terça-feira, 30 de novembro de 2021

A DESTRUIÇÃO DA HISTÓRIA * Jeanderson Mafra / MA

A DESTRUIÇÃO DA HISTÓRIA

JEANDERSON MAFRA / MA

Por que Trump emula o ISIS ao ameaçar destruir sítios históricos do Irã?

“Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado.” (George Orwell, no livro 1984)

Vocês ouviram a estranha ameaça de Trump em destruir sítios culturais do Irã? Pois é, ele disse que destruirá 52 monumentos históricos do Irã, numa ameaça de ataque em larga escala ao país persa. Sabe o que isso lembra? Lembra o suspeito ‘modus operandi’ do tão afamado “Estado Islâmico” (que nunca foi um “Estado” e muito menos “islâmico”), uma organização terrorista criada pela própria CIA e Mossad para desestabilizar o Oriente Médio e justificar intervenções militares na região a pretexto de combate ao terrorismo. Pois, para isso são criadas tais organizações: para legitimar as ações terroristas de EUA e Israel no Oriente Médio e manter sua hegemonia.

Uma das cenas mais surpreendentes que assisti desse grupo ianque-sionista-terrorista foi a destruição de sítios históricos e arqueológicos no Iraque. Monumentos colossais de reinos e impérios milenares que comprovavam os povos e a cultura antiga destes nos países devastados por essa organização.

De forma chocante e lastimável, a história do Iraque foi neutralizada e “pulverizada” (pra usar uma expressão do livro 1984 de Orwell) por explosões precisas de dinamite e demolidas uma a uma por retroescavadeiras de empresas européias e demais ferramentas “ocidentais” nas mãos destes “apagadores da História”. O Ministro do Exterior iraniano, Mohammad Javad Jarif, foi enfático às declarações de afronta no domingo, dizendo: “Um lembrete a quem tem alucinações sobre emular crimes de guerra do Estado Islâmico, atacando nosso patrimônio cultural: ao longo de milênios da história, bárbaros vieram e devastaram nossas cidades, arrasaram nossos monumentos e incendiaram nossas bibliotecas. Onde eles estão agora? Nós ainda estamos aqui, firmes e fortes.”

Sem mais delongas, há um sentido para todas essas ações e vou direto ao ponto. Destruir o passado árabe e persa, bem como o de outros povos desta sofrida região, tem como objetivo criar uma situação de “narrativa única”. Um ambiente na “História”, onde somente as “lendas sionistas” tenham fundo, cenário e materialidade de “verdade”.

Na Palestina histórica, para seguirmos o fio da meada, toda a Arqueologia é controlada pela “interpretação sionista” e deles é que vem a negação do direito do povo palestino a seu território milenar. Baseados no “mito-história-bíblico” todas as “descobertas” de sítios históricos e arqueológicos na Palestina servem apenas para justificar um pano de fundo, construído para legitimar a ocupação e negar aos palestinos a sua terra.

Como bem denunciaram os próprios historiadores israelenses dissidentes Shlomo Sand (A Invenção Terra de Israel ) e Illan Pappe (A Limpeza Étnica da Palestina), a negação da pátria palestina e dos direitos humanos de seu povo passam também pela “limpeza” de seu passado. É mister, para a colonização sionista, que tudo leve a crer, na base da mais perversa e descarada mentira, a inexistência de um passado palestino. E é a isto que serve destruir sítios históricos, culturais e arqueológicos: para tomar e espoliar terras dos povos autóctones desta região, destruindo-lhes o sonho de soberania e dignidade, com a eliminação do seu PASSADO!

domingo, 21 de novembro de 2021

Como em Brasil em Assunção também se massacram indígenas * Observatório Proletários / BR

COMO EM BRASIL EM ASSUNÇÃO TAMBÉM SE MASSACRAM INDÍGENAS

Asunción 18 de noviembre 2021 (BASE-IS) Con un gigantesco despliegue de fuerzas represivas se concretó en la mañana de este jueves el desalojo de 70 familias de la comunidad indígena Hugua Po’i, del Pueblo Mbya Guaraní, ubicada en Raúl Arsenio Oviedo, Caaguazú. El Estado nuevamente violó las normas nacionales e internacionales que protegen a los Pueblos Indígenas para favorecer a sojeros.

Según denunciaron los indígenas de Hugua Po’i el propio Instituto Paraguayo del Indígena habría dado su visto bueno al desalojo de la comunidad que ocupaba unas 1000 hectáreas que forman parte de su territorio ancestral. El aparatoso desalojo se realizó con la presencia de decenas de policías fuertemente armados, sin embargo no se dió la presencia de ninguna institución que pueda proteger a niños, niñas y ancianos que fueron desplazados a la vera de la Ruta apenas con las pocas cosas que pudieron rescatar.

