Os trabalhadores brasileiros vão se levantar?
Uma das questões políticas mais latentes na situação política do Brasil e do mundo é quando os trabalhadores entrarão em movimento.
Obviamente, a propaganda da burguesia é que isso nunca irá acontecer, que os brasileiros são pacatos e acomodados, que há a alienação, que é impossível romper com os aparatos do estado burguês e de controle do capital.
A “esquerda oficial” atua como parte dessa campanha e de modo consciente como mecanismo para direcionar o descontentamento e as lutas para a saída institucional ou para validar a “legitimidade” das “vitórias” e dos ataques da direita e do imperialismo.
No Brasil, esse processo ficou muito mais escancarado a partir de 2016 e ainda mais a partir de 2018 com as eleições que impôs o bolsonarismo numa das maiores fraudes da história do Brasil.
Por que os ataques contra os trabalhadores aumentam?
O principal motivo é que as engrenagens do capitalismo estão engasgadas, principalmente desde 2008.
A inundação do mercado mundial com crédito público e o repasse obsceno de recursos públicos às grandes empresas não conseguiram evitar o novo colapso que começou a acontecer desde o final de 2019.
A “pandemia” tem sido usada como um dos componentes da política atual, que tem componentes militares muito fortes, para “gerenciar” esta que é a maior crise capitalista de todos os tempos.
Os capitalistas enfrentam crescentes dificuldades para extrair lucros da produção. As leis do capital se encontram cada vez mais tensionadas. A especulação financeira, que foi convertida num dos componentes mais importantes da reprodução ampliada do capital, só cresce em cima dos repasses de recursos públicos, que desde março de 2020 têm se tornado obscenos.
O que coloca os trabalhadores em movimento?
O que coloca em movimento os trabalhadores é o aprofundamento da crise.
Uma revolução na Noruega, na Islândia, Mônaco ou na Suíça nas condições atuais é bastante improvável.
O sistema capitalista mundial é um todo integrado. O imperialismo tem a capacidade de desviar as tendências revolucionárias aos elos mais fracos da corrente capitalista mundial. Até agora as revoluções têm triunfado em países muito atrasados justamente por esse motivo. E também por causa dele esses países se burocratizaram e não conseguiram avançar em direção ao socialismo, que implica em quebrar a Lei do Valor.
A Outra Carta do Che Guevara a Fidel é muito clara a esse respeito. [ INCLUIR https://gazetarevolucionaria.com/a-carta-do-che-a-fidel-que-nunca-foi publicada/]
A novidade que nós temos no último período é a explosão de gigantescas mobilizações de massas em países “estáveis” como o Chile pinochetista, que era o modelo do imperialismo norte-americano para a América Latina junto com a Colômbia que é o ponto pilar desse modelo.
A burguesia busca impor como saída para sua crise a guerra
contrarrevolucionária e para isso precisa pacificar as sociedades por meio de ditaduras cada vez mais ferozes e o fascismo. Mas a contrarrevolução anda de mãos dadas com a revolução, e vice-versa.
A “esquerda” oficial pode enfrentar o massacre do Brasil?
Não. A “esquerda” oficial se encontra plenamente integrada ao massacre do Brasil operado pelo governo Bolsonaro que impõe o massacre do Brasil a mando dos grandes empresários e do imperialismo.
Desde 2017 a “esquerda” oficial não somente não organizou um único protesto nem sequer uma única greve importante; pelo contrário, se dedicou a quebrar todas as iniciativas nesse sentido.
No sábado 29 de maio, aconteceram manifestações pelo Fora Bolsonaro, fortemente direcionadas às eleições de 2022. Se tratou de uma saída institucional perante o temor de que no Brasil aconteça uma explosão social similar ao que aconteceu na Colômbia. Uma saída institucional para o crescente descontentamento social, dentro dos marcos do próprio governo Bolsonaro. A “esquerda” oficial atua abertamente a serviço das políticas aplicadas pelo Governo Bolsonaro.
