domingo, 12 de setembro de 2021

NÃO CONSEGUIMOS ENCONTRAR O FIO DE ARIADNE * Dalton Rosado / CE

 NÃO CONSEGUIMOS ENCONTRAR O FIO DE ARIADNE

 QUE NOS INDIQUE A SAÍDA DESTE LABIRINTO DE CRISES DEVASTADORAS 

Parte 1

GETÚLIO (militares), JÂNIO (militares), COLLOR,
 BOLSONARO (militares)... E DEPOIS LULA. ATÉ QUANDO?

"Fazei-o discorrer sobre política e o nó górdio do
caso ele deslinda, tão facilmente como o faz com a
jarreteira"(William Shakespeare, na peça Henrique V)

Há uma percepção generalizada entre a população, e em todos os níveis
do conhecimento e nos vários estratos sociais, de que o grande
problema das crises e desgastes governamentais se deve à corrupção.

Não é, e o buraco está bem mais embaixo. Mas é assim que os
bravateiros da moralidade administrativa conseguem eleger-se, passando
a ideia de que com eles a corrupção acaba e tudo melhora.

Getúlio Vargas era considerado o pai dos pobres por ter regulamentado
a exploração capitalista pelo trabalho com base na Carta del Lavoro do
fascista Mussolini (tais relações eram ainda mais draconianas antes
dele).

Mas estava encurralado por um ultimato militar que exigia sua imediata
renúncia, sob a acusação de ter permitido a existência de um mar de
lama no seu governo (argumento trombeteado  principalmente por Carlos
Lacerda). Conseguiu abortar o golpe cometendo suicídio e deixando uma
carta-testamento contundente que provocou uma reação popular.

Eis outros episódios e personagens marcantes:

— Jânio Quadros tinha como símbolo de campanha a vassourinha que iria
varrer a corrupção. Queixando-se de forças terríveis que não estariam
permitindo que ele governasse como pretendia, renunciou após sete
meses e alguns dias de governo;
— Fernando Collor cultivava a imagem de um caçador de marajás, baseada
em algumas medidas que tomara como governador de Alagoas, confrontando
usineiros e funcionários públicos cujos salários eram muito elevados.
Queria governar como se elegeu, sozinho e tendo como tesoureiro (e
testa-de-ferro) o energúmeno e corrupto PC Farias. Renunciou na
iminência do impeachment e seu serviçal foi vítima de uma óbvia queima
de arquivo;
— Jair Bolsonaro se fez passar por representante da Operação Lava-Jato
na eleição presidencial de 2018 (farsa que ganhou verossimilhança com
o apoio que obteve de Sergio Moro, prometendo fazer dele um
superministro e depois indicá-lo para uma vaga no STF, mas a patranha
logo se evidenciou insustentável) e empunhava armas que significariam
a restauração da ordem social e proteção contra uma violência urbana
que hoje chega às raias de uma guerra civil não declarada. Hoje ele e
sua turba de incendiários descerebrados estão cada vez mais isolados e
politicamente impotentes.

Tudo era mentira, e como a mentira tem pernas curtas, todos nós
conhecemos o resultado. Só que, sendo curta a memória popular, o ciclo
de bravateiros populistas se repete com certa regularidade: de Getúlio
para Jânio, 30 anos (1930 a 1960); de Jânio para Collor, 30 anos (1960
a 1990); e de Collor para Bolçalnaro, o ignaro, 28 anos (1990 a 2018).
Parafraseando o grande Plínio Marcos, no inventário de culpas por
termos chegado ao
 pesadelo atual, é enorme a responsabilidade destes dois perdidos numa
eleição suja.
Não nos esqueçamos que todos esses governos sempre estiveram sob uma
tutela militar, que no Brasil existe desde a implantação da República
por uma quartelada, seja como ameaça ou mesmo como governo (Getúlio
ascendeu ao poder político civil com um golpe militar tenentista, e os
militares posteriormente se voltaram contra ele, depondo-o duas vezes,
em 1945 e 1954).

É o que chamo de pêndulo da ineficácia, tal qual aquele do relógio de
parede que vai de um lado para outro (no caso direita absolutista
militar e democracia burguesa inepta) e não sai do mesmo lugar.

A antiga miséria ultimamente só aumenta, sob a forma de inflação;
desemprego; falência do Estado; exploração salarial a que submete os
ainda empregados, levando-os a admitirem o ruim por medo do péssimo,
etc.

E sua causa não é apenas a corrupção com o dinheiro público (que
existe e aumenta cada vez mais sob a égide do centrão, afora outras
maracutaias que vieram à tona com as investigações da CPI da Pandemia
e da justiça).