Tras el desahucio los cultivos de las familias indígenas fueron destruidos así como sus viviendas y templos. La comunidad mantenía una reserva de bosques que se encuentra en riesgo ya que está rodeada por cultivos extensivos de soja.

Las tierras reclamadas por los indígenas serán entregadas a sojeros de origen alemán que fueron beneficiados por una orden judicial, que no tuvo en cuenta la normativa constitucional que prohíbe los Desalojos a pueblos indígenas. El procedimiento tampoco tuvo en cuenta lo establecido en pactos internacionales que señalan que debe garantizarse el acceso a un lugar de reubicación y a derechos fundamentales como alimentos.

Lo que ocurrió es una violación expresa de la Constitución de la República del Paraguay, además de a leyes reglamentarias y a varias disposiciones internacionales de derechos humanos. En el 2010 la Corte Interamericana de Derechos Humanos en ocasión de condenar al Paraguay por la violación de derechos territoriales indígenas, señaló claramente, que el hecho de que las tierras estén en manos de particulares no es argumento suficiente para denegar el derecho de restitución territorial, por lo que el Estado, antes de desalojar, debe valorar los derechos de todas las partes interesadas y resolver en consulta y consenso la resolución al conflicto suscitado» señaló la Coordinadora de Derechos Humanos del Paraguay (CODEHUPY), en una declaración realizada en el marco del Seminario Internacional de Defensores y Defensoras de Derechos Humanos que se realiza hoy y reúne a cientos de Defensores de Derechos Humanos.
Estas 70 familias indígenas han pasado a confirmar lo que ha sido un año plagado de violaciones hacia comunidades indígenas en Paraguay en lo que respecta al derecho particular que les asiste de no ser removidos de su hábitat sin su consentimiento» denunció la coordinadora.

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

O PROBLEMA CENTRAL DA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NO BRASIL E NO MUNDO * Carlos Paulo Viturino / BA

 O PROBLEMA CENTRAL DA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NO BRASIL E NO MUNDO

Carlos Paulo Viturino / BA


Cada vez mais estamos em um mundo com mais tecnologia e meios de comunicação cada vez mais avanços, os meios de propaganda e de comunicação com as pessoas estão cada vez mais avançados e conectando ainda mais as pessoas, e junto a isso, vemos um crescente aumento da ideologia neoliberal e de ideologias que andam junto do neoliberalismo, como o famoso positivismo (neopositivismo) e o ateísmo militante.

Cada vez mais pessoas vem com essa ideia de que a ciência é algo "neutro", "apolítico" e "aideológico", os tecnocratas cada vez mais reinventando a sua tecnocracia de forma a ser aceita na sociedade neoliberal-capitalista, vemos também uma grande supressão de grupos de esquerda por parte dos tecnocratas, que hoje se passam por "divulgadores científicos" e por gente que se diz combater as famosas "pseudociências" e "negacionismo científico".

Quero deixar claro que o objetivo aqui não é defender nem astrologia, nem homeopatia, nem misticismo quântico nem nada do tipo, mas sim fazer a crítica revolucionária e necessária ao que chamamos de "renascimento tecnocrático" ou "ascensão tecnocrática do século XXI" que é esse aumento massivo de ideias tecnocráticas, neopositivistas e ateístas militantes disfarçadas de uma simples e inocente "divulgação científica".

A ciência, assim como toda a tecnocracia, o ateísmo militante e o neopositivismo-cientificismo, são feitos do homem para o homem, logo, eles não podem ser neutros e tão pouco "apolíticos" nem "aideológicos", querer negar toda a influência política e econômica pelo uso do neopositivismo e do conhecimento científico para legitimar a exploração dos trabalhadores e para legitimar a radicalização de ateus por meio do ateísmo militante e de pessaos religiosas/espirituais por meio da resposta ao ateísmo militante é algo que mostra o quão político e ideológico é essa questão.

Assim como as pseudociências "clássicas" como astrologia, homeopatia, Terra plana e antivacina promovem charlatanismo por motivos econômicos, o neopositivismo (incluíndo o cientificismo e o ateísmo militante ou neoateísmo para alguns) promote o que poderíamos chamar de charlatanismo por motivos aristocráticos, logo econômicos, que na prática, é um charlatanismo que envolve mais questões de ideologia e de política que um charlatanismo que envolva questões de saúde, mas como o segundo não envolve questões de saúde, o mesmo é ignorado pela grande maioria.

