Geração Sierra Maestra
é uma realização fantástica que perpassa cabeças e semeia sonhos desde 1959. Quem nasceu na segunda metade do século XX, viveu ou ainda vive sob a égide das imagens cinematográficas mostrando homens barbudos, cabeludos, esquálidos, ralados de escaramuças na guerrilha contra o exército mercenário a soldo estrangeiro.
Essa ação tinha dois propósitos, armar o povo e derrubar o ditador Fulgencio Batista, um títere dos EUA. Mas como tudo tem PORÉM, conta a história que mais da metade do efetivo morreu em combate. Fidel foi capturado, julgado e condenado a 15 anos de cadeia. No entanto, por ser advogado, ele mesmo fez a sua defesa, e seu pronunciamento resultou no livro A HISTÓRIA ME ABSOLVERÁ.
Porém, quando presenciamos RAUL CASTRO se despedindo dos congressistas, sentimos crescer nossas responsabilidades em manter erguida a bandeira de Cuba.
1957
Manifesto da Serra
[12 de junho de 1957]
Desde Sierra Maestra, onde nos reunimos no sentido do dever, fazemos este chamamento aos nossos compatriotas.
Chegou a hora em que a nação pode-se se salvar da tirania pela inteligência, o valor e o civismo de seus filhos, pelo esforço de todos os que sentem no interiormente o destino desta terra, onde temos direito a viver em paz e em liberdade.
A nação cubana é incapaz de cumprir seu alto destino ou recai a culpa da sua impotência na falta de visão dos seus dirigentes políticos públicos? Será que não se pode oferecer à pátria, na sua hora mais difícil, o sacrifício de todas as aspirações pessoais ou de grupo, por justas que pareçam, de todas as paixões subalternas enfim, de quanto sentimento mesquinho ou pequeno impediu de se por em pé, como um só homem, este formidável povo, desperto e heroico, que é o povo cubano? Ou o desejo vaidoso de um aspirante público vale mais que todo o sangue que custou esta república?
Nossa maior debilidade foi a divisão e a tirania, consciente disso, promoveu-a por todos os meios, em todos os aspectos. Oferecendo meias soluções, tentando ambições umas vezes, outras a boa fé ou ingenuidade de seus adversários, dividiu os partidos em frações antagônicas, dividiu a oposição política em linhas divergentes e, quando mais forte e ameaçadora era a corrente revolucionária, tentou enfrentar os políticos aos revolucionários, com o único propósito de bater primeiro a revolução e burlar os partidos depois.
Não era um segredo para ninguém que se a ditadura conseguia derrotar o baluarte da Sierra Maestra e sufocar o movimento clandestino, livre já do perigo revolucionário, não restava mais remota possibilidade de eleições honradas, no meio da amargura e o ceticismo geral.
Suas intenções ficaram evidenciadas, talvez demasiado cedo, quando através da segunda minoria senatorial, aprovada com escarnio da Constituição e zombando dos compromissos contraídos com os próprios delegados oposicionistas, tentava de novo a divisão e preparava o caminho das eleições. Que a Comissão Interparlamentar fracassou o reconhece o próprio partido que a propôs no Congresso; o afirmam categoricamente as sete organizações oposicionistas que participaram nela e hoje denunciam que foi uma zombaria sangrenta; o afirmam todas as instituições cívicas; e sobretudo, o afirmam os fatos. E estava chamada a fracassar porque se quis ignorar o rão d eduas forças que fizeram sua aparição na vida pública cubana: a nova geração revolucionária e as instituições cívicas, muito mais poderosas que qualquer capelinha. Assim, a manobra interparlamentar só podia prosperar a base do extermínio dos rebeldes. Aos combatentes da serra se oferecia apenas, nessa mesquinha solução, a cadeia, o exílio ou a morte. Jamais deveria aceitar discutir nessas condições.
Nesta hora, o único dever patriótico é a união. Unir é o que tem de comum todos os setores políticos, revolucionários e sociais que combatem a ditadura. O que têm de comum todos os partidos políticos de oposição, os setores revolucionários e as instituições cívicas? O desejo de por fim ao regime de força, as violações aos direitos individuais, os crimes infames e buscar a paz que todos desejamos pelo único caminho possível que é o direcionamento democrático e constitucional do país.