O governo do Estado de Pernambuco (PSB/ PCdoB) reprimiu violentamente as manifestações contra Bolsonaro. O governo de Rui Costa (PT/ Bahia) aplica no estado a mesma política privatista do governo Bolsonaro.
A máfia sindical transformou os sindicatos em cartórios direcionados a negócios espúrios e tem sido instrumento das privatizações e dos ataques contra as condições de vida dos trabalhadores.
As “reformas” trabalhista e da Previdência Social, a PEC 186 que abriu o caminho para impor de maneira ainda mais dura a Lei do Teto contra os gastos sociais passou de lavada e sem que as direções oficiais convocassem um único protesto.
Recentemente aconteceu o assassinato de um trabalhador dos Correios, Ademir Souza (CTC Mocca/ São Paulo), que foi executado por um policial com três tiros, em horário de serviço e fardado. É a primeira vez que o assassinato de um trabalhador de uma empresa importante acontece em São Paulo desde a execução de Manoel Fiel Filho em 1977 pela polícia de Maluf. A máfia sindical e os partidos políticos oficiais o máximo que conseguiram produzir foi uma notinha simbólica de condolências.
A direitização da “esquerda” oficial é fulminante até porque ela própria se encontra em fase terminal a partir do processo em que ela se formou como produto da enorme pressão exercida pelo imperialismo para impor o chamado “neoliberalismo” na década de 1980 e que incluiu a queda do Muro de Berlim e da União Soviética.
A diferença entre um período não revolucionário e um período revolucionário
Conforme as palavras de Vladimir Ilich Lenin, o líder da Revolução Russa, um período revolucionário acontece quando “os de baixo não querem mais e os de cima não podem mais” viver como antes. Nessas condições, as massas são empurradas à revolução.
A política da “esquerda” oficial, e até de setores da esquerda "revolucionária'', é que não dá para fazer nada porque ainda estamos num período não revolucionário, os trabalhadores não protestam ou que não existe uma esquerda revolucionária.
Na realidade, um período não revolucionário, pré revolucionário e revolucionário não são totalmente puros.
As massas ainda não estão nas ruas no Brasil, mas a temperatura social só aumenta em cima do aprofundamento da crise e a desagregação do regime político.
A burguesia tenta conter a crise em cima do endurecimento do regime político e a implementação de métodos cada vez mais abertamente militares.
Mas o movimento de massas ainda não foi derrotado e tende a entrar em movimento em cima da brutalidade da pressão.
Quais serão as caraterísticas dessa explosão? Não sabemos, mas sabemos que os componentes que conduzem a ela se fortalecem e de maneira acelerada.
Quais são as tarefas colocadas para os revolucionários hoje?
Os revolucionários devemos atuar hoje nos preparando para atuar no ascenso de massas colocado a seguir.
Precisamos colocar em pé uma forte máquina de agitação e propaganda para funcionar como eixo da nossa ligação no movimento de massas.
Precisamos fortalecer a nossa organização para podermos atuar como organizações de combate, com a capacidade de organizar a luta dos trabalhadores em quaisquer circunstâncias.
Precisamos buscar a unidade com outros revolucionários em cima de políticas revolucionárias, deixando de lado cultos a personalidades do passado; ao mesmo tempo, precisamos aprender com as experiências do passado para colocarmos em pé a política revolucionária hoje.
Precisamos ter em mente o que aconteceu em 2013, quando a esquerda foi varrida das ruas pelos fascistas em três dias. Aprendamos com a experiência das “Primeiras Linhas” do Chile e da Colômbia, como mecanismos de autodefesa contra a brutalidade das forças repressivas.
Temos o dever de confiar nos trabalhadores e nas massas. E de desconfiar profundamente dos “conciliadores de classes”, burguesia e do imperialismo.
Devemos ousar, entendendo a política como a unidade da teoria e da prática. O marxismo é um guia para a ação (não um dogma) para organizar a luta dos trabalhadores e das massas para derrubar o capitalismo, expropriar a burguesia e estabelecer o poder dos trabalhadores e a propriedade social dos meios de produção, o socialismo.
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Nasce preocupado com os caminhos do proletariado em geral, porém, especialmente, com o brasileiro