A origem principal dessa barbárie social, para ambos os lados dos
projetos pendulares acima referidos, é a base sobre a qual se dá a
mediação social que agora entrou em contradição irresolúvel entre
forma e conteúdo, prenunciando o caos.


NÃO CONSEGUIMOS ENCONTRAR O FIO DE ARIADNE 
QUE NOS INDIQUE A SAÍDA DESTE LABIRINTO DE CRISES DEVASTADORAS 
Parte 2

A causa-mor de atual situação é a falência do capitalismo.

Trata de um modo de mediação social que se desenvolve desde o
surgimento rudimentar sob a forma valor na Grécia antiga (há cerca de
3 mil anos, o dinheiro era usado entre as ilhas gregas na troca de
mercadorias) e que sempre foi segregacionista.

Agora, no momento em que atinge o seu limite interno de expansão,
torna-se inviável, o que se evidencia nos seguintes pontos básicos:
— desemprego estrutural;
— déficit na necessária reprodução aumentada do valor, o que causa a
redução da massa global do dito cujo (ou seja, do dinheiro);
— falência estatal;
— falência empresarial;
— emissão desmesurada, por parte dos países do G7, de moeda sem
lastro, que é exportada para a periferia do capitalismo (a qual não
pode emitir suas próprias moedas);
— inflação, e
— agressão ecológica derivada de um modo de produção predatório da
natureza, que mata e retroalimenta a crise econômica pelo aquecimento
global.

Diante disso tudo, o que se apresenta como propostas de saídas do
impasse é uma polaridade entre, de um lado, a ditadura militar
golpista que tenta manter, pelas armas, a população submissa aos
retrocessos civilizatórios; e, do outro, a democracia burguesa e suas
instituições que nada podem resolver e caem em descrédito, servindo
como trunfos retóricos para os pretensos salvadores da pátria.

Há, contudo, proposições fora desta polaridade de falsas soluções.

Por que somos obrigados a nos privar da nossa imensa riqueza material,
 que nos coloca como celeiro do mundo, enquanto o brasileiro passa
fome, e é obrigado a voltar a cozinhar com carvão na periferia das
cidades porque o gás de cozinha já está caro demais para ser comprado
com seu parco salário, agora corroído pela inflação?

Por que somos sempre obrigados a aceitar a democracia burguesa, que é
social e economicamente antidemocrática, por medo da ditadura militar
capitalista que é ainda pior, ao invés de discutirmos uma forma de
produção social e organização jurídico-constitucional que nos assegure
o acesso às nossas próprias riquezas materiais?

Se convergíssemos para uma constituinte que levasse em conta tais
pressupostos, certamente estaríamos mais próximos do que se reivindica
como realização do ideal democrático.

Estamos numa encruzilhada e não conseguimos encontrar o fio de Ariadne
que nos indique a saída deste labirinto, um verdadeiro emaranhado de
crises devastadoras (crises econômica, social, política e ecológica).

Tal qual Alexandre, o grande, que ao passar pela Frígia acabou (por
meio de um golpe de sua espada) com o mito da impossibilidade do
desate do nó górdio que mantinha ali o poder estatuído, teremos de
desatar o nó górdio do nosso impasse atual mediante a adoção de
medidas que fogem do cardápio tradicional.
Tais medidas de salvação popular poderão ser viabilizadas a partir:
— do uso dos nossos próprios recursos materiais para trazer a
tranquilidade de abastecimento para o nosso povo;
— da adoção de cânones jurídicos que questionem a injustiça da
concentração da riqueza e da propriedade nas mãos da elite; e
— do estabelecimento de uma hipoteca social que incida sobre a
propriedade da riqueza fundiária, industrial, comercial, bancária,
imobiliária, enfim, que promova a distribuição equânime da riqueza
abstrata, abolindo sua concentração e adotando critério de produção
social e de organização jurídico-constitucional que lhe seja
consentânea.

Sei que para muitos a minha proposição parecerá utópica ou fora da
realidade e da realização do possível. Mas devemos pensar o
impensável, devemos fazer o impossível!

A surrealidade do que está posto é bárbara, genocida e ecocida Então,
tal qual um ser humano que se vê ameaçado de morte e lhe é facultada a
legítima defesa da vida, a nós deve ser concedido o benefício de
propormos uma saída viável, ainda que a superestrutura de poder
político e econômica diga que é absurda.

Getúlio (militares), Jânio (militares), Collor, Bolsonaro
(militares)... e depois Lula. Até quando?
....

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Nasce preocupado com os caminhos do proletariado em geral, porém, especialmente, com o brasileiro