Os rebeldes da Sierra Maestra não queremos eleições livres, um regime democrático, um governo constitucional?
Lutamos desde 10 de março porque nos privaram destes direitos. Por deseja-los mais que todos estamos aqui. Para demonstrá-lo, aí estão nossos combatentes mortos na serra e nossos companheiros assassinados nas ruas ou presos nas masmorras das prisões; lutando pelo belo ideal de uma Cuba livre, democrática e justa. O que não fazemos é comungar com a mentira, a farsa e com acordos espúrios.
Queremos eleições,
porém, com uma condição: eleições
verdadeiramente livres, democráticas, imparciais.
Porém, pode haver eleições
livres, democráticas, imparciais com todo o aparato repressivo do Estado gravitando
como una espada sobre as cabeças dos oposicionistas? ¿A atual equipe governante depois de tantas zombarias ao povo pode dar confiança
a alguém, em umas eleições
livres, democráticas, imparciais?
Não é um contra sentido, um engano ao povo que vê o que está ocorrendo aqui todos os dias, afirmar que pode haver eleições livres, democráticas, imparciais, sob a tirania, a antidemocracia e a parcialidade?
De que vale o voto direto e livre, a contagem imediata e demais concessões fictícias se no dia das eleições não deixam votar ninguém e enchem as urnas com votos fraudados na ponta da baioneta?
Por acaso serviu a comissão de sufrágios e liberdades públicas para impedir o fechamento das rádios e as mortes misteriosas que continuaram sucedendo-se? Para que serviu até hoje as reclamações da opinião pública, as exortações à paz, o choro das mães?
Querem acabar com a rebeldia com mais sangue, com mais terror se quer por fim ao terrorismo, com mais opressão se quer por um ponto final ânsia pela liberdade.
As eleições devem ser presididas por um governo provisório, neutro, com o respaldo de todos, que substitua a ditadura para propiciar a paz e conduzir o país à normalidade democrática e constitucional. Esta deve ser a consigna de uma grande frente cívico-revolucionária que reúna todos os partidos políticos de oposição, todas as instituições cívicas e todas as forças revolucionárias.
Consequentemente, propomos a todos os partidos políticos oposicionistas, todas as instituições cívicas e todos os setores revolucionários o seguinte:
1] Formação de uma frente cívico-revolucionária com uma estratégia comum de luta.
2] Designar desde agora uma figura chamada a presidir o governo provisório, cuja eleição seja desinteressada pelos líderes oposicionistas e pela imparcialidade do que resulte eleito, ficando a cargo do conjunto de instituições cívicas.
3] Declarar ao país que, dada a gravidade dos acontecimentos, não há outra solução possível que a renúncia do ditador e a entrega do poder à figura que conte com a confiança e o respaldo majoritário da nação, expressado através de suas organizações representativas.
4] Declarar que a frente cívico-revolucionária não invoca nem aceita a mediação ou intervenção alguma de outra nação nos assuntos internos de Cuba. Que, em troca, respalda as denúncias que por violação dos direitos humanos feitas pelos emigrados cubanos ante os organismos internacionais e pede ao governo dos Estados Unidos que que suspenda todo envio de armas a Cuba enquanto se mantenha o regime de terror e ditadura.
5] Declarar que a frente cívico-revolucionária, por tradição republicana e independentista não aceitaria que governasse provisoriamente a república nenhum tipo de junta militar.
6] Declarar que a frente cívico-revolucionária alberga o propósito de separar o exército da política e garantir a intangibilidade dos organismos armados. Que os militares nada têm a temer do povo cubano e sim da camarilha corrompida que os envia para a morte numa luta fratricida.
7] Declarar sob formal promessa que o governo provisório celebrará eleições gerais para todos os cargos do Estado, as províncias e os municípios ao término de um ano sob as normas da Constituição de 1940 e o Código Eleitoral de 1943 e entregará o poder imediatamente ao candidato que seja eleito.
