Subterrâneos da liberdade, uma obra clássica universal
Homenagem aos 175 anos do Manifesto Comunista
Neste carnaval, de 2023, o primeiro depois de uma cruel pandemia, com um governo fascista e genocida, dediquei-me a concluir a concluir a leitura de Subterrâneos da liberdade, de Jorge Amado.
O autor baiano foi um gigante das letras, chegou a ser deputado constituinte pelo Partido Comunista do Brasil – PCB, em 1946. Deixou uma bibliografia que sua leitura possibilita conhecer a autêntica idiossincrasia nacional, com seus recortes regionais, na maioria dos títulos. A luta pela terra para morar, em Salvador, ou para trabalhar e viver no enfrentamento ao latifúndio junta-se ao amor de Gabriela, D. Flor, Capitães de Areia e tantos outros, entre as dezenas de romances que escreveu.
Ler Subterrâneos da Liberdade no momento atual foi como se vivesse esse tempo. Um tempo sem fim, com suas contradições e repetições, como tragédia ou comédia, como Marx destacou sobre as fases da história. As semelhanças com os dias atuais são evidentes. Seja pela postura criminosa e desumana de setores da sociedade, pelo oportunismo e traição de certos grupos que se autointitulam de esquerda ou o compromisso que ainda se vê em certos grupos e ativistas revolucionários, lobos solitários ou não, mas que seguem confiantes que é possível construir uma sociedade socialista, especialmente ao mirarem-se em exemplos de outros povos.
O autogolpe de Getúlio Vargas, em 1937, com a implantação do Estado Novo não pegou ninguém de surpresa. O romance mostra uma atualidade assombrosa. Jânio Quadros tentou repetir o mesmo, não conseguiu. Bolsonaro repetiu o gesto e ainda segue organizando suas milícias fascistas com esta finalidade.
O livro tem como personagem central o Cavaleiro da Esperança, Luís Carlos Prestes, que esteve preso entre 1935 e 1945, e somente aparece nas últimas páginas do último volume, quando realizam seu julgamento público. A burguesia nacional, sócia dos EUA, que dava as ordens na polícia política do Estado Novo, definiu que Prestes seria o único a ter o julgamento público e aberto aos populares. Era preciso desmoraliza-lo, mostrar ao povo que ele era um criminoso comum, com as acusações forjadas que o acusavam, assim, acreditaram que ele teria sua moral destruída para sempre. O que nunca conseguiram, nem conseguirão, apesar de que as mentiras contra os comunistas seguem sendo propagadas atualmente como fizeram em toda a história nacional e mundial.
Subterrâneos da liberdade traz fatos históricos universais, como a Guerra Civil espanhola, a ocupação da Tchecoslováquia por Hitler, depois de ser entregue pela França e a Inglaterra. O acordo de não agressão entre a URSS e a Alemanha e o debate que isso provocou dentro do partido. A posição dos EUA e demais países ocidentais em apoio ao nazismo, que eles afirmavam ser necessários para livrar a humanidade dos comunistas, Os crimes dos nazifascistas assassinando famílias inteiras na Espanha. Um período muito parecido com os tempos atuais, como a propagação em apoio aos nazistas ucranianos.
A resistência revolucionária dos militantes do PCB, abnegados e dedicados a libertação e emancipação humana, enfrentando a fome, a perseguição, a violência, covarde e desumana dos cachorros do Estado Novo, capazes de açoitar bebes na frente do pai, enquanto a mãe era estuprada seguidamente pelos policiais; o enforcamento de Claudionor pelo fazendeiro, para que os lavradores não mais lutassem pelas terras; o assassinato de Inácia, esmagada pelas patas dos cavalos junto com o bebe que carregava na barriga; o arquiteto famoso tentando salva-la e o companheiro da bela negra, Dorothéu, tocava para Inácia, com sua gaita, a Internacional, enquanto ela sorria e dava seus últimos suspiros, antes de falecer. Ao mesmo tempo, em um luxuoso hotel, de frente a praia em Santos, a festa a fantasia para o Ministro do Trabalho, organizada pela elite paulista seguia comemorando a violência da polícia, que deixara quase uma dezena de mortos entre os grevistas.