Cada dia mais, vários tecnocratas e neopositivistas tratam as ciências sociais, filosofia e humanas, as chamadas ciências suaves, como se fossem meramente questões de opinião e as que vão contra a tecnocracia e o neopositivismo são automaticamente taxadas de "pseudofilosofia", "pseudociência" entre outros, o uso dos termos "pseudociência", "pseudofilosofia", "negacionismo científico", "anticiência" entre outros é ao mesmo nível que os identários usam termos como "racismo" e "machismo" para qualquer crítica ou oposição aos mesmos.

O problema central da divulgação científica no Brasil e no mundo, mas talvez, com um certo agravante no Brasil, é a questão do neopositivismo, da tecnocracia, do cientificismo e do ateísmo militante, além de várias outras questões, mas poderíamos resumir tudo isso ao neopositivismo e ao ateísmo militante, que cada vez mais leva as pessoas a terem medo de serem críticas ou oposição aos mesmos e serem canceladas com termos como "promovedor de pseudociência", "promovedor de pseudofilosofia", "negacionista científico", "anticiência" entre outros, além de claro, promoções da ideologia neoliberal disfaçadas de visões "científicas", tais como autores liberais como George Orwell e Hannah Arendt e teorias como a famosa "teoria da ferradura".

Claro que o objetivo este artigo não é negar a ciência nem todo o conhecimento científico, muito pelo contrário, é para possibilitar que discutarmos e criticarmos a ciência de forma como criticamos a sociedade e o mundo em que vivemos, criticar o ateísmo militante, o cientificismo e o neopositivismo nos dias atuais é algo necessário, críticas a ciência e ao método científico são sim necessários e são um dever para os revolucionários, sem críticas a ciência, temos exatamente o que os tecnocratas e neopositivistas querem. Nos chamarem de "negacionistas científicos" e de "anticiência" por nossas críticas mostra o que eles querem que a gente não fale para as pessoas, principamente para as camadas mais populares.

A divulgação científica, ou divulgação tecnocrata ou divulgação neopositivista para alguns, sempre foi, é e será ideológica, política e parcial, sempre beneficiando algum lado, principamente o lado que faz a divulgação, devemos ficar atentos quanto ao avanço da tecnocracia e de resolver os problemas do capitalismo com "soluções técnicas", hoje, e principamente hoje com Internet e meios de comunicação avançados, criticar o neopositivismo e a tecnocracia é um dever de todos os revolucionários, pois hoje a divulgação tecnocrata está focada nas pseudociências "clássicas" e em religião/espiritualidade, e amanhã estará focada nos revolucionários e nos considerados "radicias" e "extremistas" pelos tecnocratas.

Para resolver o problema central da divulgação científica a questão está na crítica direta e contínua ao neopositivismo, ao cientificismo e ao ateísmo militante, assim como a consciência direta e contínua sobre as questões revolucionárias relacionadas a questão tecnocrática e a noção de que a ciência não é algo neutro, nem apolítico nem aideológico, mas sim feitos dos homens para os homens e estando sob a influência das ideologias dos homens como assegura o próprio Paul Feyerabend em "Contra o Método"; então, é sermos revolucionários sempre e sempre ver e criticar o mundo ao nosso redor e o mundo em que vivemos.
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domingo, 7 de novembro de 2021

AFEGANISTÃO PARA ALÉM DA MÍDIA * Frente Ativistas de Esquerda / Brasil

 AFEGANISTÃO PARA ALÉM DA MÍDIA


O ex-presidente dos EUA, Ronald Reagan reunido com algumas lideranças do grupo religioso islâmico Mujahideen em 1979 (grupo precursor de onde futuramente saiu a formação do Talibã), no auge da Guerra do Afeganistão contra a República Socialista Soviética no país. Guerra que durou de 1979 até 1989 quando os soviéticos se retiraram do Afeganistão.

ISTO A MÍDIA NÃO MOSTRA
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sexta-feira, 5 de novembro de 2021

DAS REVOLUÇÕES NACIONAIS AS REVOLUÇÕES REGIONAIS E MUNDIAIS * Guilherme Monteiro Jr/ES

 DAS REVOLUÇÕES NACIONAIS AS REVOLUÇÕES REGIONAIS E MUNDIAIS


A ideia de revoluções nacionais no século XXI ainda é bem forte e perpetuada, muitos setores da esquerda, seja do Brasil quanto de outros países, ainda apoiam a ideia de uma revolução nacional e de "socialismo em um só país", mas, hoje em dia, mas principalmente, depois do fim da segunda guerra mundial, ficou bem claro que a ideia de uma "revolução nacional" é praticamente impossível de ser articulada sem ocorrer uma intervenção imperialista ou uma contrarrevolução.

