domingo, 18 de dezembro de 2022

ASSIM CAMINHA O IMPERIALISMO * Javier Tolcachier OBSERVATÓRIO DOS TRABALHADORES

ASSIM CAMINHA O IMPERIALISMO:
A subversão antidemocrática da direita na América Latina se intensifica. 
Javier Tolcachier
OBSERVATÓRIO DOS TRABALHADORES

Hoje o sistema mostra claramente seu fracasso, deixando a maior parte da humanidade ao relento. Frases ocas e discurso hipócrita convencional tendem a ser substituídos hoje pelos uivos regressivos da extrema direita que se destaca como uma nova manobra gattopardista do capital. O que se expõe é a deterioração irreversível da democracia formal, indicando o aprofundamento em direção a uma verdadeira democracia multidimensional como luz necessária no horizonte político. É preciso que o povo recupere, como em outras ocasiões da história, a soberania que lhe foi tirada.

Enquanto milhões de olhos -incluindo os nossos- devoram os coloridos incidentes do circo montado pela monarquia dinástica do Catar em conluio com a FIFA, outros eventos, talvez muito mais relevantes para a vida dos povos, continuam acontecendo nestes amantes do futebol terras. .

Assim, enquanto classificações e amarguras se sucedem nas telas, no território repleto de retângulos vagos com arcos improvisados, a fome, a miséria e o sofrimento seguem derrotando as maiorias, que teimam apesar de tudo em sobreviver em um campo declive, até que soe o apito final . Pior ainda, em vestiários escondidos reservados apenas para minorias opulentas e insensíveis, golpes estão sendo tramados contra a necessidade dos excluídos de equilibrar um pouco suas opções de vida.
Os golpes do contra

Como já aconteceu em inúmeras ocasiões anteriores, toda vez que um governo atua para reduzir injustiças flagrantes ou aumentar a capacidade soberana de seu povo, o poder dominante – estrangeiro e local – ajusta suas miras para dar a volta por cima, criminalizando, mandando o exílio ou fisicamente eliminando seus líderes e gerentes intermediários.

As mesmas minorias de outrora, aliadas aos mesmos colonialismos extraterritoriais, utilizam agora em alguns países métodos um pouco mais sutis para atingir seus fins desumanos. Cooptar os poderes judiciário ou legislativo do Estado com a colaboração onipresente da mídia hegemônica a seu serviço, sempre pronta para insultar quem paga menos ou ameaça seu monopólio, é hoje o roteiro preferido para expulsar o vírus transformador. Em um papel aparentemente mais secundário, a força bruta de generais supostamente ligados à "ordem constitucional" também é necessária para endossar a medida.

Em outros lugares, onde o ímpeto revolucionário alcança transformações mais rápidas e enraizadas para modificar as condições sociais, a tática é o isolamento, o bloqueio, a condenação moral e a aplicação de medidas coercitivas unilaterais – denominadas “sanções” no jargão punitivo imperialista. evitar que essas revoluções sirvam de modelos a serem replicados e, ao mesmo tempo, sufocar suas populações tentando uma revolta interna contra seus governos.


Assim, quando se manifestou o clamor popular em várias partes da América por condições dignas de vida, reações virulentas das elites surgiram coincidentemente, em contra-ataque.

O capítulo mais recente desta saga de um roteiro repetido foi produzido no Peru. Na ex-capital do vice-reino e do Grupo Lima (criado por Washington para tentar encurralar a revolução bolivariana e minar a integração regional), a vitória eleitoral de um professor e sindicalista do campo é violada, com a artimanha de que queria a dissolução irregular do Parlamento.

A ironia histórica é fulminante: enquanto o discurso do golpe real, para justificar a derrubada de Castillo, espalha a sombra do autogolpe de Alberto Fujimori em 1992, foi justamente o bloco aliado a Keiko, sua filha e sucessora, que desde o minuto zero, negou a derrota eleitoral e colocou todos os obstáculos possíveis ao governo legítimo, tentando destituí-lo três vezes no espaço de um ano e meio.


É impressionante a semelhança com o que aconteceu em Honduras (2009), Paraguai (2012) e Brasil (2016) com a derrubada de Manuel Zelaya, Fernando Lugo e Dilma Rousseff com argumentos pueris e os mesmos atores desdenhosos.

