Guerra Mundial em 1945; a segunda parte se debruça sobre o período entre o início da chamada Guerra Fria até os anos de 1960; a terceira traz fatos a respeito da atuação da Fundação Ford no Brasil, sobretudo, durante a ditadura militar; a quarta parte aborda as atividades da Fundação Ford dos anos 1970 até os dias atuais.

Cabe observar que, nesse delicado momento atual do país, é cada vez mais relevante que se avolumem discussões sobre o imperialismo, uma vez que, ao que consta, o Brasil não é o centro do capitalismo global e está mais sujeito às suas intempéries do que parece a muitos analistas da esquerda autóctone. E aqueles que não concordarem com essa breve história da Fundação Ford, que contem outra mais idílica.

As origens: de 1936 a 1945
Em uma cerimônia solene ocorrida na cidade de Dearborn, em Michigan, nos Estados Unidos, no dia 30 de julho de 1938, o cônsul da Alemanha acreditado em Cleveland, Karl Krapp, e seu congênere em Detroit, Fritz Heller, presentearam o industrial estadunidense Henry Ford pelo dia do seu aniversário. A pedido do führer, ofereceram-lhe a Grã-Cruz da Ordem da Águia Alemã (Großkreuz des Deutschen Adlerordens). Essa alta condecoração do Estado alemão havia sido criada no ano anterior por Adolf Hitler com o intuito de homenagear estrangeiros que desfrutavam da sua admiração. Outros dois indivíduos que receberam a referida medalha honorífica foram Benito Mussolini e o espanhol Francisco Franco.

Adolf Hitler há muito manifestava uma forte simpatia por Henry Ford e manteve uma foto dele em seu escritório em Munique. No início dos anos 1920, Henry Ford escreveu execráveis escritos antisemitas, os panfletos The International Jews: The World`s Problem, transformados ulteriormente em livro e que inspiraram o líder nazista na sua perseguição implacável aos judeus na Europa. Traduzidos para a língua alemã, os escritos de Ford tiveram ampla circulação nos meios nazistas antes de 1933. Por essa razão, a primeira edição de Mein Kampf Hitler, dedicou a Henry Ford.

Afora as concepções lunáticas da existência de uma conspiração judaico-comunista internacional contra a qual ambos lutavam, a admiração de Hitler por Henry Ford advinha também dos métodos de racionalização industrial. Essa racionalização serviria como exemplo tanto ao modelo industrial do Reich, como ao sistema, igualmente fabril, de extermínio bárbaro de milhões de pessoas em campos de concentração, a exemplo de Auschwitz, Sobibor e Treblinka.

Desde os anos 1920, Ford vinha contribuindo com o financiamento do Partido Nacional-Socialista na Alemanha e enviava de 10 a 20 mil marcos alemães como presente de aniversário para Adolf Hitler todos os anos, até 1944. [1]

Nos Estados Unidos, Henry Ford manteve um sistema conhecido pelos críticos como a “Gestapo de Ford”, o que também lhe rendeu o apelido dado pelo New York Times, em 1928, de “Mussolini do Highland Park” [2].

Ford, além de perseguir e reprimir sindicalistas, organizou um sistema de vigilância e controle da vida privada de seus funcionários, por meio da criação de um Departamento de Sociologia da Ford Motor Company. Tal órgão procurava intervir nos aspectos privados dos trabalhadores das fábricas, como moradia, alimentação, lazer e modo de vida. Ford até mesmo contratou um ex-pugilista que serviu como “fiscalizador” do serviço privado de repressão política e social aos trabalhadores da Ford em Dearborn e que lhes fazia visitas inesperadas em seus lares. [3]

A condecoração de Henry Ford com o maior título honorífico dado a estrangeiros pelo governo nazista nada mais foi do que um reconhecimento inter pares. Dois anos antes, no início de 1936, Edsel Ford, filho de Henry Ford e então presidente da Ford Motor Company anunciou a criação da Fundação Ford, que tinha por objetivo dispender recursos “à caridade, à educação e à ciência”. Mas, de fato, a criação da fundação filantrópica familiar servia a interesses econômicos muito claros aos contemporâneos.