Ainda, em vários setores da esquerda revolucionária, ainda existe esse sonho de reproduzir a mesma revolução que aconteceu com a Rússia em 1917 e de tornar os seus países em questão em um país heróico estilo a RSFSR/USSR, mas o que eles não conseguem ver, é a questão relacionada a articulação, vários destes revolucionários esquecem que durante o período de 1917-1919 houve várias revoluções por toda Europa, como na Finlândia, Hungria e Alemanha, e todas elas foram violentamente suprimidas pelos reacionários, e não tiveram o apoio direto dos bolcheviques. Isso mostra o que a falta de articulação regional e internacional faz com as revoluções, isso desde 1917-1919, claro que alguém poderia falar sobre o que aconteceu com o Vietnã e com a China, mas não esquecer o apoio soviético que eles receberam e as articulações regionais e internacionais das mesmas.

Hoje em dia, não é possível mais uma "revolução nacional" sem haver articulação regional ou internacional, claro que alguém poderia mencionar o que aconteceu com o Afeganistão com o Talibã, mas é preciso lembrar a articulação dos EUA em ajudar os Mujahideen, e até mesmo os antecedentes do Talibã, desde a decada de 1970. Uma revolução, hoje em dia, só será possível se ela for a nível regional (como exemplo a nível continental) ou a nível mundial e com uma forte articulação geopolítica, uma revolução nacional estilo a revolução bolchevique iria apenas terminar como as outras revoluções de 1917-1919. Então, é por isso que se quisermos uma revolução hoje em dia, devemos nos articular a nível regional e mundial, e não apenas a nível nacional.

A ideia de uma "revolução brasileira" já não é tão possível assim sem articulação regional (sul-americana ao latino-americana) ou mundial, pensar no Brasil como um lugar isolado do resto do mundo para fazer a revolução é querer repetir o mesmo que aconteceu com as outras revoluções de 1917-1919 ou mesmo uma intervenção estrangeira massiva no Brasil. Por isso, devemos nos articular a nível regional ou internacional se quisermos uma revolução socialista/comunista nos dias atuais e no século XXI.

Guilherme Monteiro Jr./ES

05/11/2021

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

ATEÍSMO MILITANTE * Guilherme Monteiro Jr./ES

 ATEÍSMO MILITANTE

Guilherme Monteiro Jr./ES

A esquerda atual, tanto brasileira quanto mundial, principalmente dos ex-países da URSS, ex-países do Pacto de Varsóvia, da China e dos países que falam inglês, principalmente os EUA e o Reino Unido, precisam falar de um tema que está se tornando bastante recorrente nos dias atuais e que a alguns anos era falado bastante, que é a questão da religião/espiritualidade e ateísmo militante.

A esquerda atual, está, cada vez mais, presa no que chamamos de ateísmo militante (neoateísmo ou fundamentalismo ateu para alguns, e também antiteísmo), onde pensam/falam que religião/espiritualidade é ignorância, delírio, esquizofrenia, estupidez, loucura, ridículo, falso entre vários outros termos que falam por ai, eu poderia falar sobre o ateísmo militante no geral, mas vou me restringir a esquerda. O ateísmo militante, se difere do ateísmo normal, pois o mesmo tente a ter um comportamento semelhante ao fundamentalismo religioso, onde impõem suas crenças (ou anticrenças) para tudo e todos e espalham as mesmas para todos os lugares possíveis. Cada vez mais, esse comportamento, tem afastado camaradas e esquerdistas religiosos/espirituais da esquerda e os radicalizando para a direita e para o fundamentalismo religioso como forma de combater esse ateísmo militante da esquerda e da Internet.

 

O problema do ateísmo militante é que o mesmo, em si, passa a ter um comportamento igual a política identitária, mas sendo aplicável a religião/espiritualidade e usando do ateísmo como base, ateísmo militante vai, cada vez mais, afastanto os camaradas religiosos/espirituais e os deixando mais propensos para o que poderíamos chamar de "antiateísmo militante", que é esse combate ao ateísmo militante e o antiateísmo agindo de forma militante. A esquerda precisa sim falar sobre religião e espiritualidade, e sobre o ateísmo militante também, que junto do mesmo, promove visões neopositivistas e cientificistas dentro da esquerda que são, até mais, reacionárias e direitistas que o próprio fundamentalismo religioso, vide como que os neopositivistas de Viena eram de direita e tentaram disprovar o comunismo/socialismo, assim como grande parte dos cientificistas (ou tecnocratas para alguns) sempre defendem pautas reacionárias e favoráveis as classes dominantes.