O mesmo ocorre com a perseguição judicial, consumada a sentença sem provas contra a vice-presidente argentina e principal referente do espaço popular Cristina Fernández de Kirchner. Bem presentes na memória estão os casos idênticos do agora eleito presidente Lula da Silva, vilipendiado e preso por ação da imprensa e de um juiz e promotor de aluguel, e do ex-presidente equatoriano Rafael Correa, que, se não tivesse deixado o país em Como outras figuras proeminentes de seu governo, ele teria sofrido o destino de seu ex-vice-presidente Jorge Glas, preso por cinco anos para abrir caminho para a reentrância do neoliberalismo no Equador.

No Brasil, conhecido o resultado que devolve Lula à presidência, o bolsonarismo tentou mais uma vez emular o negacionismo de Trump, com a variante barroca de ir rezar no quartel para pedir intervenção militar.


Tampouco descansa a subversão antidemocrática da direita na Bolívia. Tal como no processo constituinte que culminou na refundação do país em Estado Plurinacional ou no desconhecimento dos resultados eleitorais que levaram ao golpe de 2019, as lojas dominantes de Santa Cruz protagonizaram uma nova tentativa de chocar o país, desta vez com a desculpa das datas do censo nacional.

Enquanto isso, no Chile, após o evasivo resultado do plebiscito de saída que teve que ratificar o novo texto constitucional para deixar para trás a herança pinochetista, a audaciosa direita pretende, como era previsível, reduzir a redação de uma nova constituição a cosméticos modificações ao apresentar seus parlamentares como protagonistas de uma nova convenção mista.

Esse panorama mostra sinais de alarme que certamente não passam despercebidos pelos governos progressistas de Gustavo Petro, Xiomara Castro e López Obrador, governos que corajosamente refazem o caminho acidentado da pacificação e da tentativa de melhorar as condições sociais de suas populações violentas.
Cartão vermelho para o sistema

Não é preciso rever muitas vezes as mesmas peças para entender a estratégia antipopular dos setores conservadores. A verdade histórica é esmagadora a esse respeito. A direita política, representante do poder estabelecido e dos interesses geopolíticos dos Estados Unidos na América Latina e no Caribe, não respeita e não respeitará nenhuma norma, se abrir caminho para modificações do esquema capitalista de asfixia e predação .

O mesmo vale para o chamado império, hoje desafiado pelo emergente multilateralismo. Como já foi expresso em várias ocasiões, é ingénuo pensar na viabilidade de um sistema político democrático e soberano, um governo do demos, no quadro de um sistema económico plutocrático cada vez mais concentrado e transnacional.

Da mesma forma, é absurdo acreditar que o debate social possa ser amplo e os habitantes tenham todas as informações necessárias para escolher livremente, já que a mídia é propriedade de poucos conglomerados e o espaço digital é intervencionado por corporações a serviço de o status quo. .

Analisado com maior profundidade, não é só a incidência de comerciantes sem escrúpulos que sustenta o sistema, mas também a inércia de valores e esquemas ossificados na interioridade humana, que impede a irrupção de um mundo novo, de todos e para todos.

Hoje o sistema mostra claramente seu fracasso, deixando a maior parte da humanidade ao relento. Frases ocas e discurso hipócrita convencional tendem a ser substituídos hoje pelos uivos regressivos da extrema direita que se destaca como uma nova manobra gattopardista do capital. O que se expõe é a deterioração irreversível da democracia formal, indicando o aprofundamento em direção a uma verdadeira democracia multidimensional como luz necessária no horizonte político. É preciso que o povo recupere, como em outras ocasiões da história, a soberania que lhe foi tirada.

Assim como aconselham os sábios deste esporte que o imperialismo inglês implantou na América Latina para que os operários de seus frigoríficos, ferrovias, minas e fazendas tenham algum recreio, os povos devem mais uma vez se apoderar da bola.

*Javier Tolcachier Pesquisador do Centro Mundial de Estudos Humanistas e comunicador de agência internacional com foco em paz e não-violência Pressenza. Colaboradora do Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE)


*

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Nasce preocupado com os caminhos do proletariado em geral, porém, especialmente, com o brasileiro