Em 1934, um grupo de empresários, banqueiros e oficiais militares estadunidenses patrocinaram uma tentativa de golpe de Estado contra o presidente Franklin D. Roosevelt, golpe esse que visava à instauração de um regime filofascista nos Estados Unidos.[4]

Malfadada a tentativa de golpe contra Roosevelt e no contexto econômico do New Deal, em 1935, o Congresso dos Estados Unidos aprovou o Revenue Act, uma espécie de taxação de grandes fortunas que chegava à casa dos 70%. [5]

O maior prejudicado com a nova legislação seria justamente a multimilionária família Ford. Para dissimular do fisco a cobrança dos novos impostos foi, portanto, criada a Fundação Ford, transferindo-se, assim, 90% das ações da Ford Motor Co. pertecentes à família para a nova entidade “filantrópica”.

Desde então, diferentemente do que se pensa, a Fundação Ford tornou-se a proprietária da Ford Motor Company. [6]

Os três únicos diretores da Fundação Ford no período eram Edsel Ford, presidente da Ford Motor Co. e igualmente presidente da Fundação; Bert J. Craig, secretário e tesoureiro da Ford Motor Co; e Clifford Longley, advogado da Ford Motor Co.

Pressionada pelo governo a dar, então, início a qualquer atividade filantrópica de relevo, a Fundação Ford anunciou, em dezembro de 1937, a doação de um terreno em Dearborn, Michigan, EUA, para a construção de quatro mil “moradias modelo” para operários locais. A Ford doou o terreno e o projeto, enquanto a construção ficaria a cargo de outros empresários que tivessem interesse no empreendimento.

Originalmente anunciado como filantropia a operários, pelos baixos custos de aluguel ou venda, logo o projeto foi desconfigurado, tornando-se um empreendimento imobiliário de mais alto padrão, com centro de negócios, escolas, clínicas médicas, lojas, entre outros. De acordo com uma matéria da época, a iniciativa passou a beneficiar trabalhadores de “white collar”, conforme a expressão do jornal [7].

Essa foi a única iniciativa “filantrópica” da entidade que teve ampla repercussão antes de 1945. O real interesse por trás da criação da Fundação, i.e., dissimular a fortuna familiar adquirida ao longo dos anos de exploração da classe trabalhadora pela Ford Motor Co., fez com que ela permanecesse inexpressiva nas suas ações “humanitárias” durante os primeiros dez anos de existência.

Já na Europa, a Ford Motor Co. mantinha fortes investimentos econômicos desde os anos 1920. Em particular, na Inglaterra e na Alemanha. Neste último, encontrou certas dificuldades decorrentes da ascensão do nacionalismo de ultra-direita no país, uma vez que parte da população sabotava a compra de produtos de empresas estrangeiras. Mesmo assim, a relação com o governo nazista que ascendeu em 1933 era mais amena e a Ford fabricou um terço dos caminhões do exército nazista, por exemplo, e dobrou de tamanho na Alemanha entre 1939 e 1945 [8].

Entre 1941 e 1945, a subsidiária da Ford Motor Co. em Colônia, na Alemanha, a FordWerke, utilizou, inclusive, trabalho escravo de presos estrangeiros e judeus, oriundos da Europa Oriental, da União Soviética, da Itália e da França [9].

Esses são alguns poucos e relevantes fatos do período de origem da Fundação Ford. Frente à oposição política que a família Ford mantinha ao governo de Franklin D. Roosevelt, até o final da II Guerra, a Fundação não atuou em parceria com o governo dos Estados Unidos. E suas atividades de caridade restringiam-se a poucas iniciativas em Michigan. A relação estreita com o Departamento de Estado e os órgãos de inteligência estadunidenses passaria a ocorrer a partir do início da chamada Guerra Fria, objeto da próxima parte desse artigo.

NOTAS:
1 – BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. A Desordem Mundial: o espectro da total dominação. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016. p. 44-46
2 – SAGER, Geshe. Henry Ford und die Nazis – Der Diktator von Detroit. Spiegel Online, 29, jul. 2008.
3 – Idem.
4 – BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Op. cit. p. 44-46
5 – CHAVES, Wanderson da Silva. O Brasil e a recriação da questão racial no pós-guerra: um percurso através da história da Fundação Ford. Tese (Doutorado). Programa de Pós Graduação em História Social, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2011. p. 26-27
6 – Idem. p. 26-27
7 – De La Crosse Tribune, La Crosse, Winconsin, EUA, 6 jul. 1939.
8 – LIMA, Cláudia de Castro. Os aliados ocultos de Hitler. Revista Super Interessante.
9- REICH, Simon. Tha Nazi Party: Ford Motor Company and the Third Reich. Jewish Virtual Library. A própria Ford Motor Co. em 1998 abriu um amplo processo de investigação interna sobre a conduta da sua subsidiária na Alemanha, provocada por processos legais de sobreviventes do Holocausto que foram movidos contra a empresa por haverem trabalhado como escravos na FordWerke.  https://esquerdaonline.com.br/2016/12/10/discutindo-a-fundacao-ford-parte-1-de-4/