 

Eu poderia me aprofundar mais sobre o assunto, mas a proposta do artigo aqui é abrir a discussão / debate sobre religião, espiritualidade e ateísmo militante dentro da esquerda e a necessidade de se discutir como que o ateísmo militante afeta as pessoas mais carentes, querer que uma pessoa carente que é religiosa siga o ateísmo militante é como querer que um ateu não-militante se torne um fundamentalista religioso, tanto, que falam que o ateísmo militante (ou antiteísmo) e fundamentalismo religioso são faces opostas da mesma moeda, e isso é bem claro de se perceber com um pouco de leitura e de ensino religioso/espiritual. E claro, que também temos que discutir sobre o cientificismo e sobre o positivismo e sobre a tecnocracia como um todo, para conseguirmos lidar com o avanço do cientificismo e do positivismo sobre os mais pobres e sobre a "divulgação científica" que promove tanto ateísmo militante quanto neopositivismo na maioria dos casos, mas isso é tema para outros artigos e possíveis discussões dentro da esquerda.

 

Claro que os ateus podem continuar e ser ateus e dentro da esquerda, não há nada de impeça uma pessoa que é minoria de ser minoria, mas a questão é o cuidado com o ateísmo militante igual como as minorias tem cuidado com a política identitária, existem ateus que são contra o ateísmo militante assim como minorias que são contra a política identitária, o que deve ser feito é, não tentar convencer pessoas religiosas/espirituais dentro da esquerda assim como convencer maiorias a criarem lugares de fala para minorias. A esquerda deve manter os ideias seculares, humanistas e agnósticos sempre, e não deixar se levar por políticas identitárias ou ateísmo militante.

 

Eu poderia me estender mais, mas a proposta deste artigo é abrir e dar base para a discussão dentro da esquerda sobre religião, espiritualidade e ateísmo militante, que já vem acontecendo dentro da esquerda mas precisa de um foco maior por parte da esquerda, e quem sabe uma discussão mais profunda e melhorada sobre neopositivismo, cientificismo, tecnocracia e até mesmo, pós-positivismo e pós-modernismo.

 

Guilherme Monteiro Jr./ES

03/11/2021

terça-feira, 2 de novembro de 2021

Os novos rumos da geopolítica do Oriente, a partir da vitória do Taliban * Por Gilliam Nauman Iqbal

 Os novos rumos da geopolítica do Oriente, a partir da vitória do Taliban

Da esquerda pra direita, Abdull Ghani Baradar, Mullah Abdull Haken e Sarajjudin Haqqani

*Por Gilliam Nauman Iqbal

     O evento do 11 de Dezembro, talvez seja o ponto de partida mais emblemático para discorrermos sobre o Taliban. Isso porque, os Estado Unidos atribui a autoria do suposto atentado (suposto, tendo em vista que a implosão das torre gêmeas é algo no mínimo esquisitos), à Osama Bin Laden, que se encontrava no Afeganistão neste momento, após sua estadia no Sudão e apoio financeiro e estrutural a este país. O que nos foi contado, é que os Estados Unidos invadiu o Afeganistão para captura de Osama Bin Laden. O que não nos foi contado, é que a época do “ataque” ao World Trade Center, Osama Bin Laden havia se retirado do Sudão, para evitar que os Estados Unidos interferisse e apoiasse um golpe para colocar no poder um governo que seguiria suas orientações, viajando para o Afeganistão a convite de Mulah Omar. A partir da negativa do líder do Taliban, em entregar Bin Laden, os Estados Unidos tem aí o pretexto que queria para invadir o Afeganistão.

     Após esse recorte, o Taliban, antes um desconhecido do Ocidente, passa a ser um nome recorrente nas mídias mundiais. Mas esse movimento tem uma trajetória longa e conhecida do Oriente.

     Após sua formação, o Taliban seguiu conquistando muitas vitórias contra seus inimigos e assumiu o controle de uma grande área do Afeganistão. Sua formação está intrinsecamente ligada a cultura e ao código social do povo pashtun. “Por serem extremamente independentes, os pashtuns sempre tem defendido sua terra natal contra invasores estrangeiros” (MILITARY Review, Setembro – Outubro 2008). A União Soviética sempre tentou investidas no território afegão. No século XX, o Afeganistão experimenta a estabilidade no governo de Zahir Shar, mas em 1978, por influência da URSS, o governo é tomado pelo Partido Democrático do Povo Comunista do Afeganistão. Historicamente, o povo afegão sempre sofreu disputa de territórios e tentativas de invasões, o que os levou a constituir seus grupos de resistência, entre eles, os chamados Mujahidin, grupo que deu origem ao Taliban. A fim de combater a resistência ao governo aliado, a União Soviética despejou suas tropas no Afeganistão, em 1979. O saldo da ocupação militar soviética foram a morte de 1,3 milhão de afegãos, destruição da agricultura e da zona urbana e a fuga para campos de refugiados de 5,5 milhões de afegãos, no Irã e Paquistão. 

