sexta-feira, 16 de julho de 2021

Apesar de Daniel, Sandino vive * Observatório Proletários / BR

APESAR DE DANIEL, SANDINO VIVE

Nossa Pátria Grande, latino-americana e caribenha, tem uma natureza épica. De infinitas formas lutou e ainda luta pela sua independência definitiva e pela sua autodeterminação. Assim é nossa trajetória desde que chegou o primeiro invasor da Europa imperial. Sempre se lutou, sempre se perdeu e sempre se venceu. A palavra resistência é o selo de uma civilização que está ao sul do maior e mais violento império da história da humanidade. Uma América Latina em farrapos soube-se vestir de glória muitas vezes. Suas revoluções animaram milhões de libertárias e libertários.

Uma das páginas que inspirou várias gerações de lutadores foi a Revolução Sandinista. Sua caminhada começou como consequência da ingerência do império norte-americano nascente e da influência ainda importante do decadente império britânico. Foi um campesino, Augusto César Sandino, que reuniu um grupo de patriotas que tinham por finalidade acabar com a intervenção norte-americana em território nicaraguense. Os partidários de Sandino se constituíram em guerrilha, e como tal lutaram contra os invasores entre 1926 e 1933.

Conseguido o objetivo mais importante naquele momento que era a saída das tropas norte-americanas, Sandino aceitou depor as armas e em troca exigiu preservar a soberania do seu país. É nesse momento, e como aconteceu em muitas nações da nossa região, que um grupo de militares faz um acordo com os Estados Unidos e as nascentes oligarquias locais e assassinou o líder camponês. Apareceu no horizonte da jovem Nicarágua o fundador da dinastia Somoza: Anastásio Somoza Garcia. Anastásio deu início a uma saga de exploração, tortura e morte de trabalhadores e estudantes que só terminou quando a Revolução derrocou um dos maiores delinquentes e ditadores da história, Anastásio Somoza Debayle.

A dinastia assassina dos Somoza governou com punho de ferro da década de 30 até os anos 70. Mas, com o auge da Revolução Cubana surge uma nova agrupação guerrilheira para torcer o destino que sangrava a nação. Era fundada a Frente Sandinista de Libertação Nacional. A Frente precisou aguardar até 1979, quando a Nicarágua estava submersa numa guerra civil, para derrocar o último ditador da família Somoza. A Nicarágua, como Honduras, a Guatemala e El Salvador sempre foram chamadas de repúblicas bananeiras a serviço do império. Quando em distintas épocas isso mudou, foram derrocados seus líderes: desde Jacobo Arbenz na Guatemala dos anos 50 até José Manuel Zelaya na Honduras de 2009.

A revolução como tal parece hoje derrotada. Mas é valioso apesar dos seus erros e reconciliações com o império, e da degeneração do processo revolucionário nas mãos de Daniel Ortega e Rosario Murillo, que 41 anos depois do seu triunfo, ainda exista, de alguma maneira, a Revolução Sandinista, que um dia foi marco dos sonhos libertários dos que lutam por Outro Mundo Urgente e Possível.

(Publicado originalmente em http://desacato.info/editorial-41-anos-da-revolucao-sandinista-ou-do-que-resta/ )

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Nasce preocupado com os caminhos do proletariado em geral, porém, especialmente, com o brasileiro