A ousadia, a coragem, a dignidade dos comunistas brasileiros, diante de toda violência e crueldade impostas pela burguesia e os latifundiários, que sustentavam o Estado Novo, não os desencorajavam, nem desanimavam, nem os impedia de seguir organizando, estudando e propagando uma nova sociedade, comunista, baseada no exemplo do que era a URSS, liderada por Josef Stalin. A ousadia e disposição revolucionária deixava os lacaios do imperialismo mais violentos.
A pequena burguesia e a intelectualidade, com seus luxos sustentados por banqueiros, sócios dos EUA ou de aventureiros aliados a Hitler, oriundos do meio do povo, evidenciavam a falta de caráter, humanidade e a estupidez reinante entre os carreiristas e oportunistas, preocupados em ganhar dinheiro, status e manter seus privilégios. As festas, os bacanais e a orgia reinante entre eles, os casamentos de interesse, a compra e venda de atos e decisões do Estado a partir das ordens dos donos de riquezas.
O romance não deixa de mostrar que a base de toda ação revolucionária dos comunistas é o amor. Amor pelo povo, amor entre os seus familiares, a família comunista, homens e mulheres, que priorizam o trabalho permanente, arriscado, mortal e penoso para organizar e conscientizar os trabalhadores para efetivar a conquista da plena dignidade humana, a emancipação verdadeira, baseada no amor, na justiça e no respeito pelo entre a espécie humana.
Zé Gonçalo, o gigante, negro condenado a muitos anos de prisão por defender o povo indígena na Bahia, seguiu para a floresta no Mato Grosso, onde organizou os caboclos e enfrentou a violência do latifúndio. No romance recomeça sua militância em São Paulo, seguindo sua jornada gloriosa e revolucionária, ao atuar na reorganização de um núcleo de base em uma célula de bairro.
Ruivo, perdeu um pulmão para a tuberculose, sempre febril, mas nunca desistiu, nem quando sofreu as mais cruéis torturas da polícia do DOPS. Tranquilo, um dirigente que encantava todos. Mesmo doente foi transferido com outros revolucionários para a prisão em Fernando de Noronha.
Mariana, viu seu pai, operário militante, morrer em seus braços. Com ele e sua mãe aprendeu cedo a importância da disciplina, da dedicação e a importância dos estudos. A única a conseguir se manter na clandestinidade, sem ser presa, até a última páginas, quando, durante o julgamento de Prestes, quem nunca havia visto pessoalmente, depois de um forte discurso do Cavaleiro da Esperança saudando o 20º aniversário da Revolução Russa, que deixou a polícia e o juiz completamente atordoados, restando-lhes sempre a violência que despejaram contra Prestes, ela grita um Viva Luís Carlos Prestes.
A bravura dos comunistas, que, mesmo enfrentando as mais duras adversidades, nunca deixaram de combater pela dignidade humana. O romance também a superficialidade e mesquinhez da pequena burguesia, preocupada com os salões de festas, champanhe, luxos e em garantir que a violência contra o povo não coloque em risco seus privilégios.
Subterrâneos da liberdade é uma leitura obrigatória para entender como a negação da luta revolucionária se apoderou de grupos ditos de esquerda, pequenos burgueses, que agem de acordo com o programado pelos verdadeiros donos do poder, o imperialismo e seus agentes internos.
Se Jorge Amado renegou o livro, o problema é dele, pois esta obra é magnifica, gloriosa, um clássico da literatura universal, sintetiza a resistência e utopia de todos os povos na busca da plena liberdade, da verdadeira dignidade e emancipação humana.
Viva Luís Carlos Prestes!
PS. Subterrâneos da liberdade é um romance, ficção que reproduz a realidade de um período de 5 anos do Estado Novo, mas que tem tudo a ver com os dias atuais. Leitura necessária.
O AUTOR
PEDRO CESAR BATISTA
jornalista, escritor e poeta. Secretário Executivo do Comitê Antiimperialista General Abreu e Lima. E-mail: pcbatis@gmail.com
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Nasce preocupado com os caminhos do proletariado em geral, porém, especialmente, com o brasileiro