     Em fevereiro de 1989, os soviéticos retiraram suas tropas, mas deixaram grandes depósitos de armamento para o suporte do governo aliado. Porém, esse apoio material minguou em 2 anos até cessar em definitivo, deixando a gestão comunista às própria sorte. A falta de suporte e a guerra civil estourada em 1992, levou o governo comunista a renunciar no mês de abril.

     Os grupos resistentes ao governo comunista, os Mujahidin, foi uma resistência forjada nas madrassas wahabes de influência paquistenesa, uma vez que a presença wahabista era muito forte nessa região. Os estudantes dessas madrassas, em sua maioria pashtun, absorveram a forma de interpretação dessa linha, que se propõe a um radicalismo que desvia a real interpretação do Alcorão e do código de leis Islâmicas, a Sharia. Os estudantes (talib) dessas madrassas apresentaram propostas mais conservadoras e o discurso de que essas propostas estavam mais alinhadas ao islã, ganharam forte popularidade entre o povo afegão, que estava esgotado com a guerra civil.

     Além da formação ideológica, o Paquistão foi responsável pelo treinamento e financiamento dos Mujahidin, agora denominado Taliban, via Estados Unidos.

     Após conquistar Candahar, em 1994, o líder do movimento Mulah Muhammad Omar consolida sua liderança perante o povo . Posterior a esse evento, o Taliban teve sucessivas vitórias e em 1997, eles já controlavam 95% do território afegão.

     Inicialmente, o Taliban conquistou o apoio e a simpatia popular, inclusive a níveis internacionais, no entanto, a sua interpretação fechada e ultraconservadora da Sharia, fez com o grupo se perdesse em seu projeto, causando forte opressão na população, principalmente em mulheres. Muito embora esse fundamentalismo tenha sido o pior inimigo do Taliban, não se pode negar que o país alcançou alguma estabilidade, reconstrução da economia e a pacificação civil por alguns anos. 

     A relação dos Estados Unidos com o Paquistão, é algo que merece uma análise a parte e que nos ajuda a entender as afirmativas entre estudiosos e leigos (que reproduzem a informação sem uma análise profunda) de que o Taliban foi uma criação norte americana. Adoto o pensamento de que a fome do imperialismos soviético causou a reação de indignação na parcela da população que não se vendeu à gerência estrangeira. Essa indignação foi a mãe dos Mujahidin. Sem recursos e a necessidade de um preparo para a luta armada, esse suporte veio através do vizinho Paquistão, que ofereceu a base organizacional e estrutural através do financiamento norte americano.

     Penso também, ser ingenuidade acreditar que a União Soviética queria implantar um governo socialista nessa região. A União Soviética, que buscava se consolidar como potência, em um momento de bipolarização entre socialismo x capitalismo, era fundamental, dominar um território que lhe possibilitasse o desenvolvimento naval, já que URSS não tem mar e o Afeganistão seria uma região que garantiria o controle de outros territórios ao redor. Em tais circunstâncias, os Estados Unidos necessitava encontrar uma estratégia que não permitisse que a União Soviética despontasse como potência superior a ele. Todas essas relações devem ser consideradas e analisadas, para que possamos entender o papel do Taliban no game dos interesses imperialistas.

     Sem o controle do Afeganistão, os Estados Unidos buscou várias formas de ter esse acesso, estabelecendo uma relação de trocas com o Paquistão. Mas o que há por traz desse política entre esses dois países, além do terror diplomático e constante ameaça de invasão ao Paquistão? A concessão de bases militares aos Estados Unidos, as quais se integraram indianos, e tantas outras situações que levaram os Estados Unidos a contar com a possibilidade de que tinha o Paquistão em suas mãos, a injeção de capital norte americano nessas empreitadas em território paquistanês, foram elementos sabiamente usados pelos paquistaneses que,  muito embora concedesse facilidades aos EUA, ao mesmo tempo, ajudava na estrutura do Taliban com esse mesmo capital. Há muito mais coisas que não sabemos nessas relações de poder, do que se possa imaginar.

     Faremos um salto agora, haja vista que há muito a discutir e este pequeno e humilde trabalho, não dará conta de tal abrangência. Sem o controle do Afeganistão, os Estados Unidos tem, na ocasião do 11 de Setembro, a oportunidade de criar um pretexto para invadir o país. 

Sirajudin Haqqani

   Após o trabalho como agente da CIA, a figura de Osama Bin Laden, que pertence uma família riquíssima no Oriente, passa a integrar as lutas revolucionárias pelo islã. No momento desse contexto, Bin Laden encontravasse no Sudão, na trabalho de colaboração financeira para alavancar o país. Os Estados Unidos, que também queria um governo no Sudão, aliado a eles, buscava a trama para matar Bin Laden e articulava um golpe para colocar no poder um grupo que governasse o Sudão e lhe desse apoio e abertura neste território. A partir disso, Osama se retira para o Afeganistão, sob a proteção de Mulah Omar. No momento dos supostos ataques às Torres Gêmeas, Osama Bin Laden estava como hóspede do líder Taliban. 