"Acabei de conversar com a companheira que saiu e algo bastante preocupante eu notei nas duvidas dela:
recentemente a escumalha direitista repugnante começou a fazer "denuncias" de financiamento da esquerda por fundações como a Open Society... esta imunda direita como sempre transformou alguns fatos em uma grande teoria da conspiração racista e no processo encobriu um debate de fundamental importância para o nosso campo politico: A questão do financiamento das nossas organizações. 
Eu não sei vocês companheiros mas eu dificilmente levaria a sério uma organização que se dissesse de esquerda e aceitasse dinheiro de uma organização burguesa, por motivos obvios...  Por que diabos uma empresa capitalista financiaria quem estaria contra o seus projetos? ... se com isso ela eventualmente iria perder dinheiro?
  
Infelizmente o fato de ongs, "Ativistas", partidos, sindicatos, intelectuais ditos progressistas estarem recebendo recursos de multinacionais é verdade sim, a questão é o objetivo que bem diferente de ser uma "conspiração dos bilionários judeus comunistas" como fala a imundície direitista, trata-se de uma tática utilizada na época da guerra fria pra afastar a militância das questões de classe.

Observem como o tal "ativismo" liberal tem sido utilizado por empresas capitalistas pra fazer propaganda, observem como as organizações de esquerda estão cada dia mais desorganizadas, mais enfraquecidas, que a politica sofre uma direitização absurda;
nada disso é por acaso companheiros.

No livro de uma pesquisadora liberal estadunidense com o titulo de QUEM PAGOU A CONTA, ela vai nos detalhando como a CIA financiou diversas publicações, intelectuais, ongs e ativistas pelo mundo afora pra impedir que eles se inclinassem para o comunismo
nada disso mudou

a tática continua sendo empregada

no livro da Naomi Klein uma social democrata liberal dos EUA em que ela denuncia o neoliberalismo ela cita no livro dela que a Fundação Ford ao mesmo tempo que bancava os chicago boys também financiava os combatentes pelos direitos humanos
a burguesia pra quem não sabe trabalha dessa forma, ela paga os dois lados
se vocês não sabiam disso, já passou da hora de saberem
porque é essa a base que esta destruindo nosso campo politico
nos tornando vulneráveis
o caso da agencia publica que revela abertamente seus financiadores é um caso a parte
a maioria não revela essa informação, e ainda por cima tentam passar por bons samaritanos com aquela treta de "financiamento coletivo", pessoal não sejam ingenuos, nenhum financiamento coletivo vai manter um jornal bem produzido, isso requer recursos que a maioria dos brasileiros não acostumados a abrir as carteiras não tem e nem doaria
especialmente numa crise
questionar de onde vem os recursos que financiam essas mídias com nomes bonitinhos é crucial
elas divulgam certos pensamentos que influenciam decisivamente na qualidade da nossa luta
eu sei que a direita repugnante esta usando isso pra fazer demagogia, e esse é o modus operandis deles, veja o exemplo da tal "doutrinação esquerdistas", quem faz essa doutrinação são eles mesmos, por acaso na maioria das universidades o debate comunista não sumiu do mapa? pesquisadores ligados a esse campo politico não perderam seus empregos? ta tudo registrado na história, certos campos da faculdade como a economia é um poço de reacionários
a direita pega um fato, distorce o sentido e cria uma teoria da conspiração em cima e pufff:
adeus debate...