8] Declarar que o governo provisório deverá ajustar sua missão ao seguinte programa: A] Liberdade imediata para todos os presos políticos, civis e militares.
B]
Garantia absoluta
à liberdade de informação, à imprensa radial
e escrita e de todos
os direitos individuais e políticos garantidos pela Constituição.
C]
Designação de prefeitos provisórios em todos os municípios, previa consulta com as instituições cívicas da localidade.
D]
Supressão da malversação de fundos públicos
em todas sus formas e adoção de medidas que tendam a incrementar a eficiência de todos os organismos do Estado.
E] Estabelecimento da carreira
administrativa.
F] Democratização da política
sindical promovendo eleições livres em todos os sindicatos e
federações de indústrias.
G] Início imediato de uma intensa
campanha contra o analfabetismo e de educação
cívica, exaltando os deveres e direitos que tem o cidadão com a sociedade
e com a pátria.
H]
Sentar as bases para uma reforma
agrária que tenda a distribuição das terras baldias
e a converter em proprietários a todos os colonos, parceiros, arrendatários e precaristas que possuam pequenas parcelas de terra, sejam
propriedade do Estado ou particulares, com prévia indenização aos proprietários anteriores.
I] Adoção de uma política financeira sã que resguarde a estabilidade da nossa moeda e tenda a utilizar
o crédito da nação em obras reprodutivas.
J] Aceleração do processo de industrialização e criação de novos empregos.
Em dois pontos deste projeto temos que fazer uma insistência especial. Primeiro, a necessidade de que se designe desde agora a pessoa chamada a presidir o governo provisório da república, para demonstrar diante do mundo que o povo cubano é capaz de unir-se em pro de uma consigna de liberdade e apoiar à pessoa que, reunindo condições de imparcialidade, integridade, capacidade e decência, possa encarnar essa palavra de ordem. Sobram homens capazes em Cuba para presidir a república! Segundo, que essa pessoa seja designada pelo conjunto de instituições cívicas, por ser apolíticas essas organizações, cujo respaldo liberaria o presidente provisório de todo compromisso partidário dando lugar a umas eleições absolutamente limpas e imparciais.
Para integrar esta frente não é necessário que os partidos políticos e as instituições cívicas se declarem insurrecionais e venham a Sierra Maestra. Basta que lhe neguem todo respaldo a composição eleitoreira do regime e declarem ante o país, ante os institutos armados e ante a opinião pública internacional, que, depois de cinco anos de inútil esforço, de contínuos enganos e de rios de sangue, em Cuba não há outra saída que a renúncia de Batista, que já gravitou em duas etapas durante dezesseis anos nos destinos do país, e Cuba não está disposta a cair na situação de Nicarágua ou Santo Domingo.
Não é necessário vir a serra para discutir, nós podemos estar representados em Havana, no México ou onde seja necessário.
Não é necessário decretar a revolução: organize-se na frente que propomos e a caída do regime se dará por si só, talvez sem que caia um só pingo de sangue.
É preciso estar cego par não enxergar que a ditadura está em seus últimos dias. E que este é o minuto em que todos o cubanos devem colocar o melhor da sua inteligência e esforço.
Poderá haver outra solução no meio da guerra civil com um governo que não é capaz de garantir a vida humana, que não controla já nem a ação das suas próprias forças repressivas e cujas zombarias tornaram impossível a menor confiança pública.
Ninguém deve cair no engano da propaganda governamental acerca da situação da serra. A Sierra Maestra é um baluarte indestrutível da liberdade que se apossou do coração dos nossos compatriotas, e aqui saberemos honrar a fé e a confiança do nosso povo.
Nosso chamamento poderá ser desprezado, porém a luta não se deterá por isso e a vitória d o povo, ainda que muito mais sangrenta e custosa, ninguém poderá impedir. Esperamos, no entanto, que nossa apelação será ouvida e que uma verdadeira solução detenha o derramamento de sangue cubano e nos traga uma era de paz e liberdade.
*&*
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Nasce preocupado com os caminhos do proletariado em geral, porém, especialmente, com o brasileiro