     Os Estados Unidos pede a entrega de Osama e tem seu pedido recusado por Mulah Omar, o que se torna o pretexto ideal para planejar a operação Enduring Freedom, na qual as tropas norte americanas invadiram o Afeganistão e desmantelaram o país e o Taliban. Muitos combatentes do Taliban se incorporaram à sociedade como pessoas comuns, e os líderes passaram a viver na clandestinidade, ressurgindo em grupos de insurgentes.

     Durante todos esses anos de ocupação norte americana, o que se pode analisar, é que os Estados Unidos nunca teve o controle total da região. Os governos que sucederam a queda do Talibã e que foram colocados no poder pelos Estados Unidos, o que já derruba a visão de uma escolha democrática deste povo, não foram capazes de oferecer à sociedade afegã um desenvolvimento próspero e hoje se observa um Afeganistão arrasado, desemprego, miséria e desordem. Esses governos também não foram capazes de conquistar a confiança e acolhida de uma boa parte da população. Talvez seja possível entender por esse viés, a razão pela qual os movimentos de insurgência foram ganhando força gradativamente no país.  Entendo que, nenhum movimento de resistência se agiganta, sem apoio popular. 

     Essa insatisfação com o atual cenário e a percepção que sempre foi presente entre o povo pashtun, e isso está enraizado em seu código relacional social quanto à sua autonomia e resistência aos invasores, criaram as condições necessárias que levaram ao recrutamento de novos membros aos núcleos de resistência administrados pelo Taliban.

     Entendam que a discussão aqui, é uma proposta de análise sob a perspectiva de resistência ao imperialismo e não tem a intenção de negar os erros cometido pelo Taliban. Não se trata de santifica-los ou demoniza-los. É antes de tudo, uma leitura de que é possível resistir aos que desejam o controle de seu povo, o desmonte de sua cultura, a demonização de sua religião e milhares de outros ônus que o imperialismo obriga aos seus subjugados.

     Talvez, em maior instância, o Taliban tenha contribuído para que este mesmo imperialismo encontrasse espaço entre os seus. As mentes já colonizada no Afeganistão não deixa de ser um número expressivo. Penso que o próprio grupo é capaz dessa autocrítica e que os anos e o recrutamento de novos integrantes, foram elementos que corroboram para uma nova visão e estratégia do Taliban.

     Também é ingênuo pensar, que essa retomada do poder em agosto de 2021, não tenha sido fruto de muitas conversações. Mas no jogo geopolítico nesse momento, talvez não caiba o derramamento de sangue e a violência exacerbada. É preciso inteligência, cautela e estratégia para se consolidar novamente e perceber o que sua população espera sem se desvirtuar de sua religião e seus códigos. Um governo fortalecido e que não dá espaço à controles externos e defende suas riquezas da exploração do colonizador, precisa do apoio maciço de seu povo.

     A questão de gênero no Afeganistão, talvez tenha sido umas das munições mais fortes contra o grupo, em relação a opinião pública internacional. Após o episódio do 11 de Setembro, a religião Islâmica ficou evidenciada para o mundo como algo perverso. Isso trouxe à tona, as particularidades e características da base ideológica do Taliban, ao mundo. A interpretativa radical e deturpada da Sharia, que mais desfavoreceu as mulheres, proibindo-as de frequentar escolas e ao uso compulsório da burka, foi e é a grande tônica na negativização do Taliban para a opinião pública mundial. A ignorância mesclada com preconceito e ódio, levou o mundo a ver o islã, a partir desse recorte, desse país de muçulmanos. É fato que, o islã possui um modo diferente de estabelecer suas relações sociais, nas mais diversas instâncias, muito diferente do que há no Ocidente. No entanto, o islã sustenta a máxima de que, a busca pelo conhecimento deve tocar a todos os seus seguidores, sejam homens ou mulheres, e a negação ao acesso escolar para mulheres, fere esse princípio, assim como o uso da burka, que deveria configurar como uma escolha, já que o islã orienta guardar os corpos, sejam eles femininos ou masculinos.

     Analiso que, essas questões que são braços da proposta deste artigo, não podem descredenciar a luta destes homens por anos, contra as investidas imperialistas. É necessário fazer a crítica mas resguardando a separação dos erros e dos esforços empregados em uma gestão tipicamente afegã, sem o controle e a exploração de outro país.