Bom companheiros, com o tempo pretendo esmiuçar mais esse tema, que é urgente, fundamental, precisamos mais do que nunca saber quem são de fato nossos aliados, de onde vem as noticiais que consumimos, quais as doutrinas filosóficas que embasam a fundamentação dos pensamentos políticos que nos são divulgados, porque nada disso é por acaso
na politica não existe casualidades, especialmente com tantos lobos por perto...
Uma ultima palavrinha sobre esse caso, antes de 2016 a tal inteligentisia "Esquerdista" deu um jeito de desaparecer com o debate sobre imperialismo, colonialismo, que como sabemos é a pedra angular que explica o atraso do nosso país... eles diziam na época que isso era um conceito ultrapassado... e isso não era por acaso, os grupos a quem interessava que a esquerda não discutisse imperialismo estão se beneficiando bastante disso agora, o golpe que vivenciamos em 2016 não foi por acaso, foi algo que já vinha sendo construído...
o objetivo sempre foi
evitando assim que os trabalhadores se inclinassem para o comunismo, tornando o tal progressismo da América Latina um progressismo totalmente inofensivo

A Propagação Hegemônica: como as agências globais e a mídia ocidental cobrem a geopolítica
(parte 1)

“Por isso, você sempre tem que se perguntar: por que eu estou recebendo esta informação específica, neste formato específico, neste momento específico? No fim das contas, é sempre por questões de poder.” — Konrad Hummler, executivo de mídia suíço

Este é um dos mais importantes aspectos do sistema dos nossos meios de comunicação, apesar de ainda ser praticamente desconhecido pelo público: a maioria da cobertura de notícias internacionais na mídia ocidental é fornecida por apenas três agências globais de notícias, com sedes principais em Nova Iorque, Londres e Paris.

O papel central desempenhado por essas agências faz com que a mídia ocidental frequentemente informe sobre os mesmos assuntos, utilizando até as mesmas terminologias e formulações. Além disso, governos, militares e serviços de inteligência utilizam essas agências de notícias globais como multiplicadoras para propagar suas mensagens pelo mundo.

Um estudo sobre a cobertura da guerra na Síria por nove dos principais jornais europeus ilustra claramente essas questões: 78% de todas as publicações foram baseadas, completa ou parcialmente, em notícias de agências e 0% em pesquisa investigativa. Não obstante, 82% de todos os artigos de opinião, comentários e entrevistas foram a favor da intervenção dos EUA e da OTAN, enquanto a propaganda ideológica foi atribuída exclusivamente ao lado oposto.

Introdução: “Algo estranho”
“Como um jornal sabe o que sabe?”. A resposta para essa pergunta é provavelmente surpreendente para os leitores de jornais:

“A principal fonte de informação são as notícias de agências. As agências de notícias operando quase anonimamente são, de certa forma, a chave para os eventos mundiais. Então, quais são os nomes dessas agências? Como elas funcionam? Quem as financia? Para avaliar quão bem alguém está sendo informado sobre acontecimentos no Ocidente e no Oriente, é necessário saber as respostas para essas perguntas.” (HÖHNE, 1977, p. 11)

Roger Blum, pesquisador de mídia suíço, ressalta:

“As agências de notícias são as fornecedoras de material mais importantes para os meios de comunicação em massa.  Nenhum veículo de comunicação diário consegue subsistir sem elas… De modo que as agências de notícias influenciam a nossa imagem do mundo. E, acima de tudo, somos informados sobre o que elas selecionaram.” (1995, p. 9)

Tendo em conta sua relevância, é ainda mais surpreendente que essas agências sejam pouco conhecidas pelo público:

“Uma grande parte da sociedade desconhece que as agências de notícias existem… e, na verdade, elas desempenham um papel extremamente importante no mercado dos meios de comunicação.  Todavia, apesar dessa grande importância, pouca atenção foi dada a elas no passado.” (SCHULTEN-JASPERS, 2013, p. 13)

Até mesmo o líder de uma agência de notícias observou:

“Há algo de estranho sobre as agências de notícias. Elas são pouco conhecidas pelo público. Ao contrário de um jornal, a atividade delas não está tanto no centro das atenções, embora possam sempre ser encontradas como fonte das publicações.” (SEGBERS, 2007, p.9)

“O nervo central invisível do sistema dos meios de comunicação”
Portanto, quais são os nomes dessas agências de notícias que “sempre estão na fonte das publicações”?  Atualmente, restam apenas três agências globais:

A norte-americana Associated Press (AP) com mais de 4.000 funcionários em todo o mundo.  A AP pertence a empresas de comunicação dos EUA e tem seu principal escritório editorial em Nova Iorque. As notícias da AP são utilizadas por cerca de 12.000 veículos de comunicação internacionais, alcançando mais da metade da população mundial todos os dias.
A semi-estatal francesa Agence France-Presse (AFP), sediada em Paris, possui por volta de 4.000 funcionários. A AFP envia diariamente mais de 3.000 notícias e fotos para veículos de comunicação do mundo inteiro.
A agência britânica privada Reuters, de Londres, emprega um pouco mais de 3.000 pessoas.  A Reuters foi adquirida em 2008 pelo magnata da mídia canadense Thomson –  uma das 25 pessoas mais ricas do mundo –, resultando na fusão Thomson Reuters com escritório principal em Nova Iorque.
Além disso, muitos países administram suas próprias agências de notícias. Contudo, quando se trata de notícias internacionais, estas geralmente dependem das três agências globais e basicamente copiam ou traduzem as informações passadas.

As três agências globais de notícias: Reuters, AFP e AP. E as três agências nacionais de países germanófonos: APA da Áustria, DPA da Alemanha e SDA da Suíça.
Wolfgang Vyslozil, ex-diretor administrativo da austríaca APA, descreveu o papel fundamental das agências de notícias da seguinte maneira:

“Agências de notícias raramente são percebidas pelos olhos do público.  No entanto, elas são uma das mais influentes e, ao mesmo tempo, um dos tipos de mídia menos conhecidos.  São instituições fundamentais de importância substancial para qualquer sistema de comunicação. Elas são o nervo central invisível que conecta todas as partes desse sistema.” (SEGBERS, 2007, p. 10)

Pequenas abreviações, grandes efeitos
Entretanto, há um motivo simples para as agências globais, a despeito de sua importância, serem praticamente desconhecidas do público em geral.  Como observa Blum:

“o rádio e a televisão, geralmente, não citam suas fontes, e apenas especialistas conseguem decifrar as referências em revistas.” (1995, p. 9)

O motivo para essa discrição, no entanto, deve ficar claro: os veículos de comunicação não estão particularmente interessados ​​em mostrar aos leitores que eles próprios não pesquisaram a maior parte de suas produções.

A imagem abaixo ilustra alguns exemplos de rotulação de fontes em jornais populares de língua alemã.  Ao lado das abreviações das agências, encontramos as iniciais dos editores responsáveis pela respectiva notícia da agência.

Agências de notícias como fontes em matérias de jornais.
Ocasionalmente, os jornais utilizam material de agência mas não o rotulam de fato.  Um estudo realizado em 2011, pelo Instituto Suíço de Pesquisa de Esfera Pública e Sociedade da Universidade de Zurique, chegou às seguintes conclusões (FOEG, 2011):

“As contribuições por meio de agências ou são exploradas integralmente sem que haja rotulação, ou são parcialmente reescritas para fazê-las parecerem com uma contribuição editorial. Além do mais, existe uma prática de ‘incrementar’ as notícias de agência com o mínimo de esforço: por exemplo, as que não são publicadas são enriquecidas com imagens e gráficos e apresentadas como artigos abrangentes.”

As agências desempenham um papel proeminente não apenas na imprensa escrita, mas também nas emissoras privadas e públicas. Tal aspecto é confirmado por Volker Braeutigam, que trabalhou por dez anos para a emissora estatal alemã ARD e que vê o domínio dessas agências de forma crítica:

“Um problema crucial é que a redação da ARD obtém suas informações principalmente de três fontes: as agências de notícias DPA/AP, Reuters e AFP. Uma alemã/norte-americana, uma britânica e outra francesa… O editor que trabalha em um determinado tópico de notícias só precisa selecionar algumas passagens de texto na tela que ele considere essenciais, reorganizá-las e colá-las com alguns floreios.”

A Schweizer Radio und Fernsehen (SRF, Rádio e Televisão Suíças) também se baseia amplamente em notícias dessas agências. Indagados por telespectadores pelo motivo de uma marcha da paz na Ucrânia não ter sido noticiada, os editores responderam: “Até o momento, não recebemos um único informe das agências independentes Reuters, AP e AFP sobre essa marcha”.

De fato, não apenas os textos, mas também as imagens e as gravações de som e vídeo que encontramos na nossa mídia todos os dias são, principalmente, das mesmas agências de sempre. O que o público desavisado pode considerar como produções do seu jornal local ou canal de TV, na realidade, são informações copiadas de Nova Iorque, Londres e Paris.