     O atual cenário, nos sugere um contexto novo e que traz muitas informações que anunciam uma forte mudança na geopolítica dessas bandas de cá. A China agora, é o “cajado do profeta Moisés”, dividindo o mar para a passagem de um povo sob o domínio de outro. Será a China um caminho seguro aos países Islâmicos? Creio que não. No entanto, é preciso correr riscos para se fortalecer. Hoje a China propõe uma grande parceria com os países muçulmanos, principalmente o Paquistão. A partir dessa “parceria” será possível a formação de um bloco de cooperação econômica entre esses países, o que poderá fortalecer a economia dessas nações. O projeto da grande estrada que interliga vários países menores como Azerbaijão, Bangladesh, Afeganistão, entre outros, a partir do Paquistão, até a Turquia, para escoar mercadorias da China, dinamizará a economia desses países. Uma economia estruturada propõe um país fortificado e menos suscetível ao imperialismo. Isso também fortifica a sociedade e fortalece a religião. Claro que esses países ficam na observância do oportunismo chinês sempre. 

     O Taliban de hoje, tem ciência de toda essa trama. É necessário se abrir para criar raízes fortes e elevar o povo afegão. No tabuleiro temos a aproximação com a China e o apoio do Irã, antes um inimigo por questões político-religiosas, no tocando ao conflito com os xiitas. 

     Há alguns pontos que merecem esclarecimento e que estão presentes na mentalidade coletiva mundial no sentido negativo ao movimento Taliban. Um deles é a questão do tráfico de drogas. O tráfico de drogas sempre foi um grande negócio, gerido pelos Estados Unidos. Um negócio que movimentava 15 bilhões de dólares anuais e que muitos atribuíram ser um empreendimento do Taliban. As grandes fazendas com plantações de papoula movimentavam um imenso mercado com a venda de drogas produzidas a partir dessa planta. O principal mercado consumidor desse produto cujo fornecedor é os Estados Unidos, era América Latina e o Brasil estava entre seus compradores. Agora, as fazendas foram queimadas pelo Taliban.

     Muito se fala também que não foi uma vitória honrosa do Taliban, porque não houve uma guerra que dizimasse centenas de vidas e o que talvez custasse mais ódio ainda pelo mundo islâmico, já que as pessoas não tem ou não querem ter as informações necessárias para fazer suas considerações. O Taliban agiu no sentido de desgastar o governo e o controle imperialista dos Estados Unidos. Havia um acordo sim, uma vez que os Estados Unidos já não tinha mais condições de sustentar a invasão ao país. O acordo previa a libertação dos prisioneiros afegãos, a retirada das tropas, o exílio do ex presidente Ashraf Ghani.

     No atual momento, o Taliban discute sua nova estrutura e organização. Ainda não existe conformidade sobre os nomes definitivos no organograma gestor do país. Mas existe uma sólida proposta de uma administração mista, que oportunizará representatividade das tribos pashtun e de outras discidências Islâmicas, como xiitas. O nome mais forte para esse primeiro momento é Habaitullah Akhundzada.

     As informações trazidas aqui, são frutos de leituras das fontes empurradas de uma forma violenta, para a colonizada formação de nosso conhecimento, pois é a grande verdade: não sabemos muita coisa, pois a manipulação de informações, nos forma preconceituosos, com leituras de fontes produzidas por pela ótica dos que sofreram nesse contexto de opressão, a coleta de muitas conversas com indivíduos que são partícipes de movimentos anti imperialistas no Paquistão e que estiveram ao lado do Taliban, no combate ao inimigo comum e a minha fantástica experiência in loco.

     Dedico estas poucas palavras, diante da imensidão deste tema, ao meu pai Muhammad Iqbal Abid, ao meu esposo Muhammad Nauman Iqbal, homens libertadores e combatentes pelas justas causas de nossa religião, sempre dispostos às Jihads para a defesa dos nossos irmãos, ao movimento Khaksar Tehrik, que há de ser gigante neste mundo, levando ideias de equidade e justiça, numa perspectiva racional e Islâmica, à minha família no Brasil, de quem sinto imenso orgulho e saudade eternas de meu pai, aos amigos que fizeram seus contrapontos aos meus pensamentos de forma honrosa, respeitosa e política e aos amigos que comungam de minhas conexões de pensamento. Gratidão.

*Gilliam Nauman Iqbal é uma mulher muçulmana, feminista, ativista política e pró Palestina, formada em História pela Universidade Estadual do Maranhão, pós graduada em Sociologia das Interpretaçōes do Maranhão, povos e comunidades tradicionais, estudante de Foto-jornalístico pela Universidade Cruzeiro do Sul, Presidente do Instituto de Estudos e Solidariedade para Palestina Razan al-Najjar.

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