Alguns meios de comunicação deram um passo ainda mais além e, por falta de recursos, terceirizaram todo o seu escritório editorial estrangeiro por uma agência. Ademais, é amplamente documentado que muitos portais de notícias na internet publicam sobretudo informes de agências – ver, por exemplo, Paterson (2007), Johnston (2011) e MacGregor (2013).

No fim, essa dependência das agências globais cria uma semelhança impressionante nos noticiários internacionais. De Viena a Washington, os nossos meios de comunicação frequentemente cobrem os mesmos assuntos, usando muitas vezes as mesmas frases – um fenômeno que, em outro contexto, seria associado à “mídia controlada” em estados autoritários.

A imagem a seguir mostra alguns exemplos de publicações alemãs e internacionais. Como é possível observar, apesar da alegada objetividade, um ligeiro viés (geo)político é, muitas vezes, espraiado.

“Putin ameaça”, “Irã provoca”, “OTAN preocupada”, “fortaleza de Assad”: similaridades de conteúdo e de escrita devido às informações de agências globais de notícias.

O papel dos correspondentes
Grande parte da nossa mídia não tem correspondentes internacionais, de maneira que nossos veículos de comunicação não têm escolha a não ser depender completamente de agências globais para notícias estrangeiras. Porém, e os grandes jornais e emissoras de TV que possuem seus próprios correspondentes internacionais? Nos países de língua alemã, por exemplo, são jornais como o NZZ, o FAZ, o Süddeutsche Zeitung, o Welt e as emissoras públicas.

Em primeiro lugar, a desproporção numérica deve ser mantida em mente: enquanto as agências globais têm milhares de funcionários no mundo inteiro, até mesmo o jornal suíço NZZ, conhecido por sua cobertura internacional, mantém apenas 35 correspondentes em solo estrangeiro (incluindo representantes comerciais). Em países com dimensões continentais como a China e a Índia, o jornal possui apenas um correspondente internacional para cada. Toda a América do Sul é coberta por apenas dois jornalistas, enquanto que na ainda maior África ninguém está permanentemente alocado.

Mais do que isso, em zonas de guerra, os correspondentes raramente se aventuram a fazer a cobertura. Na guerra na Síria, por exemplo, muitos jornalistas “cobriram” de cidades como Istambul, Beirute, Cairo e até mesmo de Chipre. Para completar, muitos desses jornalistas não possuem as habilidades linguísticas para entender as pessoas e as mídias locais.

Então, como é que correspondentes em tais circunstâncias sabem quais são as “notícias” na sua região do mundo? Mais uma vez,  a resposta fundamental: por meio das agências globais. Joris Luyendijk, correspondente holandês no Oriente Médio, descreveu de maneira impressionante, em seu livro People Like Us: Misrepresenting the Middle East, como os correspondentes internacionais trabalham e como eles dependem das agências globais:

“Eu sempre pensei em correspondentes como uma espécie de historiadores em tempo real. Quando algo importante acontecia, eles iam atrás, descobriam o que estava acontecendo e relatavam o ocorrido. Mas eu não fui enviado para descobrir o que estava acontecendo, isso era feito muito antes. Eu fui para recitar uma notícia do local.

Os editores ligavam da Holanda quando algo acontecia, enviavam por fax ou por e-mail os comunicados à imprensa, e eu os recontava com minhas próprias palavras no rádio ou os transformava em alguma matéria para o jornal. Esse é o motivo pelo qual os meus editores achavam mais importante que eu estivesse no lugar em si do que realmente saber o que estava acontecendo. As agências de notícias forneciam informações suficientes para que você pudesse escrever ou falar sobre qualquer crise ou reunião de cúpula.

É por isso que você frequentemente se depara com as mesmas imagens e informações se folhear alguns jornais diferentes ou alternar entre canais de notícias.

Nossos homens e mulheres nos escritórios de Londres, Paris, Berlim e Washington… Todos pensavam que os temas errados estavam dominando os noticiários e que estávamos seguindo os padrões das agências de notícias muito servilmente…

A ideia comum sobre os correspondentes é que eles “possuem a informação”, mas a realidade é que as notícias são como uma esteira rolante em uma fábrica de pães. Os correspondentes estão no final da esteira, fingindo que nós mesmos assamos o pão, quando, na verdade, tudo o que fizemos foi colocá-lo em sua embalagem…

Certo dia um amigo me perguntou como eu conseguia responder, de hora em hora e sem hesitar, todas as perguntas durante as transmissões. Então, eu o disse que, como no noticiário da TV, você já sabe todas as perguntas com antecedência. A resposta dele por e-mail veio repleta de expletivos. Meu amigo havia percebido que, por décadas, o que ele estava assistindo e ouvindo nos noticiários era puro teatro.” (LUYENDJIK, 2009, pp. 20-22, 76, 189)

Em outras palavras, o correspondente típico, em geral, não é capaz de fazer uma investigação independente. Pelo contrário, ele trata e reforça os temas que já foram prescritos pelas agências de notícias – o notório “efeito mainstream”.

Além disso, por economia de custos, muitos veículos de comunicação compartilham seus poucos correspondentes internacionais, portanto, dentro de grupos específicos de mídia, as mesmas informações internacionais são frequentemente utilizadas por várias publicações – nenhuma delas contribuindo para a diversidade da cobertura.
“O que as agências não reportam, não aconteceu”
O papel central das agências de notícias também revela por que, em conflitos geopolíticos, a maioria das mídias utiliza as mesmas fontes. Na guerra na Síria, por exemplo, o “Observatório Sírio de Direitos Humanos” – uma organização de uma pessoa só, bastante duvidosa e com sede em Londres – se destacou. A mídia raramente indagava diretamente esse “Observatório”, já que seu operador era muito difícil de ser contatado, até mesmo pelos jornalistas.

Em vez disso, o “Observatório” entregava suas informações a agências globais que, então, as enviavam para milhares de veículos de comunicação, que, por sua vez, “informavam” centenas de milhões de leitores e espectadores em todo o mundo. Por que as agências de todos os lugares se referiram a esse estranho “Observatório” em suas notícias e quem realmente o financiava são perguntas que raramente eram feitas.

Por isso, o ex-editor-chefe da agência de notícias alemã DPA, Manfred Steffens, afirma em seu livro The Business of News:

“Uma notícia não se torna mais correta simplesmente porque é possível fornecer uma fonte para ela. É bastante questionável confiar mais em uma notícia apenas pelo fato de uma fonte ter sido citada. Por trás do escudo protetor que uma ‘fonte’ proporciona para a notícia, algumas pessoas se sentem bastante inclinadas a espalhar coisas muito suspeitas, mesmo que elas próprias tenham dúvidas legítimas sobre sua veracidade. A responsabilidade, pelo menos moralmente, sempre pode ser atribuída à fonte citada.” (1969, p. 106)

A dependência de agências globais também é uma das principais razões pelas quais a cobertura midiática dos conflitos geopolíticos é frequentemente superficial e errônea, uma vez que as relações históricas e os contextos são fragmentados ou completamente ausentes. Como apontado por Steffens:

“As agências de notícias são impulsionadas quase que exclusivamente por acontecimentos em tempo real e são, portanto, a-históricas por sua própria natureza. Elas são relutantes em contextualizar mais do que o estritamente necessário.” (1969, p. 32)

Por fim, o domínio das agências globais explica o porquê de certas questões e eventos geopolíticos – que muitas vezes não se encaixam bem na narrativa dos EUA/OTAN, ou são “pouco importantes” – não são mencionados em nossos meios de comunicação. Se as agências não cobrem algo, consequentemente, a maioria da mídia ocidental não estará a par do ocorrido. Como apontado por ocasião do 50º aniversário da alemã DPA:

“O que as agências não reportam não aconteceu.” — Wilke (2000, p.1)                https://revistaopera.com.br/2019/04/23/a-propagacao-hegemonica-como-as-agencias-globais-e-a-midia-ocidental-cobrem-a-geopolitica-parte-1/

Essa é a parte 1, depois posto a parte 2 são dois bons artigos sobre o tema tratado, vale muito a leitura"

Sobre a fonte:

Titular: Marcus Correia
Comentários: JOOHN NADA - SP)
Titulo: AntonioCabral Filho
******************

Um comentário:

  1. Entre tantas coisa que eu não sabia e muitas outras que nunca vamos saber vou buscando pelo ao menos saber fazer algumas perguntas.

    ResponderExcluir

Nasce preocupado com os caminhos do proletariado em geral, porém, especialmente, com o brasileiro